26/09/2013

Cada Carvalho no seu Jardim

A capa do dia de hoje – 26 de setembro de 2013 – do jornal Record traz-nos o seguinte:

Imagem: Excerto da capa do jornal Record de 26-set-2013 (fonte: www.record.xl.pt). 

Depois de alguns casos de “jogador-treinador” no futebol profissional, agora chega a versão “presidente-treinador”. Admiro-me como é que um treinador como o Leonardo Jardim é complacente com isto. Qualquer dia, alegando “redução da despesa”, temos o presidente Bruno de Carvalho (com o seu título de treinador de futebol – Grau I) a acumular funções no clube.

Diz o povo que se quer “cada macaco no seu galho”. No contexto em análise, para que o novo projeto do Sporting CP continue a funcionar convenientemente e a dar os seus frutos, creio que o mais adequado será mesmo colocar “cada Carvalho no seu Jardim”.

24/09/2013

Crime e castigo no país dos brandos costumes (2011)

Um livro de Pedro Almeida Vieira, editado pela Editorial Planeta.
  
Imagem: Capa de "Crime e castigo no país dos brandos costumes", de Pedro Almeida Vieira (2011; fonte: www.wook.pt).

Sinopse
No jardim à beira-mar plantado chamado Portugal consta que sempre viveu um povo sereno e de brandos costumes. Este livro vai desfazer o mito. Na verdade, a História de Portugal mostra que, desde tempos remotos, homens e mulheres mataram por paixão ou por motivos fúteis, bandidos semearam o pânico, houve serial killers, violadores e facínoras da pior espécie, ladrões de igrejas e hereges. Muitos sofreram depois, no corpo, as consequências dos seus actos, perante um Estado que então aplicava a lei de talião: - olho por olho, dente por dente.

E fossem as penas o garrote, a forca ou a fogueira e os facínoras da atualidade não se passeariam tão voluptuosamente por entre nós. Haveria certamente exemplos mais dissuasores para os prevaricadores ou potenciais criminosos, ainda que menos dignos para a condição humana. Que tal cortar as mãos e queimá-las para bom ladrão ver, antes de ter de lidar com a morte na forca? Ainda assim, a dita “lei de talião” também serviu inúmeros interesses muy nobres. Condenou-se à morte uma série de inocentes, que não eram propriamente pobrezinhos, sendo os seus bens e património confiscados pela Coroa e com a "bênção" das mais altas instâncias cristãs. Homens de Deus na pele de inquisidores

Ao longo de trinta narrativas – interessantíssimas, por sinal – pude aprender um lado diferente da História de Portugal. A interpretação dos acontecimentos retratados possibilita-nos adquirir uma noção da dinâmica evolutiva da justiça no nosso país. Em tempos de crises financeiras, económicas e, acima de tudo, de valores, nada melhor que nos recordarmos que piores eras já passaram. Para bem dos nossos pecados, não foi por isso que Portugal deixou de existir e a (jovem) humanidade de evoluir.

09/09/2013

Nenhum olhar (2000)

“O romance (…) que consagrou José Luís Peixoto nacional e internacionalmente”. Um enredo numa aldeia do Alentejo. Uma realidade com décadas, talvez séculos. Homens e mulheres batidos pelo trabalho, pela solidão, pelo sofrimento e abatidos pela morte. A esperança parece não existir e a alegria só a raros espaços. As personagens são vazias de tudo e cheias de nada. A atmosfera é densa, pesada. O destino resume-se à negrura da morte, ao colapso da vida pela dor, pela ausência do olhar.

Imagem: Capa de Nenhum Olhar de José Luís Peixoto ( fonte: www.quetzaleditores.pt ).

Os homens são uma parte pequena do mundo, e eu não compreendo os homens. Sei o que fazem e as razões imediatas do que fazem, mas saber isso é saber o que está à vista, é não saber nada.” (p. 81)

Penso: talvez haja uma luz dentro dos homens, talvez uma claridade, talvez os homens não sejam feitos de escuridão, talvez as certezas sejam uma aragem dentro dos homens e talvez os homens sejam as certezas que possuem.” (p. 120)

E morro devagar. Dissipo-me em cada gesto deste mundo que não me pode oferecer mais nada. Tornei-me uma sombra de mim. Tornei-me uma sombra de uma sombra de uma sombra de mim. Dissipo-me no tempo e no silêncio.” (p. 182)

A terra nunca mais. Tenho pressa. Tudo me espera onde não existo. Nada existe onde não estou e não estou em nenhum lado.” (p. 216) 

03/09/2013

Meia carta no baralho

“Já chega!”. Um desabafo pesaroso que traduz um corpo e uma mente por vezes em ponto de saturação. Se fosse uma carta, estaria a colocar-me fora do baralho. Porém, como qualquer baralho de cartas, o todo perde sentido sem um dos seus elementos constituintes. O todo torna-se obsoleto, em algo desprovido de significado. Só o todo tem força, só o todo é funcional, só o todo pode… efetivamente.

Imagem: O baralho é o todo; somente o todo é funcional.

Se não dou tudo é porque não posso, porque o dia é um artifício que não se estica para além das 24 horas. Dou o que posso e como posso pelo todo e por aquilo que o faz mover: a identidade, o sentimento de pertença e a paixão pelo jogo. Agora sou apenas meia carta, mas não me excluo do baralho. Acredito, porque o todo, afinal, ainda pode fazer sentido e, desta forma, ir a jogo.