21/09/2011

Impacto da Casa dos Segredos nos conhecimentos e cultura geral da população portuguesa

Abstract

O objectivo do programa televisivo Casa dos Segredos 2 é promover a ilusão e a omissão num conjunto de adultos sem nada para fazer na vida e cujo somatório do Quociente de Inteligência (QI) não iguala o do Einstein. Participam no evento 20 seres humanos, entre os 19 e os 33 anos de idade, sendo 10 do género masculino e 10 do género feminino. Todos partilham a característica de sobrevalorizar o volume de bicípete ou mamário relativamente ao órgão que permite interpretar estímulos, proceder a raciocínios lógico-dedutivos, evocar memórias, entre outras funções que nos distinguem dos restantes seres vivos: o cérebro. As imagens comprovam ainda que cada concorrente apresenta uma auto-estima e uma percepção de auto-conceito que envergonham o ego da recém eleita Miss Universo, a angolana Leila Lopes. As evidências induzem-nos a concluir que o impacto deste nobre programa da TVI é negativo (i.e., abaixo de zero) nos conhecimentos e na cultura geral das centenas de milhares de crianças, jovens, adultos e idosos que diariamente assistem a esta, como diria Luis Sepúlveda, barbárie humana.

Palavras-chave: QI, bicípete, mamas, ego, barbárie humana.

01/09/2011

Artigo: A Definição de "Centro do Jogo"


Introdução
O conceito de “centro do jogo” é vulgarmente encontrado na literatura didáctica e pedagógica do futebol. Castelo considera que o “centro do jogo” ou “unidade estrutural funcional” está em constante mutação no decurso de um jogo, sendo constituído “(...) momentaneamente pelo jogador de posse de bola e elementos pertencentes às duas equipas (...) até uma certa distância (não superior a 15 metros) (...).” (2004: 204). No entanto, até ao momento, nenhuma investigação científica foi realizada para delimitar e/ou validar este conceito. Será o “centro do jogo” a zona envolvente à bola, englobando jogadores que podem intervir directamente sobre a mesma? Será que a distância máxima de 15 metros em relação à bola, tal como enunciado por Castelo, é aceitável para circunscrever o “centro do jogo”? Desta forma, utilizando um breve questionário, inquirimos 39 treinadores de futebol com o objectivo de perceber o que pensam sobre o assunto.

Métodos

Aproximação experimental ao problema
Esta investigação utilizou um instrumento (questionário) constituído por 5 questões de resposta curta. Não podemos caracterizar este instrumento como puramente quantitativo ou qualitativo, pois tanto foi possível recolher dados para tratar e analisar mediante procedimentos estatísticos simples, como foi possível recolher múltiplas perspectivas sobre o “centro do jogo” e que nos auxiliaram na descrição e compreensão do conceito.

Participantes
Neste estudo participaram voluntariamente 39 treinadores, com idades médias de 32.59 ± 6.68 anos, com 4.62 ± 2.84 anos de experiência como treinador e dos quais 37 possuíam o I Nível, um o III Nível e outro o IV Nível de Treinador. Em termos dos escalões etários treinados na época imediatamente anterior (2008/2009), observou-se a distribuição apresentada no quadro 1.



Procedimentos
Inicialmente, após a elaboração do questionário, foi pedido a um grupo de 5 treinadores que o preenchessem e emitissem uma apreciação sobre o mesmo. As rectificações realizadas na sequência deste processo experimental foram ligeiras.
No dia da aplicação dos questionários foi feita uma introdução oral que contemplou algumas normas para o seu preenchimento e uma breve explicação acerca do seu enquadramento no âmbito das Ciências do Desporto. Os questionários foram preenchidos individualmente e em silêncio pelos participantes, não tendo surgido quaisquer dúvidas durante esse período. Os dados foram tratados recorrendo a procedimentos simples de estatística descritiva (frequências absolutas, frequências relativas, médias e desvios padrão) e de análise de conteúdo nas questões 3, 4 e 5, conforme o recomendado por Côté, Salmela, Baria and Russell (1993) e Culver, Gilbert and Trudel (2003). Deste modo, foram identificadas e etiquetadas unidades de texto relevantes sobre o “centro do jogo” que, posteriormente, foram organizadas em categorias com significado distinto.

Apresentação e Discussão dos Resultados
Na questão 1 – qual a distância máxima (metros) para um jogador atacante receber a bola em segurança quando está em deslocamento de apoio? – obtivemos um valor médio (± desvio padrão) de 6.26 ± 2.21 metros. No quadro 2 encontra-se a distribuição das respostas por escalão etário treinado na época anterior (2008/2009).



Como é possível observar, 66.67% dos treinadores participantes seleccionaram distâncias máximas entre os 4 e os 6 metros para que um jogador em situação ofensiva possa receber a bola em segurança, quando está em deslocamento de apoio. Se aumentarmos o intervalo anterior para entre os 4 e os 8 metros, verificamos uma percentagem de respostas extremamente elevada, isto é, 89.74%, não parecendo haver diferenciação face ao escalão treinado na época 2008/2009. Se confrontarmos os valores obtidos com os 15 metros sugeridos por Castelo (2004) para definir o “centro do jogo”, parece haver uma clara diminuição daquilo que é a distância segura de comunicação directa entre dois jogadores em situação de ataque, quando um deles se encontra em deslocamento de apoio (aproximação) em relação ao portador da bola.

No que diz respeito à questão 2 – qual a distância máxima (metros) para um jogador receber a bola em segurança quando está em desmarcação de ruptura? – obtivemos um valor médio (± desvio padrão) de 10.18 ± 5.70 metros. O quadro 3 expressa a distribuição das respostas por escalão etário treinado na época 2008/2009.



Cerca de 76.32% das opções dos participantes situaram-se entre os 6 e os 10 metros, correspondendo 21.05% a distâncias máximas entre os 12 e os 30 metros para que um atacante possa receber um passe em segurança quando está em deslocamento de ruptura, ou seja, num movimento de afastamento em relação ao portador da bola. Na sequência do que foi examinado para a questão 1, os dados obtidos na questão 2 também sugerem que a distância máxima de 15 metros indicada por Castelo (2004) para definir o “centro do jogo” possa ser excessiva para caracterizar as redes dinâmicas de comunicação e oposição que se estabelecem nas zonas próximas da bola. O factor segurança na recepção de um passe, embora seja influenciado por inúmeras variáveis (e.g., qualidade táctico-técnica dos atacantes e dos defensores, pressão dos defensores, missões tácticas dos jogadores, características do terreno de jogo, etc.), é fulcral para diferenciar as relações directas de comunicação ofensiva bem ou mal sucedidas. É num cenário de sucesso imediato das redes de comunicação (processo ofensivo) e contra-comunicação (processo defensivo) que devemos equacionar a definição de “centro do jogo”, pois só estas permitem conservar a posse de bola ou (re)conquistá-la.

A análise de conteúdo das respostas dos participantes permitiu-nos diferenciar três grandes categorias acerca da definição do “centro do jogo”: 1) Posição da bola no campo, englobando ou não jogadores; 2) Zona em torno da posição da bola onde os jogadores executam comportamentos táctico-técnicos para a conservar/conquistar; 3) Zona do campo que se mantém constante.



Como é possível apurar no quadro 4, a maioria dos treinadores não encara o “centro do jogo como a posição da bola ou uma zona específica e constante do terreno de jogo, mas sim como uma zona ao redor da bola onde se realizam comportamentos táctico-técnicos ofensivos e defensivos que permitem manter a posse de bola ou (re)conquistá-la. Esta definição de “centro de jogo” corrobora as que são aceites por outros autores, expressas na forma de sinónimos como “unidade estrutural funcional” (Castelo, 2004) ou “dimensão microtáctica do jogo” (Maçãs & Brito, 2004).

Para além disso, 82.05% dos participantes afirma utilizar o conceito de “centro do jogo” nas instruções que fornecem aos jogadores e os mesmos 82.05% confirmam socorrer-se deste conceito para preparar o processo de treino. A questão 4 – o conceito de “centro do jogo” encontra-se expresso nas instruções que dá aos jogadores? – permitiu-nos estabelecer, após análise do conteúdo das respostas positivas, as seguintes categorias sobre como os participantes exprimem essa ideia: 1) Orientação das acções táctico-técnicas dos jogadores que estão próximos da bola; 2) Referência espacial para a ocupação do terreno de jogo; 3) Meio para transmitir e avaliar o modelo de jogo/processos da equipa.



A distribuição das respostas pelas categorias permite observar uma predominância da orientação das acções táctico-técnicas dos jogadores que estão próximos da bola e que, por inerência, devem cumprir os princípios específicos do jogo, ou seja, aqueles que ocorrem no interior do “centro do jogo”. Por outro lado, os participantes confirmam recorrer à ideia de “centro do jogo” para preparar os seus treinos, enquadrando a sua perspectiva numa das seguintes categorias: 1) Elaboração de determinados exercícios e/ou sessões de treino; 2) Aprendizagem/aquisição dos princípios específicos do jogo; 3) Potenciação de comportamentos face ao modelo de jogo/processos da equipa.



Apesar de se constatar uma distribuição quase homogénea pelas categorias acima enunciadas, fica bem patente que o conceito de “centro do jogo” é importante no pensamento e na actividade quotidiana dos treinadores de futebol.

Conclusão
Os dados obtidos sugerem que o “centro do jogo” é um conceito importante no âmbito do processo de treino do futebol. A maior parte dos participantes define o “centro do jogo” como uma zona em redor da bola onde se realizam comportamentos táctico-técnicos ofensivos e defensivos que permitem manter a posse de bola ou (re)conquistá-la, corroborando alguns autores nacionais (Castelo, 2004; Maçãs & Brito, 2004). No entanto, a distância máxima em relação ao portador da bola proposta por Castelo (2004) para delimitar o “centro do jogo” (15 metros) não é partilhada pela maioria dos participantes no estudo. Estes apontam, predominantemente, distâncias máximas entre os 6 e os 10 metros para que um atacante possa receber a bola em segurança, quer esteja em deslocamento de apoio (aproximação) ou de ruptura (afastamento) face ao companheiro em posse de bola. Parece-nos evidente que são necessários mais estudos, qualitativos ou quantitativos, no intuito de prestar melhores esclarecimentos sobre o conceito de "centro do jogo" e a respectiva distância que o caracteriza enquanto unidade funcional do jogo de futebol.

Referências
Castelo, J. (2004). Futebol – Organização dinâmica do jogo. Lisboa: FMH Edições.
Côté, J., Salmela, J. H., Baria, A., & Russell, S. J. (1993). Organizing and interpreting unstructured qualitative data. The Sport Psychologist, 7, 127-137.
Culver, D. M., Gilbert, W. D., & Trudel, P. (2003). A decade of qualitative research in sport psychology journals: 1990-1999. The Sport Psychologist, 17, 1-15.
Maçãs, V., & Brito, J. J. (2004). Futebol: ensinar a decidir no jogo. Treino Desportivo, 25, 4-11.