Os pais são agentes formativos de elevada referência para as crianças. Salvo algumas excepções, é com eles que os miúdos acabam por passar mais tempo desde a primeira infância até à adolescência. Parece-me inegável que a educação dos mais pequenos seja bastante influenciada pelos exemplos que são dados, em casa ou fora dela, pelas figuras adultas de referência mais chegadas a si: os pais.
Particularmente no processo de formação desportiva, é demasiado vulgar encontrarmos maus exemplos daquilo que deve ser o comportamento ou a atitude de um encarregado de educação. Há alguns dias atrás, estava a participar com os meus jovens num torneio e deparei-me com uma cena profundamente triste e hilariante. Na final de Benjamins A (Sub-11) do dito torneio, uma das equipas vencia por 3-0 a outra finalista, curiosamente uma formação de um grande clube de Portugal. Na segunda parte, as circunstâncias modificaram-se e, perto do fim do jogo, o resultado chegou ao 3-3. Um dos jogadores da equipa que tinha estado a vencer sofreu uma falta (dura, por sinal) e um dos pais levantou-se na bancada e gritou: "Levanta-te, pá, agora já não estás a vencer. Estás a queimar tempo para quê?". Atenção, que estávamos a falar de crianças com 10-11 anos de idade. Ora, o pai do miúdo magoado também se levantou e o verniz começou a estalar.
Mais tarde, num contra-ataque, a reviravolta consumou-se e a equipa que perdia 3-0, venceu o torneio por 3-4. Enquanto as crianças faziam a festa, os pais "vencedores" provocavam os outros. Daí até à pancadaria geral foi um estalar de dedos: mulheres a ser arrastadas pelos cabelos bancada abaixo, homens ao soco e ao pontapé, etc. As crianças "vencedoras" pararam de fazer a festa e as "vencidas" pararam de chorar para ver o "espectáculo". As crianças/jovens que estavam na bancada tiveram de se afastar para não serem agredidas também. Um triste exemplo daquilo que é a nossa sociedade actual, onde não imperam valores, nem princípios morais e éticos.
Senti-me envergonhado com o que assisti e cada vez mais constato que, tal como um professor ou treinador tem de tirar um curso para educar ou formar, assim os pais deveriam fazer o mesmo. Não confio no bom senso da nossa sociedade, nem tão pouco naquela que deveria ser uma capacidade natural de educar por intuição. O desejo de vencer, de ser superior, está de tal modo incrustrado nas mentalidades que o respeito pelo outro desvanece-se a cada dia que passa. Esta é a verdadeira crise actual. Um fenómeno que só ultrapassaremos quando tivermos realmente de nos unir para sobreviver.