Disputar uma final é sempre especial. Na minha perspectiva, torna-se ainda mais especial quando o fazemos representando o "nosso" clube de sempre; aquele que nos ajudou a crescer, pessoal e desportivamente. Infelizmente, nunca tive oportunidade de o fazer enquanto jogador federado, porém ontem fi-lo enquanto treinador da equipa de Infantis (Sub-13) do Juventude Desportiva Monchiquense.
Por isso, e sabendo da importância das palavras que se transmitem antes do evento, preparei cuidadosamente a minha intervenção, na esperança que pudessem estimular as melhores atitudes e comportamentos dos jovens numa situação competitiva excepcionalmente emotiva. Acredito que o teor da palestra é um factor que qualquer treinador não deve negligenciar e, como tal, decidi partilhar a minha experiência neste espaço.
Habitualmente, preparo a palestra para um máximo de 15 minutos; mais do que isso, satura os miúdos e a mensagem final pouco é assimilada. Costumo ainda dividir a palestra inicial em três fases: introdutória, estratégico-táctica e motivacional. A fase introdutória (2-3 minutos) permite-me contextualizar a participação no jogo em causa, em função da actualidade desportiva e das competências trabalhadas e adquiridas ao longo da época. Na fase estratégico-táctica (7-8 minutos), enuncio o "sete" inicial, as missões tácticas dos jogadores e os métodos ofensivo e defensivo em diversas circunstâncias do jogo (processo ofensivo e defensivo, pontapés de canto, pontapés livres e lançamentos laterais). Por norma, focalizo sempre um ou dois aspectos da equipa adversária, caso tenha na minha posse alguma informação sobre a mesma. A fase motivacional (5 minutos) serve para despertar os jogadores e deve conter uma mensagem de optimismo e crença nas suas capacidades individuais e, fundamentalmente, na qualidade do colectivo. O apelo, por um lado, deve estimular o organismo para a acção sem, por outro lado, responsabilizar em excesso, pois pode gerar muita ansiedade. Terminar com simples expressões como um "divirtam-se no jogo" ou "sintam prazer naquilo que fazem" tem o condão de acalmar estados demasiado excitados.
Assim, deixo o exemplo da final do Torneio Complementar de Futebol 7, na qual os "nossos" infantis venceram a boa equipa do Clube de Futebol "Os Armacenenses" (crónica do jogo aqui):
Fase introdutória: "Hoje, dia 28 de Maio de 2011, vamos jogar esta final, precisamente no mesmo dia que o Barcelona e o Manchester United jogam a final da Liga dos Campeões. Portanto, é um dia tão especial para nós, como é para eles: é a nossa Liga dos Campeões! Apesar disso, e de se tratar de uma final, quero que percebam que a aprendizagem e a evolução que registaram ao longo da época já ninguém vos tira. E foi considerável! Não são a mesma equipa de Setembro passado; estão, globalmente, muito melhores e capazes para dar excelentes respostas em situações como esta". Os vossos desempenhos a partir da primeira volta da 1ª fase têm sido sempre em crescendo, exemplo disso são as prestações verificadas na 2ª fase, nos quartos de final e na meia-final. Acima de tudo, entendam que funcionam muito melhor colectivamente e isso só se obtém com muito empenho, espírito de sacrifício e solidariedade".
Fase estratégico-táctica: (por se tratar de aspectos muito específicos da nossa organização colectiva, julgo que não faz muito sentido aprofundar neste contexto).
Fase motivacional: "Qualquer desportista quando entra em competição quer vencer. É bem verdade que devemos saber ganhar e perder, mas não me digam que gostam de perder, porque isso é uma atitude totalmente anti-desportiva. Não, vocês, tal como a equipa técnica, querem vencer e vão entrar em campo com uma postura vencedora. No regulamento da Associação de Futebol do Algarve terminam com a seguinte referência «haverá troféu e medalhas para os vencedores» e, reparem, não contempla qualquer brinde para os derrotados. Pois é, jovens, aos 12/13 anos têm oportunidade de vencer um título distrital, coisa que o nosso clube já não conquista há mais do que uma década; imaginem quantas pessoas não gostariam de entrar naquele campo e dar o máximo para ficar na história do JDM e do concelho de Monchique? Se eu tivesse essa possibilidade, trocava agora com qualquer um de vocês: entrava a correr dentro do campo. Mas não o posso fazer, por isso é que acredito e tenho muita fé que vocês o vão fazer por mim e melhor do que eu faria na vossa idade. ACREDITEM em vós, ACREDITEM na equipa, joguem como se fossem só um e lembrem-se que uma situação desta, não raras vezes, só ocorre uma vez na vida. Antes de irmos aquecer, só vos peço que se divirtam, tenham prazer em jogar futebol e que lutem, durante os 60 minutos, pelo vosso sonho. Atitude, malta; força, JDM!"
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