Vivemos na Era do "não tenho tempo". Ocasionalmente, eu próprio dou comigo, desagradado, a balbuciar essa expressão inegavelmente útil para o que nos convém.
- E que tal fazermos isto?
- Hoje não dá, não tenho tempo.
Posteriormente, bem feitas as contas, afinal o tempo que não tinha, passou e não fiz nada de jeito.
Vivemos a um ritmo alucinante, a Lei de Darwin é consistente quando diz que "sobrevive o mais apto". Numa sociedade progressivamente mais competitiva e perante a negra taxa de desemprego, o espaço e o tempo para nos movimentarmos livremente pouco ou nada nos dizem. As pessoas não trabalham para viver, vivem para trabalhar como se fossem inorgânicos, sem sentimentos, sem motivações e sem alegria.
As relações amorosas ressentem-se disso. As pessoas não têm tempo para pensar e, por inerência, para resolver os seus problemas. Como refere o psiquiatra Júlio Machado Vaz, muitas relações acabam porque as pessoas não investem algum tempo a procurar soluções para os seus problemas, inúmeras vezes perfeitamente ultrapassáveis. Ao invés, para não perder o precioso tempo, limitam-se a engolir um anti-depressivo qualquer. É fácil, não consome tempo e alivia a dor, mas em termos de resultados práticos é igual a zero.
Actualmente, o tempo não é para "ter" como se tratasse de um bem material; o tempo "arranja-se" como se um fosse um ingrediente fulcrar para melhorar a receita do nosso dia-a-dia.
Votos de um óptimo 2008.