Não é novidade que
entrar e singrar na elite do futebol nacional e/ou internacional não é um
processo simples para o jovem futebolista. Após uma década (ou mais!) ultrapassando
obstáculos na formação, lutando arduamente por sobreviver num contexto
altamente exclusivo, possuir e manifestar talento não é suficiente. Raramente é
suficiente para se afirmar na equipa principal. É preciso ter a sorte de privar
com o treinador certo: a alma, quase caridosa, que arrisca o seu emprego para
apostar na “prata da casa”. Aquele indivíduo que, conhecedor das qualidades e
limitações do jovem, concede o indispensável: a oportunidade!
Não me interpretem mal.
Oportunidade não é ser mais um no plantel e jogar 99 minutos/época; é
efetivamente apostar, colocando-o a jogar regularmente, ainda que a utilização
deva ser bem ponderada. Também não sou extremista e reclame 90 minutos/jogo. Agora,
por exemplo, se uma equipa estiver a vencer 3-0 no seu estádio, porque não dar 20/25
minutos de jogo ao jovem talento? A equipa adversária iria dar a volta ao texto
e vencer por 3-4? Acho bastante improvável. Este seria sim um bom contexto de…
oportunidade.
Sobram os exemplos de
jogadores talentosos que passam ao lado de carreiras promissoras, como
consequência da falta da oportunidade. Dou por mim a refletir sobre isto. A pensar
o porquê de o SL Benfica não ter portugueses na sua equipa inicial; o porquê de
João Cancelo não ter oportunidade de jogar na equipa principal (talvez, porque
o Maxi Pereira esteja a jogar muito bem); o porquê de Funes Mori ser contratado
e o clube ter Nélson Oliveira, com os mesmos 22 anos, emprestado ao Rennes (a
propósito, 3 golos em 3 jogos na Ligue 1 francesa); o porquê de termos equipas
B na Liga 2 a “rodar” jogadores das equipas principais, ficando os jovens talentos
no banco sem jogar (então, afinal, trata-se de um espaço de “rodagem” dos
jogadores menos utilizados do plantel principal ou um espaço de “transição” da
formação para o futebol sénior de alto rendimento?); o porquê de Josué nunca
ter tido oportunidades prévias no seu clube de formação – FC Porto – e agora
regressar, com evidente sucesso (i.e., titularidade e golos).
Foto: O jovem João Cancelo em ação pela equipa B do SL Benfica (fonte: www.google.pt).
Pena é que o futebol não
seja apenas isto mesmo: talento e… oportunidade. A oportunidade transforma-se
frequentemente em oportunismo. Observe-se o reverso da medalha: o Sporting CP.
Um clube que tenta rentabilizar desportivamente o investimento na formação e
que, a atentar pelo começo da época 2013/2014, promete ser, novamente, bem
sucedido. Mas há os empresários e os tutores e aquilo que move o mundo, o dinheiro.
O caso Bruma é um claro exemplo de quando a oportunidade é desperdiçada em prol
do oportunismo. Depois do Mundial Sub-20, na Turquia, o jovem jogador tinha
tudo para vingar no clube de Alvalade. Faria parte do plantel principal e estou
convicto de que seria opção regular de Leonardo Jardim. Supondo que não iria
ganhar balúrdios, teria a oportunidade de continuar a ser seguido pelos
colossos europeus e, não menos importante, a oportunidade (insisto!) de se
afirmar no futebol sénior de alto rendimento. Os Euros por ele pretendidos (ou
pelo empresário, ou pelo advogado) viriam como consequência do seu trabalho, do
seu talento, mas a oportunidade estava lá. Dizem que foi “mal aconselhado”; infelizmente,
parece-me óbvio que sim.
Este é o meu ponto de
vista. Em Portugal escasseiam as oportunidades para os jovens portugueses passarem
de “futebolistas promissores” a “verdadeiros craques”. Salvo raras exceções
(algumas anteriormente mencionadas), a política dos clubes ainda não passa por
rentabilizar (desportivamente) o investimento feito na formação e nas
academias. Um erro de gestão que só pode ser explicado pela tentativa de rentabilização
financeira dos clubes por outros meios, menos dados ao futebol.
Se há formação, se há
talento… só falta a oportunidade. Quem ficará a perder?