30/06/2010

Balanço dos "Navegadores" na África do Sul

A selecção portuguesa quedou-se pelos "oitavos-de-final" no Campeonato do Mundo da África do Sul (2010). Quando se joga contra uma poderosa Espanha, temos de estar preparados para qualquer resultado. Neste caso, julgo que os "nuestros hermanos", para além de jogarem um futebol muito agradável, justificaram plenamente o triunfo.

Apesar disso, esta participação portuguesa deixou-me um grande amargo de boca, pois ocorreram uma série de episódios que não podemos ignorar. Desde as opções de Carlos Queiroz, até à falta de liderança que me pareceu notória, foram surgindo alguns indícios que evidenciaram que algo não estava bem no seio da "nossa" comitiva. A este respeito de nada me valerá esmiuçar dramas ou polémicas. Deixarei esse capítulo para os jornalistas. Farei, isso sim, uma breve análise individual da prestação de cada um dos jogadores que integrou a selecção nacional no evento.

Foto: Equipa inicial no Portugal - Coreia do Norte (7-0).

1) Eduardo: Um dos melhores da equipa neste Mundial. Esteve seguro entre os postes e mostrou que, de facto, merece ser o n.º 1 da selecção portuguesa. Para mim, foi o melhor elemento do jogo no confronto com a Espanha.

2) Bruno Alves: O defesa central do FC Porto revelou bastante competência nas suas missões defensivas, jogou prático e não comprometeu nas acções de construção de jogo. Ofensivamente, não foi aproveitado em situações de bola parada.

3) Paulo Ferreira: Apenas jogou a Costa do Marfim. É competente a defender, embora apresente algumas limitações na exploração do corredor em processo ofensivo. Acredito que a sua inclusão no onze diante da Espanha fosse benéfica para a equipa portuguesa.

4) Rolando: Não jogou no Campeonato do Mundo de 2010.

5) Duda: É um bom jogador, mas não o suficiente para integrar uma selecção nacional. Não tem competência para jogar a lateral esquerdo. Frente ao Brasil mostrou que é um jogador perfeitamente banal e que não acrescenta nada a Portugal.

6) Ricardo Carvalho: Um senhor no eixo do sector defensivo. A sua capacidade de "ler" o jogo é sublime. Além de interceptar e de desarmar como nenhum outro na equipa, inicia a etapa de construção de jogo, invarialvelmente, de forma acertada. Na minha opinião, é o jogador "mais-que-perfeito" para ser o capitão da equipa.

7) Cristiano Ronaldo: A decepção! A solidariedade do jogador para com os companheiros é precária. Deixou, sistematicamente, a Espanha usufruir de situações de 2x1 nos corredores laterais, porque nunca apoiou os defesas laterais. Nas inúmeras bolas paradas que só ele marcou foi totalmente inconsequente. Com equipas de maior calibre, em que é fulcral jogar apoiado e procurar combinações tácticas rápidas com os companheiros de equipa, recorreu preferencialmente a soluções individuais. Não tem perfil para ser o capitão de equipa.

8) Pedro Mendes: Uma surpresa agradável. É um jogador muito interessante na cobertura dos espaços no sector intermediário. Peca ao não conceder profundidade ao jogo da equipa, pois utiliza bastante o passe lateral. Ainda assim, julgo que é melhor opção para a posição 6 do que o Pepe.

9) Liedson: Contra a Costa do Marfim foi antecipado em 90% das situações em que foi solicitado. Marcou um golo de plena oportunidade perante a pior equipa do Mundial. Não concordo com a sua inclusão na selecção portuguesa. É tempo de procurar um substituto para este jogador.

10) Danny: Esperava muito mais do jogador no Mundial. Não passou mesmo de uma "promessa adiada". As suas características tornam-o mais competente em zonas interiores. A jogar sobre os corredores laterais pouco faz uso da sua habilidade para desequilibrar o sector defensivo adversário.

11) Simão: Não é o jogador que estavamos habituado a ver no SL Benfica. Já não é tão rápido como de antes e, por isso, não arrisca tanto nas situações de 1x1. Necessita de jogar mais apoiado e, face ao estilo de jogo adoptado, acabou por perder preponderância na equipa.

12) Beto: Não jogou no Campeonato do Mundo de 2010.

13) Miguel: Em primeiro lugar, parece-me que precisa de perder uns quilos. Depois do jogo com a Coreia do Norte, não percebi porque não figurou no onze contra a selecção canarinha. Com a sua idade, pode muito bem ter sido a despedida da equipa de Portugal. Jogadores com o José Bosingwa ou o João Pereira são, sem dúvida alguma, os mais indicados para preencher a sua vaga.

14) Miguel Veloso: Não foi um jogador muito utilizado, mas apresenta competência para actuar na selecção portuguesa. É exímio no passe, remata muito bem de longe e possui uma capacidade de leitura do jogo acima da média. Deve melhorar as suas acções defensivas para poder chegar ao topo do futebol mundial.

15) Pepe: Não acrescentou nada à "nossa" equipa. A sua chamada para o Mundial 2010 foi extremamente forçada, pois não se pode exigir a um jogador que, após seis meses de ausência, compita na maior competição internacional sem adquirir o ritmo e a confiança necessárias para estar a 100%. No sector intermediário não é uma mais valia para a equipa em processo ofensivo. Falta-lhe qualidade no passe e criatividade para poder ser útil depois de recuperar a posse de bola.

16) Raúl Meireles: Confesso que não sou um apreciador nato deste jogador. Na minha perspectiva, falta-lhe criatividade e capacidade técnica para ser um jogador fantástico. Apesar disso, admiro a sua verticalidade, a simplicidade com a aborda as diversas situações de jogo e o modo como cumpre as suas missões tácticas. A sua prestação foi bastante positiva.

17) Rúben Amorim: Jogou pouco mais de cinco minutos com a Costa do Marfim. Nesse período foi dos poucos que tentou realizar combinações tácticas ofensivas, no intuito de desequilibrar a organização defensiva adversária. É um jogador polivalente e que pode ser muito útil para a selecção nacional no futuro.

18) Hugo Almeida: Gostei do seu trabalho. É um avançado batalhador, que aparece muito bem na grande área e quando tem que defender, fá-lo sem problemas. Embora não seja um atacante de excelência, é dos melhores que temos por Portugal. Creio que o motivo da sua saída contra a Espanha se prende com a inoperância do Cristiano Ronaldo em fechar o corredor que ocupava, daí passar a vedeta do Real Madrid para o meio e entrar o Danny para a esquerda.

19) Tiago: O melhor do meio-campo no Mundial. É um jogador talentoso, que aparece facilmente em zonas de finalização e o que melhor soube procurar a bola e dar continuidade ao processo de construção do jogo da equipa. A selecção não pode abdicar da qualidade e da inteligência deste jogador.

20) Deco: O "flop" da equipa. A época e as declarações que fez não justificaram em nada a sua chamada para o Mundial. Já não é metade do que era. Adeus, obrigado e até sempre.

21) Ricardo Costa: O jogador não tem culpa de o colocarem a jogar a lateral direito. Não tem rotinas na posição, sentiu imensas dificuldades perante o David Villa e, simplesmente, não dá profundida à equipa pelo seu corredor. A antítese do que deve ser um lateral moderno. Permitam-me uma ironia; a sua expulsão coroou os belíssimos desempenhos que efectuou na equipa nacional.

22) Daniel Fernandes: Não jogou no Campeonato do Mundo de 2010.

23) Fábio Coentrão: A revelação! A par de Eduardo e Ricardo Carvalho foi dos melhores portugueses na África do Sul. Extremamente eficaz nas missões defensivas e muito competente nas suas acções ofensivas. Ao invés do Ricardo Costa é o exemplo do que deve ser um lateral moderno.

Estas apreciações são puramente subjectivas e resultam das minhas observações enquanto espectador de futebol. Não estou à espera que sejam consensuais com outras perspectivas, nem tão pouco imagino que alguma vez venham a ser lidas por alguém responsável pela equipa. Ainda assim, devo ressalvar que, de acordo com a oposição que Portugal teve, chegar aos "oitavos-de-final" não deve ser encarado como um escândalo. No seu trajecto de quatro jogos, a "nossa" formação encontrou apenas as duas selecções melhores cotadas pela FIFA: Brasil e Espanha.

Meus caros, contigências do sorteio.

26/06/2010

As bolas paradas do Cristiano no Mundial 2010

Entre outras opções estratégicas que me fizeram confusão no recente duelo Portugal 0 - 0 Brasil, o modo como a selecção nacional executou as bolas paradas no meio-campo ofensivo ficou no topo da minha incompreensão. As situações de bola parada são frequentemente decisivas em jogos desta natureza (i.e., equilibrados), por isso, é missão da equipa técnica explorar soluções para tirar o máximo proveito dessas circunstâncias.

Foto: Cristiano volta a marcar posição para ser ele a bater o pontapé livre.

Será que colocar o Cristiano Ronaldo, jogador que na minha opinião trabalha mais para a sua imagem do que para a equipa, a bater pontapés livres directos a 40 metros da baliza é a melhor solução? Qual a probabilidade de fazer um golo ao Júlio César desta distância? Decerto que é muito reduzida. Provavelmente, se a "equipa-de-todos-nós" tivesse procurado efectuar cruzamentos para o interior da grande área brasileira, onde poderiam aparecer jogadores como o Bruno Alves, Pepe, Ricardo Carvalho, Ricardo Costa ou o próprio Cristiano Ronaldo, talvez se tivesse criado melhores situações de finalização, ao invés de vermos a bola, invariavelmente, na sua trajectória para a bancada.

Os interesses individuais não se podem sobrepor ao colectivo e essa é, na minha perspectiva, um factor que a selecção nacional vai ter de contornar se quiser ultrapassar a Espanha. Não podemos ver o Cristiano Ronaldo somente a atacar e deixar as tarefas defensivas para os demais colegas de equipa, como também não podemos ver o "capitão" amuado pelo facto de a equipa técnica não o deixar bater todos os pontapés livres, a partir do meio-campo para a frente, directamente para fora.

Que fique bem claro que não tenho nada contra o Ronaldo. É um jogador espectacular e muito importante na equipa. Contudo, não concordo que seja o capitão (a braçadeira ficaria melhor entregue ao Ricardo Carvalho), que não cumpra tarefas defensivas e que marque todo e qualquer pontapé livre no sector ofensivo só porque já foi eleito o FIFA World Player of the Year.

13/06/2010

Futebol 11: Um regresso ao passado

Na entrada do século XXI, a maioria das associações regionais de futebol adoptou o Futebol 7 como o contexto competitivo primordial para os escalões de formação de base. Tarde se percebeu que o Futebol 11 era uma situação competitiva que apresenta inúmeras desvantagens para a formação de crianças/jovens na modalidade: o número de vezes que os aprendizes intervêm sobre a bola é reduzido, o número de remates executados é irrisório, a construção de jogo fica extremamente dependente das capacidades físicas dos miúdos mais desenvolvidos, entre outras. Até na marcação de pontapés de canto é vulgar observar um jogador a levantar a bola para outro chutar para o interior da grande área.

A perspicácia e a sensatez de alguns ilustres e a força das conclusões de investigações no âmbito na análise do jogo nos jogos reduzidos, permitiu compreender que o Futebol 7 seria a condição de jogo mais favorável para a aquisição e o aperfeiçoamento de competências táctico-técnicas específicas na base da pirâmide evolutiva da formação. Esta forma competitiva possibilita que as crianças/jovens se relacionem mais com a bola em contexto de jogo, efectuem um maior número de acções de finalização e se envolvam com maior frequência em missões defensivas.

Foto da autoria de Pedro Inácio.

É, portanto, uma variante de jogo adaptada às características dos jovens praticantes e que augura um maior potencial formativo. A própria dinâmica do jogo é muito mais aproximada à observada no jogo de Futebol 11 dos adultos. Apesar disso, e negligenciando todas as evidências teóricas e empíricas existentes sobre a matéria, alguns técnicos e dirigentes pertencentes à Associação de Futebol do Algarve acharam "interessante" e "benéfico" voltar a propor o Futebol 11 aos clubes inscritos no escalão de Infantis (Sub-13). Segundo apurei, o pretexto na base da proposta relacionou-se com a "maior facilidade de adaptação dos jovens ao Futebol 11".

Na minha perspectiva, não é mais do que queimar etapas no processo de formação, fomentando a especialização precoce. É importante que se entenda que a formação não se faz no curto prazo; é preciso tempo para adquirir, desenvolver e consolidar competências. Do escalão de Infantis (Sub-13) até aos Juniores (Sub-19) é tempo mais do que suficiente para que os jovens se adaptem às exigências do Futebol 11. Felizmente, parece que a proposta preconiza a opção de continuar a competir no Futebol 7 para os clubes que assim o entendam. Haja alguma ponta de bom senso no meio deste retrocesso.

Do mal, o menos!