Hoje invadiu-me o desconsolo.
Criei expectativas elevadas relativas à seleção portuguesa Sub-19 no Campeonato
Europeu da Lituânia e, quando a equipa tinha tudo para assegurar a presença na
final, deu-se o impensável: a derrota e a eliminação. Deu a volta ao resultado
durante os 90 minutos e deixou-se empatar perto do final (85’). Nas grandes
penalidades, a vencer por 2-0, foi perder por 2-3, com três grandes penalidades
falhadas consecutivamente. Qual a probabilidade de isto acontecer?
Imagem: A sina das seleções
portuguesas. Uma década de “quases” e de tristezas (fonte: www.uefa.com/under19/index.html).
Esta nova frustração
levou-me a fazer uma breve pesquisa e reflexão sobre os resultados das seleções
nacionais de Portugal na última década, isto é, entre 2003 e 2013. Ei-los:
Seleção Principal (“A”)
2012. Campeonato Europeu (Polónia/Ucrânia): Meias-finais – Portugal 0 x 0 (2 x 4 g. p.) Espanha
2010. Campeonato Mundial (África do Sul): Oitavos de final – Espanha 1 x 0 Portugal
Seleção Sub-19
Seleção Principal (“A”)
2012. Campeonato Europeu (Polónia/Ucrânia): Meias-finais – Portugal 0 x 0 (2 x 4 g. p.) Espanha
2010. Campeonato Mundial (África do Sul): Oitavos de final – Espanha 1 x 0 Portugal
2008. Campeonato Europeu
(Suíça/Áustria): Quartos de final – Portugal 2 x 3 Alemanha
2006. Campeonato Mundial
(Alemanha): Meias-finais – Portugal 0 x 1 França
2004. Campeonato Europeu
(Portugal): Final – Portugal 0 x 1 Grécia
Seleção Sub-21
2007. Campeonato
Europeu (Holanda): Apuramento Jogos Olímpicos (5º e 6º lugares) – Portugal 0 x
0 (3 x 4 g. p.) Itália
2006. Campeonato Europeu (Portugal): Portugal não foi apurado para as Meias-finais devido à
diferença de golos (i.e., 1 golo)
2004. Campeonato Europeu
(Alemanha): Meias-finais – Itália 3 x 1 Portugal; 3º e 4º lugares – Portugal 3
x 2 Suécia
Seleção Sub-20
2013. Campeonato
Mundial (Turquia): Oitavos de final – Portugal 2 x 3 Gana
2011. Campeonato Mundial (Colômbia): Final – Brasil 3 x 2 (a. p.) Portugal
2007. Campeonato Mundial (Canadá): Oitavos de final – Chile 1 x 0 Portugal
Seleção Sub-20
2011. Campeonato Mundial (Colômbia): Final – Brasil 3 x 2 (a. p.) Portugal
2007. Campeonato Mundial (Canadá): Oitavos de final – Chile 1 x 0 Portugal
Seleção Sub-19
2013. Campeonato
Europeu (Lituânia): Meias-finais – Sérvia 2 x 2 (3 x 2 g. p.) Portugal
2012. Campeonato Europeu
(Estónia): Portugal – 3º lugar no Grupo A
2010. Campeonato Europeu
(França): Portugal – 3º lugar no Grupo B
2007. Campeonato Europeu
(Áustria): Portugal – 3º lugar no Grupo A
2006. Campeonato Europeu
(Polónia): Portugal – 3º lugar no Grupo B
2003. Campeonato Europeu
(Liechtenstein): Final – Itália 2 x 0 Portugal
Seleção Sub-17
2010. Campeonato Europeu(Liechtenstein): Portugal – 3º lugar no Grupo A
2004. Campeonato Europeu
(França): Meias-finais – França 3 x 1 Portugal; 3º e 4º lugares – Portugal 4 x
4 (3 x 2 g. p.) Inglaterra
2003. Campeonato Mundial
(Finlândia): Quartos de final – Espanha 5 x 2 Portugal
2003. Campeonato Europeu
(Portugal): Final – Espanha 1 x 2 Portugal
Portanto, na década em
análise, as seleções portuguesas atingiram (ou terminaram em...):
·
1 Campeonato Europeu
Sub-17
·
3 Finais (2º lugares)
·
5 Meias-finais
·
2 Quartos de final
·
3 Oitavos de final
·
7 Fases de grupos
·
21 Presenças em fases
finais
O país é pequeno (≈ 10
milhões de habitantes), mas temos tradição no futebol. Há cada vez mais treinadores
espalhados pelo mundo, a trabalhar ou com recentes passagens pelas principais
ligas europeias. Há mais jogadores a atuar em clubes de topo à escala
planetária e/ou a jogar em clubes que competem nas ligas europeias mais
mediáticas. Há largos meses que temos a seleção principal de Portugal no Top-10
do ranking da FIFA. Temos clubes portugueses a chegar, cada vez com mais
frequência, a fases mais avançadas das competições europeias. Temos Cristiano
Ronaldo, mas já tivemos Figo, Rui Costa, João Pinto e outros craques que
contribuíram para a projeção das nossas seleções num passado recente. E temos
outros que estão aí a aparecer.
Ainda assim, parece que
falta qualquer coisa… o “quase”. Os títulos! Recordemos as recentes derrotas
das seleções “A” (2012; 2-4 g. p. com a Espanha), Sub-20 (2013; 3-2 com o Gana)
e Sub-19 (2013; 3-2 g. p. com a Sérvia). Durante largos períodos dos jogos, as
nossas seleções foram superiores à equipa adversária. Se não claudicaram
durante a partida, perderam na “lotaria” das grandes penalidades. O fator sorte
pode deter alguma importância, mas não me parece que seja determinante. As
grandes penalidades são treináveis, tanto do ponto de vista técnico, como dos
pontos de vista estratégico-tático e psicológico. Depois, em situação de
desvantagem, as equipas manifestaram capacidade para operar a reviravolta,
denotando, em seguida, a tendência para recuar no terreno de jogo e dar a
iniciativa do ataque à equipa oponente. Consequência: permitiram que os
adversários empatassem e/ou vencessem nos minutos finais.
Falta de qualidade? Não.
Coincidências? Não acredito. Então, há aspetos que podem ser melhorados? Claro.
Em primeiro lugar, as equipas demonstraram ser algo permissivas defensivamente.
Observou-se alguma falta de agressividade defensiva e, por vezes, alguns erros
no cumprimento de princípios táticos básicos. Neste sentido, a coordenação
interpessoal no processo defensivo pode e deve ser bastante otimizada. Contudo,
na minha perspetiva, o que é mais notório é a carência de mentalidade
competitiva, que é típica das nossas gentes e é transversal a todos os escalões
etários da seleção nacional.
Neste particular, não
posso deixar de evidenciar o trabalho que é feito, desde a base, pelos “nuestros
hermanos” espanhóis. Em vantagem no marcador, as suas seleções não recuam, não
cedem a iniciativa à equipa contrária. Procuram, sim, gerir a posse de bola,
com critério e qualidade e, quando a ocasião surge, tentam aumentar a diferença
no score. Não é por acaso que têm
dominado, nos anos mais recentes, o futebol europeu e mundial, nos diversos
escalões etários. Admitamos: são um exemplo a seguir.
Quanto a nós, se tudo
isto é coincidência, então triste é o nosso fado. Ao invés, se tudo acontece
por uma razão, que tiremos as devidas ilações e possamos dar mais amiúde
alegrias ao povo. Portugal precisa e merece.