01/03/2012

Cultura tática: o exemplo de Paul Scholes

O médio inglês Paul Scholes é um ex-retirado do futebol. O sentimento de vazio provocado pela ausência da competição na sua vida, ditou o seu regresso em Janeiro passado. O erudito manager do Manchester United (Alex Ferguson), amplo conhecedor das características e capacidades de Scholes, não hesitou a aceder.

No passado domingo (26-Fev-2012), diante do Norwich City, o médio de 37 anos demonstrou, por diversas vezes, o quão importante é, para qualquer jogador, independentemente da sua posição, perceber o envolvimento e atuar em conformidade. Tomemos como exemplo a situação em que Paul Scholes inicia e finaliza o primeiro golo do United.

Na sequência de uma circulação de bola do Manchester, Scholes abriu, ao primeiro toque, para o companheiro solto no corredor direito. Até aqui, tudo bem; quero acreditar que boa parte dos jogadores profissionais, a atuar na função de médio centro, faria o mesmo. Contudo, o que me chamou a atenção foram os comportamentos subsequentes. Segundo me parece, o camisola 22 "red" identificou na perfeição a affordance (i.e., possibilidade de ação) e dirigiu-se para a área com a nítida intenção de finalizar o processo ofensivo. Primeiramente, sugere que o jogador está inteirado do modelo de jogo da sua equipa e das características dos colegas; ao tirar proveito disso, revela toda a sua inteligência. Posteriormente, permite-nos entender que possui notáveis capacidades de "leitura" de jogo e de transformação do potencial de conhecimento em ação, como se depreende pelo compasso de espera que efetua na zona da marca da grande penalidade para, finalmente, "atacar" a bola para golo, mediante o cabeceamento.

Na minha opinião, a cultura tática de um jogador emerge precisamente das capacidades de "ler" o jogo, identificando a informação relevante do envolvimento, e de executar em função daquela ou daquelas que é/são a(s) melhor(es) oportunidade(s) de ação. É, deste modo, que decorre o ato tático e a nossa interpretação da cultura tática manifestada por um indivíduo. Neste particular, o veterano Paul Scholes é excecional. Posto isto, julgo que não foi por acaso que integrou o departamento de futebol de formação do United no interregno da sua carreira como futebolista.

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