A arte de falsificar jogadores nos escalões de formação de futebol não é uma novidade para ninguém. O anseio pela vitória deturpa as mentalidades dos agentes desportivos, conduzindo-os facilmente a enveredar por caminhos ilegais que em nada dignificam a modalidade desportiva em si e o processo de formação de futuros cidadãos saudáveis, activos e moralmente bem desenvolvidos.
Infelizmente, eu tive a oportunidade de assistir e comparticipar em algumas destas trafulhices. Por um lado, posso alegar que era menor de idade e não tinha bem consciência do que estava a fazer, o que acaba por não ser mentira nenhuma. Por outro lado, já com a consciência bem formada, apenas saliento que não me deram alternativa, pois tratou-se de num caso muitíssimo complexo (apenas tinha cinco jogadores disponíveis e acabei por fazer alinhar um jogador mais velho). Fi-lo essencialmente para salvaguardar, física e psicologicamente, os meus cinco miúdos e não para obter qualquer vantagem no plano desportivo.
Anteontem recebi um e-mail de um colega a denunciar uma situação flagrante no escalão Infantis (Sub-13), no âmbito da fase final do campeonato distrital de Futebol 11 da Associação de Futebol de Lisboa (AFL). O Real Sport Clube de Massamá decidiu, pelo que me foi dado a entender, a utilizar um jogador com uma maturação excepcionalmente avançada. Tão excepcional que induz qualquer pessoa minimamente conhecedora do meio a conjecturar: "Se este puto tem 12 anos, eu já estou na terceira idade".
Atentem na expressão do jogador do centro, como que a indagar: "Será que o gajo [árbitro] me topou?". Por sua vez, o seu companheiro da esquerda parece preparar-se mentalmente para o que seria o melhor "round" de sempre do boxe nacional, caso o árbitro entendesse que não estariam reunidas as condições para participarem no encontro.
Pelos vistos jogaram mesmo e o clube visitado - Sport Grupo Sacavenense - enviou um comunicado à AFL a manifestar a sua indignação. Se a irregularidade for comprovada e os responsáveis da AFL forem tão drásticos como foram os da Associação de Futebol do Algarve (AFA) com o Império FC (Olhão) num caso análogo, o Real Sport Clube poderá incorrer numa pena bem nefasta para os seus jovens nos escalões de formação, enquanto o treinador e os dirigentes poderão continuar a exercer sem qualquer penalização.
Nos dias que hoje correm condeno todo o recurso à falsificação de jogadores sob qualquer tipo de pretexto, sobretudo porque ao se proporcionar tais discrepâncias maturacionais está-se, explicitamente, a aumentar a probabilidade da ocorrências de lesões desportivas e de maior gravidade, para além de se desconsiderar todos os princípios éticos que deveriam reger o fenómeno desportivo.
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