17/06/2013

São detalhes destes que me deslumbram no futebol

Este “pormenor” de Francesc Fàbregas na assistência para Soldado.

  Vídeo: Golo de Soldado (32'), no jogo entre Espanha e Uruguai, para a Taça das Confederações 2013.

Explorou o espaço vazio no meio-campo ofensivo e recebeu a bola. Progrediu no terreno com critério, lendo permanentemente o jogo. Em drible, muda de direção e acelera a progressão. Depois vem a simulação, atraindo somente (!) os dois centrais uruguaios, e executa o magnífico passe de rutura para o seu avançado. Não precisou de “olhar”, mas sabia que Soldado estava lá… e em jogo. Deliciosamente genial.
 
Gracias Fàbregas!

10/06/2013

Aprendizagem de bolas paradas no futebol juvenil: O caso dos pontapés de canto

As situações de bola parada, também designadas de situações fixas ou estáticas do jogo, são determinantes para o desfecho final de inúmeras partidas. Este é um facto que parece ser unânime entre treinadores, jogadores e investigadores da modalidade. Por exemplo, Yiannakos e Armatas (2006) comprovaram que 35.6% dos golos marcados no Euro 2004, que decorreu em Portugal, resultaram de bolas paradas (pontapés de canto, pontapés livres, grandes penalidades e lançamentos laterais). Da totalidade dos golos obtidos de bola parada, a maior percentagem (40%) foi concretizada através de pontapés de canto. Deste modo, estas situações fixas do jogo, neste texto com especial referência aos pontapés de canto, não devem ser negligenciadas no processo ensino-aprendizagem da modalidade de futebol junto dos mais jovens.

Não é invulgar o debate entre treinadores acerca de como ensinar as crianças/jovens a lidar, ofensiva e defensivamente, com os eventos de bola parada. Há quem treine, repetida e exclusivamente, bolas ao segundo poste, com a “entrada” do melhor cabeceador nessa zona; há quem refira que o melhor é “sair a jogar curto”, cabendo depois a decisão ao portador da bola de dar sequência à jogada; há quem treine n “sinais” que desencadeiam situações padronizadas com vista à obtenção do golo. Pessoalmente, não sigo estritamente nenhuma das opções anteriores, mas dou azo a que aconteça um pouco de todas, através da descoberta guiada.

O exercício é simples: formar duas equipas e conceder três pontapés de canto, de cada lado, a cada uma delas. Seis situações ofensivas e seis situações defensivas. Antes do “jogo do canto”, deixo as equipas reunirem para, entre os seus elementos, decidirem como defender (zona, individual ou mista) e como atacar (com ou sem sinais, bola longa, bola curta, jogada combinada, etc.). No final do exercício tiramos em conjunto as devidas ilações, no sentido de potenciar os aspetos positivos e corrigir os negativos. As crianças/jovens são induzidas a aprender aspetos estratégicos do jogo, ao mesmo tempo que estimulam a sua criatividade e lidam com circunstâncias contextuais imprevistas. Posteriormente, o treinador tem a missão de resumir toda a informação num quadro de ações coletivas (abertas ou fechadas), passíveis de representarem a sua filosofia do jogo e as convicções dos seus jovens praticantes.

Há sensivelmente dois anos, no dia 12 de junho de 2011, os miúdos que treinava no JD Monchiquense colocaram em prática as nossas ideias. Houve sinal, houve “bola curta” e, ao primeiro minuto de jogo, passaríamos a vencer a final de um torneio infantil de futebol 7. Mais importante do que o resultado da partida, foi demonstrarem todo o seu entendimento do jogo num contexto de elevada tensão. Eis a memória em vídeo e esquematizada:

 
Esquema: Sequencialização dos comportamentos coletivos que determinaram o golo de pontapé de canto na final do Torneio Infantil das Eiras, em junho de 2011 (p. f., clique na imagem para ampliar).

Começou com uma sinalética para chamar o jogador situado ao primeiro poste (10). O jogador 10 poderia “rodar” sobre o adversário direto, guardar a bola ou devolver ao jogador 4. Decidiu devolver ao marcador do canto que, após a combinação tática direta, poderia cruzar, rematar de pronto ou driblar para dentro para enquadrar com a baliza e obter melhor ângulo de remate. Tomou a última opção e fê-lo com sucesso. Entretanto, os jogadores no interior da área optaram por abrir linhas de passe ao jogador 4, fora da grande área. A meu ver, um erro. Um dos dois deveria ter ficado no interior da área e procurado a recarga, caso o guarda-redes defendesse de forma incompleta.

É neste âmbito que eu entendo a descoberta guiada como um meio muito enriquecedor para o ensino/aprendizagem do jogo, incluindo as bolas paradas e, em particular, os pontapés de canto. Certamente que não é exclusivo no que implica à obtenção de êxito (formativo), nem o único digno de referência, mas é muito oportuno, sobretudo nos escalões de formação de base.

Referência
Yiannakos, A., & Armatas, V. (2006). Evaluation of the goal scoring patterns in European Championship in Portugal 2004. International Journal of Performance Analysis in Sport, 6(1), 178-188.