Como qualquer amante de futebol, assisti com particular atenção à primeira mão dos quartos-de-final da Liga dos Campeões, entre Real Madrid e Barcelona. Observar o Barcelona jogar é algo que me delicia, porém, por uma questão de patriotismo, torci pelo Real Madrid. A estratégia de Mourinho foi idêntica à empregue na final da Taça do Rei: jogar com um bloco defensivo baixo, com todos os jogadores atrás da linha da bola e fazendo uma elevada pressão sobre os jogadores mais criativos do Barcelona; após recuperar a posse de bola, a equipa recorre predominantemente ao contra-ataque ou ao ataque rápido, na tentativa de explorar a velocidade de Di Maria e Cristiano Ronaldo. Resultou em pleno na Taça do Rei, mas ontem o Barcelona, mesmo sem Iniesta, foi uma equipa demasiado competente para o Real. Embora possua jogadores fantásticos individualmente, são os comportamentos colectivos da equipa do Barcelona que a tornam como a melhor do mundo. Não sobressai somente a simplicidade de processos inerente à posse de bola (um estilo de jogo rápido, praticado a um ou dois toques e extraordinariamente eficaz na criação de espaços vazios), como também o fantástico posicionamento dos jogadores em processos ofensivo e defensivo, que permite uma ocupação constantemente equilibrada do espaço de jogo. A questão "Como vencer o Barcelona?" é complexa e ocupou a equipa técnica madrilena com horas e horas de observação, estudo e discussão. A estratégia adoptada por Mourinho reconhece a superioridade dos catalães. Mourinho respeita e muito, se calhar até demasiado, o Barcelona e fá-lo porque os 5-0 em Camp Nou ainda estão presentes no seu consciente. Apesar disso, até o melhor do mundo não está imune a erros dos seus jogadores; ontem, Pepe errou ao abordar o lance com Dani Alves de forma impetuosa e foi bem expulso. Se contra onze, o Barcelona já detinha 71% (!) de posse de bola e quase o quádruplo de passes precisos que o Real Madrid, contra dez tornou-se uma equipa mais agressiva a explorar o espaço no meio-campo do Real Madrid e o um-contra-um no sector defensivo visitado. Nestas circunstâncias, o “colectivo” do Barcelona, em prol de um soberbo Messi, torna-se letal. Assim sucedeu! Mas não existe outras alternativas para o Real Madrid? Sim, uma delas passaria por incluir jogadores mais acutilantes do ponto de vista ofensivo, mas com limitações no cumprimento de missões tácticas defensivas (por exemplo, Mesut Özil e Káká). Assumo que seria um modo de possuir mais qualidade na posse de bola, de criar mais situações de finalização e jogar olhos nos olhos com o adversário, ainda que com riscos elevados diante de uma formação tão forte colectivamente. Em desvantagem na eliminatória por 2-0, o caminho da formação de Mourinho passa, inevitavelmente, por ter de concretizar golos. Para mim, e porque julgo que nada está resolvido, deixa-me antever uma segunda mão muito mais interessante.
28/04/2011
Pedra no Sapato de Mourinho
21/04/2011
Experienciar é Aprender
Enquanto o graúdo se preocupava em registar o acontecimento para a posterioridade, os poucos miúdos que se apresentaram para treinar, logo se atreveram a jogar "futebol no gelo"; uma novidade que raramente terão a oportunidade de vivenciar.
A motivação era evidente e, perante a elevada probabilidade do treino ser cancelado, deixei-os ficar entretidos. Afinal de contas, experienciar também é aprender.
09/04/2011
Jerusálem
Jerusalém é um romance de escritor português Gonçalo M. Tavares. O enredo varre conceitos como a dor, o conhecimento, a loucura, a tragédia e, de forma implícita, a justiça. A dor de Mylia e a sua loucura; a esquizofrenia do seu amante Ernst; a busca pelo conhecimento do reconhecido investigador, também casado com Mylia, Theodor Busbeck; o seu filho ilegítimo, Kaas Busbeck; a mente assassina do veterano de guerra Hinnerk; a prostituição de Hanna, são parte constituinte de um argumento denso e fatalista.
Os diversos personagens, com as suas peculariedades, em algum ponto da narrativa, acabam por se encontrar. O desfecho trouxe-me sentimentos como a estupefacção e a paz. Não é um típico romance em que tudo termina bem; no meu ponto de vista, o conceito de justiça brinda o leitor como uma surpresa inesperada. O livro venceu o Prémio LER/Millenium BCP (2004), o Prémio Literário José Saramago (2005) e o Prémio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa (2007).