Não é um contexto circunstancial, é mesmo uma realidade que parece ter sustentabilidade: cada vez há mais raparigas a procurar o futebol como modalidade desportiva a praticar. No clube em que exerço a atividade de treinador, por exemplo, o número de miúdas inscritas tem vindo a aumentar época após época. Este facto, conjuntamente, com a organização de torneios internacionais pela Federação Portuguesa de Futebol (e.g., Algarve Football Cup, que se encontra a decorrer), permite-me discernir que este é um caminho essencial a percorrer, caso a pretensão dos nossos dirigentes passe por desenvolver a modalidade no país.
Fonte: FPF (Francisco Paraíso)
No entanto, como no caso da profissionalização da arbitragem, não podem haver atalhos e as habituais "tolices", subjacentes a este tipo de decisões, devem ser evitadas. Em primeiro lugar, e na minha perspetiva, é incorreto que uma rapariga que termina o segundo ano de Infantil (Sub-13) não possa acompanhar a sua anterior equipa nos Iniciados (Sub-15). Isto significa que uma miúda, ao concluir o segundo ano de Infantil, tem quatro hipóteses: a) deixa de praticar futebol, b) apenas treina com os colegas, mas, por imposição federativa, não pode competir, c) integra uma das raríssimas equipas de futebol feminino do país, geralmente no escalão sénior ou d) dedica-se ao futsal que, como sabemos, apresenta particularidades muito distintas do futebol.
Infelizmente, a hipótese A é a mais recorrente, precisamente porque se anula o estímulo da competição. Os regulamentos "matam" a formação desportiva de uma jovem no futebol, relegando-a para outra modalidade ou para um estilo de vida sedentário. Quer-me parecer que a modalidade em si não lucra com isso, nem o próprio país em caso de abandono da prática desportiva regular.
Por isso, a política dos novos dirigentes federativos deve transcender a negociação de chorudos contratos publicitários e televisivos, para fazer mais e melhor pelo "nosso" futebol. Neste âmbito, urge repensar esta problemática do futebol feminino e, colocando preconceitos de parte, redefinir quadros competitivos e equacionar estas “nuances” formativas, no intuito de reforçar e credibilizar os inestimáveis contributos que Portugal tem concedido ao futebol europeu e mundial.