Nós - seres humanos - não somos a espécie mais rápida, não somos os mais fortes, não temos garras e não voamos, mas somos uns exímios estrategas. A estratégia da nossa espécie vai ao encontro da adaptabilidade, sem dúvida a nossa melhor característica.
No ensino de qualquer modalidade desportiva tende-se, por hábito, a promover a especialização desde idades muito jovens, relegando para segundo plano a variabilidade. Por exemplo, na modalidade futebol, quantos de nós treinadores não definimos posições para cada jogador, logo a partir do escalão Escolas (Sub-11)? De uma forma simples, estamos a promover a especialização do jovem numa determinada posição no terreno de jogo (guarda-redes, lateral direito, médio-centro, avançado, etc.). Será essa estratégia a mais correcta? Estaremos nós - agentes desportivos - a estimular a capacidade que melhor distingue a nossa espécie: a adaptabilidade?
Pelo contrário, estamos a induzir uma aproximação ao padrões correctos do movimento, de forma a produzir, a curto prazo, boas performances desportivas dos jovens ou das equipas. Em jogos desportivos colectivos, no que à matéria de treino de jovens diz respeito, nós não formamos equipas, nós formamos jogadores. Assim, ao partir do princípio de especialização de um jovem numa determinada posição, estamos a condicionar a variabilidade, isto é, a capacidade de adaptação.
Por muito que um especialista possa decidir um jogo, como num pontapé livre no futebol, perguntem a qualquer treinador qual o tipo de jogadores que prefere. A resposta não fugirá muito da seguinte: jogadores "polivalentes" ou "todo-o-terreno", aqueles que, perante diversas situações contextuais do jogo, conseguem decidir a melhor solução e executá-la através de acções táctico-técnicas eficazes. Então, quanto maior for o número de experiências motoras que um jovem vivenciar durante a sua formação, maior a possibilidade de ganhos intelectuais e motores (aprendizagem) associados à modalidade que praticam. Os resultados (essencialmente os de cariz desportivo) não serão imediatos, pelo que é necessário muita coragem e determinação para implementar um processo de formação desta natureza.
O desenvolvimento surge na oportunidade de invenção, de exploração criativa, pelo que não devemos condicionar essa oportunidade, antes potenciá-la. Até ao momento, pouco ou nada se tem apostado na variabilidade como estratégia, pois raros são os que pensam em "perder no presente, para ganhar muito no futuro".
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