O Desporto de Alta Competição não é propriamente um apelo à saúde, nem ao bem-estar físico ou psicológico. Nos bastidores da formação dos jovens que dia se sagraram campeões olímpicos, mundiais ou europeus, muitas são histórias de "casos falhados", com mazelas físicas e psicológicas para o resto da vida.
No fim-de-semana passado, ao passar os olhos pelo livro de Jacques Personne "Nenhuma medalha vale a saúde de uma criança" (1991), dei-me conta de uma realidade, que sabia ser cruel, mas não tanto. Os métodos utilizados para formar os grandes campeões, ainda num passado recente (décadas 80 e 90 do séc. XX), podem e devem ser questionados do ponto de vista da integridade do ser humano. Aludindo ao exemplo da ginástica desportiva, inúmeras são as lesões que uma criança contrai durante a sua formação, derivado ao elevado stress mecânico sobre as estruturas osteo-articulares e musculares.
Neste âmbito, e sendo a ginástica um caso extremo de efeitos nefastos sobre os jovens quando se busca a perfeição técnica no mínimo período de tempo, corro o risco de generalizar ao afirmar que nenhum desporto de alta competição prima pela saúde dos seus intervenientes directos - os atletas. O objectivo constante de rendimento é antagonista ao conceito de saúde que habitualmente é procurado na prática desportiva ou actividade física de lazer. O stress físico e psicológico a que os grandes atletas estão sujeitos, induzem a curto, médio ou longo prazo lesões crónicas capazes de se manifestar por toda a vida.
O alerta foi dado há muitos anos pela Academia Nacional de Medicina (França), porque muito mais que formar "animais para concurso", é a obrigação de zelar, através do processo de treino, pelo bem-estar geral da criança, salvaguardando a sua integridade no presente e para o futuro.