26/12/2007

Ecos da (minha) loucura

Paro e olho, perdido num deserto de sensações mirabolantes e fugazes como o vento árido que me cerca. Nunca pensei ficar perdido no deserto. Doze passos é o que consigo contar até ir de boca. Com a mão direita apanho um punhado de areia que me escapa por entre os dedos. Irritado, bato no areal, como quem esmurra o idiota que me batia quando era miúdo. Levanto-me e grito. Interessante: gritar. Ele responde-me no meio do deserto, como uma poção que atenua a dor de quem está longe de tudo. Um pensamento mórbido e tenebroso que me faça gritar é o remédio para a minha demência.

Desesperado, sigo o trilho do nada rumo à terra do nunca, onde ninguém envelhece. Sou tão parvo, como fui capaz de esquecer a terra dos meninos perdidos? É para lá que vão todos aqueles que se deixam cair no deserto. Pé ante pé, deixando para trás pegadas de SER que um dia apagar-se-ão, caindo no infortúnio do esquecimento.

Fui eu que me deixei ir; foste tu que me levaste. Quero ir e sei que vou chegar tarde. Deixa-me ir, para nunca mais voltar… em mim.

The Notebook (2004)

Ok, chamem-me lamechas, mas é um filme espectacular, com uma densidade dramática bem estruturada e, do ponto de vista emocional, assente em pressupostos que nos fazem pensar no significado das nossas vidas. O binómio decisão-consequência é alimentado de uma forma sublime, porque como diz o personagem principal: "não podemos ter tudo".

"A vida não é mais que uma questão de linhas de passe". Qual delas a melhor?

Continuações de Boas Festas!

16/12/2007

O "faz-de-conta"!

- O Sr. sabe como é?

- Desculpe, como é o quê?

- Viver sem nada para fazer?

- Não, nunca cheguei ao ponto de pensar nisso.

- Não queira chegar... ainda! Ter que viver um "faz-de-conta" permanente para nos sentirmos úteis, ou melhor, para nos lembrarmos que ainda estamos vivos.

- Não percebo. Está a falar do quê?

- Da velhice, jovem.

- É assim tão mau?

- Não direi mau. Talvez, difícil. Um dia, se Deus quiser, há-de lá chegar. Claro que depende de como cada pessoa encara a vida, ou o que resta dela. Alguns acordam a chorar, limitando-se a esperar pela morte; outros vivem uma rotina mecanizada pela incapacidade de mudar as suas acções; e outros, como eu, vivem o "faz-de-conta". Meu caro jovem, se eu pudesse trocar de corpo consigo, faria muita coisa que não fiz quando tinha a sua idade.

- Ai sim, como por exemplo?

- Olhe, deixaria de pensar tanto no trabalho e no meu futuro e partiria para outros destinos. Viajar tanto quanto pudesse. Em cada qual arranjaria qualquer coisa para me sustentar, porque quando um homem quer, ele é capaz... de tudo. Percebe-me?

- Sim. Pensaria mais no presente, sem planear o futuro, é isso?

- Mais ou menos, temos sempre que pensar no futuro, pensar em antecipação. Sabe, mais vale prevenir que remediar.

- Tem razão. Mas assim está a contrariar o que disse anteriormente.

- Não necessariamente.

- Então?

- Saber que amanhã dá um jogo de Futebol na televisão, não implica que já saibamos o resultado.

(Sorri!)
- Pois. Você tem um bom ponto de vista.

- O "faz-de-conta" obriga-nos a pensar muito na vida. Todos os dias é um filme novo, senão acordamos a chorar no dia seguinte e assim sucessivamente até que a morte nos abrace de vez.

O velho tem uma expressão serena e transparece sinceridade. As rugas encharcam-lhe uma feição que já viu e passou por muito. Excelente comunicador, fluente no discurso e seguro no pensamento.

- Não fique aí parado, jovem, Vá à sua vida. Aproveite o melhor possível. Um dia, se não lhe pregarem nenhuma partida, vai ter tempo para pensar o dia todo.

Despeço-me do velhote e agradeço os dois dedos de conversa. Dou meia-volta e sigo o meu caminho, não sem antes pensar na expressão "faz-de-conta". Um teatro? Uma personagem? Todos os dias uma nova peça, um novo palco?

Talvez, um dia.

12/12/2007

Adeus Tristeza (1983)

Adeus tristeza, até depois
Chamo-te triste por sentir que entre os dois
Não há mais nada pra fazer ou conversar
Chegou a hora de acabar.

(Linda Martini - cover do original de Fernando Tordo - Adeus Tristeza)

08/12/2007

Contra a corrente


Remar, remar. Vejo o horizonte bem longe, embora o caminho seja perceptível. Continuo a remar contra uma maré que não me ajuda. Tenho uma de duas hipóteses: ou desisto e vou por água abaixo, certamente a mais económica; ou continuo a remar suplantando todas as adversidades, uma a uma, com coragem e determinação, impondo sucessivamente mais energia nas minhas acções.

Hoje apetece-me desistir, porque estou mesmo cansado de remar. O sorriso está fechado e nada me motiva para chegar a um horizonte que parece não ter fim.

Talvez amanhã acorde no lado certo da cama e um raio de luz me faça despertar para levar o barco um pouco mais além. É tão frustrante dependermos do hipotético: se X, logo Y; se Z, logo H, o que nem sempre se confirma.

Vem uma onda bem grande na minha direcção, remo para a subir ou vou às cambalhotas com ela? O que hoje é um dilema, talvez (aqui está o "malvado" do hipotético) amanhã não seja.

Remar, remar. Até breve.

05/12/2007

Seis!

De acordo com dados da Aliança Europeia Contra a Depressão, em Portugal suicidam-se seis pessoas por dia, como consequência de estados depressivos avançados.

Quantos são os casos que nos passam ao lado e nós, descuidados, nem damos conta? Qual o pretexto para pôr fim à vida, sem lutar primeiro por boas razões para viver?

A complexidade dos casos é de tal ordem, que tenho receio de responder às questões, a sério.