Quem está minimamente familiarizado com o futebol conhece algumas pérolas jornalísticas de comentadores, analistas ou pseudo-analistas. Por força da estação do ano em que estamos emerge frequentemente uma apreciação impregnada de vulgaridade e de incorrecção.
No calor do jogo é uma delícia constatar que "(...) quando a bola toca no relvado [molhado] ganha velocidade". O que faria Newton se ouvisse esta afirmação?
Em primeiro lugar, a bola (em trajectória aérea) está sujeita à acção da força gravítica (direcção vertical; sentido de cima para baixo), pelo que se "ganhar velocidade" será sempre em trajectória descendente. Porém, quando a bola toca no relvado gera-se uma força natural resultante do contacto mecânico entre os dois corpos (bola e solo): o atrito. O atrito depende das características das partículas que compõem as superfícies em contacto, da força normal entre os dois corpos (i.e., força que tende a fazer com que uma superfície penetre na outra) e da massa do(s) corpo(s). A fricção inerente ao atrito determina que haja a dissipação de energia sob a forma de energia térmica, ou seja, a bola ao tocar no relvado, esteja molhado ou não, tende sempre a perder energia cinética e a diminuir a sua velocidade.
Deste modo, podemos concluir que a bola quando toca no relvado molhado não ganha velocidade, mas, devido à alteração das características das superfícies de contacto, perde menos velocidade ou sofre uma menor desaceleração. Não sei de fará, empiricamente, muito sentido, mas estou convicto que esta explicação desmistifica a erroneidade patente num comentário estranhamente usual.