Nota prévia: O artigo
científico alvo da presente síntese foi selecionado em função dos seguintes
critérios: (1) publicado numa revista científica internacional com
revisão de pares; (2) publicado no último trimestre; (3)
associado a um tema que considere pertinente no âmbito das Ciências do
Desporto.
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Autor: Karahan,
M.
País: Turquia
Data de publicação: 26-junho-2020
Título: Effect
of skill-based training vs. small-sided games on physical performance
improvement in young soccer players
Revista: Biology
of Sport
Referência: Karahan, M. (2020).
Effect of skill-based training vs. small-sided games on physical performance
improvement in young soccer players. Biology
of Sport, 37(4), 305–312. https://doi.org/10.5114/biolsport.2020.96319
(link)
Figura 1. Informações editoriais do artigo do mês 8 – agosto de
2020.
Apresentação do problema
Os jogos desportivos coletivos (JDC), como o futebol,
são, por natureza, intermitentes no que respeita ao esforço realizado. Neste
sentido, os jogadores devem possuir qualidades físicas bem desenvolvidas, tal
como a capacidade de mudança de direção, a velocidade e as potências aeróbia e
anaeróbia.
Diversos modelos de treino têm sido utilizados para
melhorar o desempenho físico no futebol, contudo, estes serão tanto mais
eficazes se forem compatíveis com a execução de ações técnicas e táticas
específicas da modalidade. Quando bem conceptualizados, tanto os jogos reduzidos
e/ou condicionados, como os exercícios técnicos em alta intensidade, podem
promover incrementos qualitativos, em simultâneo, nas componentes técnica,
tática e física dos praticantes. Recentemente, estes dois tipos de atividades
têm sido amplamente propostos pelos treinadores. Por um lado, os jogos
reduzidos constituem uma estratégia efetiva de treino integrado, induzindo
também efeitos positivos em subcomponentes da condição física (Hammami et al.,
2018); por outro lado, os exercícios técnicos (figura 2) são considerados
especialmente efetivos para a aquisição de ações motoras específicas em jovens jogadores não especializados, ou para refinar e maximizar habilidades
técnicas noutros praticantes mais experientes e/ou de nível mais elevado.
Inclusive, estudos noutros JDC (andebol, basquetebol, futsal e voleibol) têm
vindo a demonstrar que os exercícios técnicos em alta intensidade promovem
melhorias significativas no sprint de 20 metros, na agilidade e em indicadores
de potência aeróbia e anaeróbia (Karahan, 2012; Süel, 2015).
Figura 2. Jovem praticante empenhado num exercício técnico –
“skill-based training” (imagem não publicada pelo autor; fonte: dtsnewjersey.com)
No quadro de uma abordagem de desenvolvimento individual,
os exercícios técnicos podem ter um efeito significativo nas componentes técnica
e física, quando uma determinada dose de intensidade é alcançada (Dellal et
al., 2012) e, fundamentalmente, se a conceptualização for direcionada a jovens
praticantes, ainda não especializados numa dada modalidade desportiva. Até à
data, embora se saiba que os jogos reduzidos e os exercícios técnicos em alta
intensidade produzem efeitos positivos na performance física dos praticantes,
nenhum estudo avaliou qual dos dois tipos de atividade pode ser mais eficaz. O
objetivo do estudo foi determinar os efeitos de dois regimes de treino (small-sided
games vs. skill-based) em diversas subcomponentes da condição física
(sprint de 20 metros, altura do salto vertical, capacidade de mudança de
direção, força explosiva, VO2máx e potência anaeróbia) e compará-los
quanto à sua eficácia.
Materiais e Métodos
Participantes: 24 jovens
praticantes de futebol, pertencentes à mesma equipa e competindo a nível
amador, foram aleatoriamente distribuídos por dois grupos de intervenção: jogos
reduzidos (small-sided games – SSG: n = 12, idade: 15.4 ± 0.6
anos) e exercícios técnicos em alta intensidade (skill-based training –
SBT: n = 12; idade: 15.3 ± 0.3 anos).
Procedimentos: o
estudo de design longitudinal, randomizado e controlado, decorreu em paralelo
para os 2 grupos de intervenção (SSG e SBT), durante 8 semanas no período
preparatório (pré-época). Os testes de avaliação da performance física foram
realizados 5 dias antes e após os programas de intervenção, durante o mesmo
período do dia (15:00–17:00), num ginásio indoor com piso sintético. A bateria
de testes consistiu num sprint de 20 metros, teste de agilidade “T” e salto
vertical com contramovimento (segunda-feira), vaivém de 20 metros
(quarta-feira) e RAST (running anaerobic sprint test) para avaliar a
potência anaeróbia (sexta-feira). Posteriormente, os protocolos de intervenção
(SSG e SBT) envolveram duas sessões por semana (terças e quintas-feiras),
intercaladas com os treinos regulares da equipa (segundas e quartas-feiras),
decorrendo num campo de relva natural à mesma hora do dia (15:00–16:00). O protocolo
SSG envolveu jogos 3v3 entre 4 equipas fixas, havendo rotação de adversários
nas sessões práticas. Em cada sessão foram realizados 4 jogos de 6 minutos, num
campo 20x25 metros, com 2 minutos de recuperação passiva. O protocolo SBT
envolveu 3 estações distintas realizadas com intensidade máxima: 1)
corrida vaivém de 15 metros com remates para uma baliza de 2x2m, situada a 10
metros do local da bola, em cada uma das extremidades; 2) corrida transversal
com mudança de direção num cone a anteceder a ação de remate, estando várias bolas
sucessivamente colocadas num arco de 18 metros a 8 metros da linha de golo; 3)
5 segundos de cabeceamentos numa bola pendurada 5 cm abaixo da altura máxima de
salto de cada participante, seguido de sprint de 5 metros e remate de uma bola
colocada a 10 metros da baliza. As habilidades foram realizadas continuamente
até perfazer o tempo de cada repetição. As componentes da carga do programa SBT
encontram-se especificadas na tabela 1.
Tabela 1. Componentes da carga das tarefas do protocolo de
intervenção SBT em cada sessão (Karahan, 2020).
Os exercícios foram ministrados por treinadores de
futebol credenciados, que intervieram nos programas de treino por forma a
manter os jogadores motivados e focados ao máximo nas tarefas práticas. Foram
ainda prescritas atividades de aquecimento e de retorno à calma padronizadas,
tanto para os testes físicos, como para ambos os programas de intervenção.
Análise estatística:
os resultados foram apresentados como médias ± desvios-padrão. Os pressupostos
de normalidade e de homogeneidade de variâncias foram avaliados, sendo aplicado
um teste t para amostra independentes para determinar se as diferenças pré intervenção foram significativas entre os 2 grupos. Uma ANOVA de duas vias com medidas repetidas [2 grupos (SSG e SBT) x 2 períodos (Pré e Pós)] foi
utilizada para estimar os efeitos principais e de interação das variáveis
independentes na performance física. Testes post hoc de Bonferroni também
foram usados caso fossem detetadas interações significativas. O tamanho dos
efeitos foi apresentado através de valores de partial eta squared (η2)
ou Cohen’s d. O nível de significância adotado foi de 5% (p ≤
0.05).
Principais resultados
O estudo demonstrou que 8 semanas de treino com o
programa de intervenção SBT (exercícios técnicos com intensidade máxima)
melhorou significativamente todos os indicadores da performance física
analisados, enquanto o programa SSG (jogos reduzidos) foi apenas efetivo (p
< 0.05) no desenvolvimento do salto vertical com contramovimento, VO2máx
e potência anaeróbia média. A comparação de ambos os protocolos de intervenção
mostrou que o programa SBT foi significativamente mais efetivo do que o
programa SSG em todos os testes físicos (sprint de 20 metros: 3.99 vs.
1.72%; salto vertical com contramovimento: 5.35 vs. 2.99%; teste de
agilidade “T”: 3.7 vs. 2%; força explosiva: 8.4 vs. 5.6%; potência
anaeróbia: 10.98 vs. 6.26%), à exceção da prova afeta à estimação do VO2máx
(vaivém de 20 metros: 6.7 vs. 6.5%).
No respeita à potência aeróbia, ambos os protocolos
parecem induzir intensidades suficientes para o aumento de enzimas inerentes ao
metabolismo aeróbio e à melhoria da performance em zonas de intensidade
submáximas. O facto de o programa SSG não determinar melhorias significativas
no sprint de 20 metros e na capacidade de mudança de direção pode estar
relacionado com as dimensões do espaço (20x25m) e com o tempo de prática (4x6’)
propostos na tarefa 3v3.
As diferenças verificadas entre os grupos experimentais,
ao nível do salto vertical com contramovimento e na força explosiva estimada,
podem ser explicadas pela configuração das tarefas prescritas. O grupo SBT teve
mais oportunidades para saltar (estação 3) e mais ações explosivas de curta duração
nas sessões de treino que o grupo SSG. O perfil de atividade do grupo SBT, com
intensidade máxima, também ocasionou ganhos mais evidentes na potência
anaeróbia.
Conclusão
A investigação revelou que um período de intervenção de 8
semanas, incluindo exercícios técnicos em alta intensidade ou jogos reduzidos,
pode melhorar a performance física de jovens jogadores de futebol durante o
período preparatório da época (pré-época). Ambos os protocolos melhoraram
substancialmente a potência anaeróbia, a força explosiva, o VO2máx e
a altura do salto vertical dos praticantes. Contudo, no que se relaciona ao
sprint de 20 metros e à capacidade de mudança de direção, apenas houve ganhos
significativos no programa SBT. Desta forma, os resultados esclarecem que
exercícios técnicos em alta intensidade podem ser mais apropriados que os jogos
reduzidos para melhorar o desempenho físico de jovens jogadores, do género
masculino, no período preparatório da época.
P.S.:
1-
As ideias que
constam neste texto foram originalmente escritas pelo autor do artigo e,
presentemente, traduzidas para a Língua Portuguesa;
2-
Para melhor compreender as
ideias acima referidas, recomenda-se a leitura integral do artigo em questão;
3-
As citações efetuadas
nesta rúbrica foram utilizadas pelo autor do artigo, podendo o leitor encontrar
as devidas referências na versão original publicada na revista Biology of
Sport.