No futebol, a relação individual com a bola é importante e deve ser estimulada desde tenra idade. Contudo, as ações técnicas só adquirem expressão quando integradas no contexto de cooperação e oposição que o jogo oferece.
A criança/jovem deve, por isso, desenvolver competências táticas simples que lhe permitam resolver, em conjunto com os elementos da sua equipa, problemas contextuais do jogo. Neste particular, as combinações ofensivas a dois jogadores, habitualmente designadas de combinações táticas diretas, constituem a base da progressão coletiva no espaço de jogo e devem ser especialmente ponderadas, propiciadas e reforçadas no treino desta modalidade, sobretudo a partir do momento em que os miúdos começam a competir.
Apesar de cada vez se começar a competir mais cedo, não é um aspeto que devamos impingir nos exercícios ou nos jogos. Na minha perspetiva, deve ocorrer espontaneamente, traduzindo o conhecimento do jogador relativo às vantagens que decorrem da cooperação com os companheiros de equipa. Há crianças/jovens que começam a executar intuitivamente e outras que incorrem no erro de tentar solucionar, sistematicamente, problemas situacionais do jogo de forma individual e muitas das vezes com taxas de sucesso reduzidas. Tal como os processos de crescimento e maturação, a aprendizagem também se realiza a ritmos muito diversos, variando de sujeito para sujeito. Portanto, a paciência é um predicado essencial para o treinador.
Os casos de combinações táticas diretas mais vulgarmente observados são a “tabelinha” ou “um, dois” (i.e., passar a bola ao companheiro e recebê-la mais à frente, ultrapassando o adversário direto; fig. 1a) e o “overlap” ou “dá-e-passa-nas-costas” (i.e., passar a bola ao companheiro e efetuar uma desmarcação semicircular, contornando-o pela sua retaguarda, para receber a bola em zona mais avançada; fig. 1b). A aprendizagem pode ser efetivada através de formas jogadas e jogos reduzidos e/ou condicionados, inicialmente com superioridade numérica atacante (2v1, Gr+3v2+Gr ou Gr+5v3+Gr) e, posteriormente, progredindo para situações mais complexas em igualdade numérica (2v2, 3v3 ou Gr+5v5+Gr).
Figura 1. Ilustrações das combinações táticas diretas "tabelinha" e "overlap".
(p.f. clique na imagem para ampliar)
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Para concluir, deixo-vos as imagens de um golo recente da equipa principal do SL Benfica e que demonstra todo o potencial ofensivo da combinação tática direta no futebol, inclusivamente ao nível do alto rendimento.
Três combinações táticas diretas consecutivas que implicaram a progressão no terreno de jogo, a criação da situação de finalização e, em última instância, determinaram a obtenção do golo. Elucidativo!
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