20/03/2012

Traços de génio do menino Messi

Aos 10 anos, o melhor jogador do mundo pela FIFA da atualidade - Lionel Messi - jogava no Newell's Old Boys, já envergando a camisola 10. Recentemente, tive conhecimento que um vídeo do craque argentino, então com a idade acima referida, estava a circular na web. Uma relíquia, pensei. E as minhas expectativas não foram defraudadas. Ei-lo:

Como podemos constatar, em criança, Messi demarcava-se qualitativamente dos demais miúdos da sua idade. De entre a perceção de um talento habitualmente verbalizada mediante expressões como "tem jeito para coisa" ou "muito evoluído para a sua idade", consegue-se ainda vislumbrar pormenores altamente invulgares, não somente em miúdos de 10 anos, mas também em jovens adolescentes ou, até mesmo, em praticantes de futebol adultos. Confiram, por exemplo, a finalização aos 00:15, a receção, o drible e a finalização a partir dos 01:35, o pontapé livre direto aos 02:47, a assistência para golo aos 03:28 e a sua atitude a consolar um adversário desgostoso por ter perdido a final, a partir dos 04:43. Uma qualidade destas aos 10 anos? Impressionante!

Este vídeo teve o condão de me colocar a questionar a importância da predisposição genética e do treino desportivo na formação de um futebolista de elite. Afinal, um indivíduo nasce jogador ou forma-se jogador? O perfil de rendimento de um jogador de elite é produto de um fenómeno complexo. Decerto que uns dependem mais da predisposição genética, outros da capacidade de trabalho e motivação (i.e., características de personalidade) e outros ainda da qualidade do envolvimento (i.e., escolas de futebol, treinadores, métodos de treino, companheiros de equipa, amigos, etc.) para atingir patamares de rendimento superiores. No feliz caso de Messi, a predisposição genética, as características de personalidade e o carácter propiciador do envolvimento funcionaram, ao longo da sua formação, em consonância para que, nos dias que hoje correm, pudéssemos assistir às maravilhas deste pequeno génio.

À sua família, especialmente aos pais, aos seus treinadores, aos seus companheiros de equipa, aos seus amigos e, porventura, acima de tudo, ao FC Barcelona, os meus sinceros agradecimentos.

01/03/2012

Cultura tática: o exemplo de Paul Scholes

O médio inglês Paul Scholes é um ex-retirado do futebol. O sentimento de vazio provocado pela ausência da competição na sua vida, ditou o seu regresso em Janeiro passado. O erudito manager do Manchester United (Alex Ferguson), amplo conhecedor das características e capacidades de Scholes, não hesitou a aceder.

No passado domingo (26-Fev-2012), diante do Norwich City, o médio de 37 anos demonstrou, por diversas vezes, o quão importante é, para qualquer jogador, independentemente da sua posição, perceber o envolvimento e atuar em conformidade. Tomemos como exemplo a situação em que Paul Scholes inicia e finaliza o primeiro golo do United.

Na sequência de uma circulação de bola do Manchester, Scholes abriu, ao primeiro toque, para o companheiro solto no corredor direito. Até aqui, tudo bem; quero acreditar que boa parte dos jogadores profissionais, a atuar na função de médio centro, faria o mesmo. Contudo, o que me chamou a atenção foram os comportamentos subsequentes. Segundo me parece, o camisola 22 "red" identificou na perfeição a affordance (i.e., possibilidade de ação) e dirigiu-se para a área com a nítida intenção de finalizar o processo ofensivo. Primeiramente, sugere que o jogador está inteirado do modelo de jogo da sua equipa e das características dos colegas; ao tirar proveito disso, revela toda a sua inteligência. Posteriormente, permite-nos entender que possui notáveis capacidades de "leitura" de jogo e de transformação do potencial de conhecimento em ação, como se depreende pelo compasso de espera que efetua na zona da marca da grande penalidade para, finalmente, "atacar" a bola para golo, mediante o cabeceamento.

Na minha opinião, a cultura tática de um jogador emerge precisamente das capacidades de "ler" o jogo, identificando a informação relevante do envolvimento, e de executar em função daquela ou daquelas que é/são a(s) melhor(es) oportunidade(s) de ação. É, deste modo, que decorre o ato tático e a nossa interpretação da cultura tática manifestada por um indivíduo. Neste particular, o veterano Paul Scholes é excecional. Posto isto, julgo que não foi por acaso que integrou o departamento de futebol de formação do United no interregno da sua carreira como futebolista.