O inevitável Jorge Nuno Pinto da Costa referiu, ainda antes da Liga Sagres 2010/2011 dar o pontapé de saída, que o FC Porto iria ser novamente campeão... à Porto.
À quarta jornada, tudo começa a fazer extremo sentido. Ontem, o SL Benfica foi derrotado pelo Vitória de Guimarães e, quem observou o jogo, facilmente inferiu que o senhor Olegário Benquerença - o árbitro da Associação de Futebol de Leiria que foi homenageado pela Associação de Futebol do Porto pela sua participação no Mundial 2010 - esteve particularmente mal numa série de situações a desfavor dos (ainda) campeões nacionais. Duas grandes penalidades (Aimar e Carlos Martins) não assinaladas, dois foras-de-jogo inexistentes em que Saviola e Cardozo, respectivamente, ficaram isolados na cara de Nilson e, pelo menos, dois cartões amarelos injustificados (Javi Garcia e David Luiz) merecem a reflexão de todos os amantes do desporto rei.
Foto: Olegário Benquerença no seu melhor.
Com quatro jogos disputados, os erros sistemáticos da arbitragem nos jogos do SLB começam a gerar as circunstâncias para que se concretize as premonições do profeta; de facto, esta temporada o FC Porto irá mesmo ser campeão... à Porto.
Face aos resultados recentes das nossas selecções e à política de aquisição de jogadores dos principais clubes portugueses, urge começar a repensar com que linhas se pretende coser o futuro do futebol português. Mourinho diz que um país, pequeno como o nosso, que já teve três "bolas de ouro" (Eusébio, Figo e Cristiano Ronaldo), tem condições para conquistar um título internacional.
Eu concordo com Mourinho, mas discordo totalmente com o modo como se está a preparar o futuro do nosso futebol. Os dirigentes dos mais diversos clubes nacionais preferem ir à América do Sul comprar "craques", em vez de aproveitar os talentos que, durante anos, vão sendo lapidados nos escalões de formação. O SL Benfica, por exemplo, prefere dar 6 milhões de Euros por um talento espanhol, para em seguida emprestá-lo a um clube inglês. Raramente se observa a transição de jogadores júniores para o plantel sénior. Tudo bem que as exigências competitivas são distintas, porém não deixa de constituir um claro atestado de incompetência ao árduo trabalho desenvolvimento no processo de formação.
As oportunidades concedidas a jogadores estrangeiros são exponecialmente superiores às atribuídas aos jovens portugueses que, aqui e acolá, manifestam competência para realizar performances de qualidade no mais alto nível de desempenho. Questiono quem são as grandes "promessas" do futebol português. Escasseiam nomes e as selecções vão ficando afastadas das principais competições internacionais na categoria (os Sub-21 são exemplo disso). Inclusivamente, nos escalões de formação já observamos clubes a irem buscar estrangeiros para, supostamente, possuírem melhores argumentos para lutar pelo título nacional. Estamos a desvirtuar a formação de futebolistas portugueses e o próprio futebol português.
Foto: A "promessa" Ukra a representar os Sub-21.
A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tem uma palavra a dizer sobre esta problemática que assola a actualidade desportiva no país. Não é só o prof. Carlos Queiroz o vilão do filme. Infelizmente, o enredo ultrapassa em larga escala o que se passou no controlo anti-dopagem da Covilhã. Posto isto, é fulcral que a estrutura directiva e técnica da FPF procurem soluções para corrigir um futuro que se sugere dramático para as gerações vindouras da Selecção Nacional "A".
Ontem, dia 3 de Setembro de 2010, foi um dia macabro para as equipas nacionais Sub-21 e "A" de Portugal. Na sequência da embrulhada que envolve Carlos Queiroz, a selecção Sub-21 falhou redondamente o apuramento para o Europeu da categoria no próximo ano. Não só é um facto grave, como assistir ao jogo se transformou numa "aflição" praticamente sem precedentes.
Durante o encontro, dei por mim a indagar o que se treina com os jovens Sub-21. Sim, porque não parece existir nenhum modelo de jogo ou, pelo menos, simples indicações que traduzam um estilo de jogo consentâneo com as características dos jogadores. Abusou-se do jogo directo, o que, claramente, favoreceu a missão do processo defensivo inglês. A dinâmica do processo ofensivo foi extremamente limitada para uma formação que tinha a obrigatoriedade de ganhar, ainda para mais a jogar no seu país. A distância entre os jogadores era enorme e assim é impossível jogar rápido e de forma apoiada. Alarma-me que ninguém da equipa técnica tenha procurado corrigir esse aspecto. As opções iniciais também não foram as melhores e o Oceano demorou a mexer na equipa, mesmo vendo-se a perder desde cedo. Não será o cargo de seleccionador nacional, inclusivamente nas camadas ditas jovens, uma função que deve ser atribuída a treinadores competentes nessa matéria, mas que já possuam provas dadas no futebol português? Sim, respondo. Então, porque é que o Oceano inicia a sua carreira de treinador logo como seleccionador Sub-21? Não havia outras opções de maior qualidade?
No que diz respeito à equipa "A", o empate (4-4) diante do Chipre foi mítico. Agostinho Oliveira refere na comunicação social que a "produção atacante foi extraordinária", ainda assim a nossa selecção cometeu um feito assinalável: empatar com os cipriotas. Não nos podemos queixar apenas dos erros defensivos, pois ofensivamente falhámos imenso. Com o resultado em 4-3 tivemos três/quatro oportunidades magníficas para "matar" o jogo. Não o fizemos e pagámos caro.
Na minha perspectiva, a inclusão de Miguel no onze não se justifica, pois é um jogador que já não tem a capacidade física de outrora, erra demasiado no passe e não cria qualquer desequilíbrio no sector ofensivo. Ontem, esteve associado a três dos quatro golos cipriotas, devido a evidentes desatenções na ocupação do espaço e/ou no acompanhamento a jogadores adversários. No primeiro golo cripriota, não recuperou defensivamente e deixou o autor do golo progredir pelo seu corredor até realizar o "chapéu" ao Eduardo. No terceiro, permitiu que o avançado oponente efectuasse a diagonal pelas suas costas até finalizar na cara do guarda-redes português. No último golo, coloca em posição regular os dois jogadores cipriotas que procuraram a recarga ao primeiro remate. Enfim, é muita responsabilidade para um jogo só. Quando se pretende renovar a selecção e há Sílvio no banco de suplentes, não compreendo porque não se aposta no jovem do Sporting Clube de Braga.
O drama das substituições voltou a ser evidente. Tirar o Manuel Fernandes, o melhor centro-campista português durante o jogo, e deixar o Raúl Meireles em campo foi um erro crasso. O Raúl estava, literalmente, a arrastar-se na partida e Manuel Fernandes era dos poucos que objectivava manter a posse de bola e partir para transições ofensivas controladas. Ao retirar-se Manuel Fernandes do jogo perdeu-se clarividência na construção do processo ofensivo. Por sua vez, a entrada de Yannick Djaló para render Hugo Almeida também não me pareceu acertado. Naquele período do jogo, em que um golo adversário se torna complicado contornar, é lógico reforçar o meio-campo e controlar a posse de bola. Em vez disso, Agostinho Oliveira colocou Yannick Djaló na frente, forçando a a equipa a adoptar um estilo de jogo mais vertical. Não só não criámos mais situações de finalização, como as consequências finais foram altamente nefastas.
Muito mais há para reflectir, até porque não há tranquilidade no seio da equipa. Por muito que pretendamos colocar os jogadores à margem do "caso Queiroz" há legados que persistem e que o processo de renovação não resolveu. O próximo jogo na Noruega é fundamental para retribuir confiança ao grupo ou, ao invés, remeter-nos para mais contas logo à partida. É imperioso que a equipa técnica tome as melhores opções e os jogadores encarem a partida com responsabilidade. Neste grupo H, Portugal tem a obrigação de não perder mais qualquer ponto.