A festa dos Jogos Olímpicos terminou ontem em Londres e somente voltaremos a presenciar, direta ou indiretamente, o certame em 2016, a ocorrer na cidade brasileira do Rio de Janeiro.
No rescaldo da participação portuguesa, Vicente Moura (presidente do Comité Olímpico Português) e Mário Santos (Chefe da Missão Olímpica portuguesa) classificaram os resultados obtidos como positivos, estabelecendo uma relação inequívoca com a precariedade que é o desporto em Portugal. Uma medalha de prata e nove diplomas olímpicos não é mau, porém, arrisco-me a afirmar, poderia ser muito melhor.
O investimento no desporto é escasso, a educação física (EF) e o desporto escolar são permanentemente marginalizados comparativamente a outras disciplinas escolares, depois o povo quer medalhas? Exige-se à Telma Monteiro o ouro, quando a judoca americana que a derrotou na 1ª ronda, não possuindo o mesmo talento, dispôs certamente de melhores condições para alcançar êxito na competição. Na maior parte das vezes, o talento por si só não chega; é fundamental oferecer as condições devidas de preparação para que o nível de excelência possa ser alcançado. Neste particular, comparar um atleta português a outro americano é, no mínimo, perverso. Ainda assim, às vezes lá os enganamos.
Parece ser consensual que a formação desportiva de base deve ser repensada e, acima de tudo, incentivada pelo Estado. A EF e o desporto escolar deveriam desempenhar um papel fulcral neste processo, ao invés é melhor reduzir o tempo destinado à prática de atividade física e desportiva nas escolas; é mais correto que o aproveitamento na EF não conte para a média no ensino secundário, como quem diz: “vão lá às aulas, mas não se esforcem muito para não desgastar o raciocínio para a matemática”. Aqui, apraz-me ridicularizar a situação: se um jovem apresenta um aproveitamento insuficiente na matemática, os pais não se importam de colocar o educando na explicação, muitas vezes paga a peso de ouro. De modo análogo, se um jovem não cumpre os objetivos definidos nas diversas matérias da EF, os pais, conscientemente, deveriam incentivar à prática de um qualquer desporto (natação, ginástica, andebol, karaté, dança, etc.), diminuindo o “analfabetismo motor” do seu rebento. Mas não! O melhor mesmo é não contar para a média do secundário.
Por sinal, ainda recentemente saiu uma notícia no jornal O Público (ver aqui), em que dá para perceber, através de uma pesquisa longitudinal efetuada por uma equipa de investigadores da Faculdade de Motricidade Humana da Universidade Técnica de Lisboa (FMH-UTL), que a) os jovens com aptidão cardiorrespiratória saudável tiveram um maior somatório das classificações de português, matemática, ciências e inglês, b) os alunos insuficientemente ativos, ou seja, que não cumprem as recomendações de atividade física diária (pelo menos 60 minutos por dia de atividade física moderada e vigorosa), têm maior probabilidade de serem pré-obesos ou obesos, c) o exercício promove a formação de novos neurónios e uma maior interação entre estas células nervosas, que, por sua vez, promovem maior sensibilidade e desenvolvimento cognitivo.
Estas, entre muitas outras, seriam razões mais que suficientes para incentivar à prática desportiva regular desde as idades mais tenras. Como reforça Luís Sardinha (diretor do Laboratório de Exercício e Saúde da FMH), o ideal seria que, por altura do término do 12º ano, os alunos fossem “consumidores educados de exercício físico”, muitos deles, acrescento eu, talvez desportistas nas mais distintas modalidades, porém é algo que se encontra muito longe da realidade em que vivemos.
Portugal só teria a ganhar
com mais e melhor desporto: saúde, autoestima, felicidade, produtividade e, lá
está, as tão proclamadas medalhas olímpicas. Porque o olimpismo consagra os principais
vetores para uma vida sã em sociedade: equilíbrio das qualidades do corpo, da
vontade e do espírito; desenvolvimento harmonioso do Homem; ação concertada,
organizada, universal e permanente de todos os indivíduos e entidades
participantes; entendimento mútuo, amizade, solidariedade e fair play; repúdio
pela discriminação independentemente de raça, religião, política ou género
sexual.
Urge repensar
estratégias; urge valorizar o desporto no nosso país. Todos nós!