11/01/2010

Insólito (ou talvez não!)

A CAN Angola 2010 iniciou-se ontem com o jogo Angola 4 - 4 Mali. Por si só, o número de golos marcados na partida não é muito vulgar, porém a marcha do marcador foi ainda mais hilariante. A selecção da casa, orientada pelo português Manuel José, esteve a vencer (4-0) até ao minuto 79. Pois foi! Deixou-se empatar em pouco mais do que 11 minutos.


Esta enorme decepção para o povo angolano e para todos aqueles que, como eu, torcem por Angola nesta competição, levanta uma questão essencial: Quando em vantagem no marcador, qual a melhor forma de manter/segurar um resultado positivo?

Obviamente que não há receitas ou fórmulas mágicas. Depende de muitos factores (e.g., qualidade da equipa adversária, fadiga, capacidade de decisão e execução, controlo emocional dos jogadores, leitura do jogo, experiências passadas e pensamento do treinador, plano estratégico-táctico empregue, entre muitos outros). No entanto, em Portugal fomenta-se aquilo que eu designo de "mentalidade da retranca", isto é, quando em vantagem, tira-se um avançado e coloca-se um defesa central ou um médio de características mais defensivas, defende-se no sector mais recuado e concede-se toda a iniciativa de jogo à equipa contrária. Simplesmente, ao possibilitar que a formação adversária construa jogo e aumente o número de sequências ofensivas, está-se concomitantemente a aumentar a probabilidade de sofrer um golo.

Circula por aí uma "velha máxima" que reza que "a melhor defesa é o ataque". Eu reformularia e diria que "a melhor defesa é o ataque criteriosamente gerido", ou seja, que não implica apenas procurar desalmadamente o golo, mas que manifeste algumas cautelas com possíveis relançamentos do processo ofensivo oponente. O mister Manuel José no final do jogo mostrou-se profundamente desiludido porque pediu aos jogadores que trocassem a bola de pé para pé nos últimos minutos e estes não o conseguiram fazer. Pelo aquilo que me deu a perceber, não só não mantiveram a posse de bola, como não atacaram, como ainda não saíram do seu sector defensivo. Embora a intenção do treinador fosse a manutenção da posse de bola (só ao alcance de equipas de altíssimo nível competitivo), o comportamento colectivo da selecção angolana serviu os interesses da "mentalidade da retranca". Por vezes resulta; ontem não foi o caso.

Por isso, digo e afirmo: insólito, ou talvez não!

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