26/10/2013

Fundamentos e aplicações em análise do jogo (2013)

Os professores Anna Volossovitch e António Paulo Ferreira (Faculdade de Motricidade Humana – Universidade de Lisboa) publicaram, em abril deste ano, o livro Fundamentos e aplicações em análise do jogo, através da Edições FMH.

Imagem: Capa do livro "Fundamentos e aplicações em análise do jogo" (2013). 

Trata-se de uma coletânea de artigos/capítulos científicos originais e/ou de revisão, elaborados por um conjunto de autores conceituados no âmbito da análise da performance nos Jogos Desportivos (JD). Desde a influência de fatores situacionais do jogo (e.g., local do jogo – casa vs. fora; resultado corrente do jogo – vantagem vs. empate vs. desvantagem; qualidade da oposição – forte vs. fraca) no rendimento das equipas à coordenação interpessoal (cooperação vs. oposição) inerente ao entendimento do ato tático, são abordados inúmeros temas extremamente interessantes e essenciais para o corpo de conhecimentos que qualquer treinador, investigador e estudante deve possuir nesta área das ciências do desporto.

Tenho tido a felicidade de trabalhar de perto com os dois editores, pelos quais nutro uma especial consideração. Pela sua competência pedagógica e técnica, pelo seu sentido crítico e construtivo da investigação produzida na análise do JD, não estaria à espera de outra coisa que não fosse algo de completo, de atual e de qualidade. Devo também destacar a excelência dos contributos dos outros autores para a obra em questão.

Para quem trabalha ou investiga nesta área das ciências do desporto ou, simplesmente, é um curioso pela ciência em torno da análise da performance nos desportos coletivos, vale a pena ler!

13/10/2013

O que é treinar em especificidade no futebol?


“Aqui só se treina em especificidade. É tudo com bola.”

Nos meandros do treino desportivo, em concreto na modalidade de futebol, ainda subsiste a crença, ou o mito, de que qualquer exercício que contenha a bola é específico. A classificação que é feita dos exercícios baseia-se, fundamental, na premissa: tem bola é específico; não tem bola é geral. Como é evidente, esta é uma visão extremamente redutora e limitada do treino e condiciona, de sobremaneira, o processo de preparação de qualquer equipa para a competição.

Imagem: Treinar com bola não significa treinar em especificidade (fonte: hulmefooty.blogspot.com).

Treinar em especificidade implica trabalhar num contexto que replique, o mais aproximadamente possível, a realidade que se irá encontrar na competição, quer seja a um nível mais macroscópico (e.g., organização defensiva), ou mais microscópico (e.g., pontapés de canto defensivos). A bola é essencial, mas não é determinante para o exercício apresentar um caráter específico. Para isso, terá de se acrescentar companheiros de equipa, adversários, objetivos definidos em função da filosofia da equipa técnica e, também, controlar algumas variáveis do foro contextual que possam ser antecipadas, relativamente ao que é expectável ocorrer no compromisso competitivo seguinte (dimensões do espaço, características do terreno, temperatura, qualidade do árbitro, ruído do público, etc.).

No fundo, treinar em especificidade é jogar com propósitos bem definidos. Para o treinador, significará propor situações de jogo, mais ou menos reduzidas (mais ou menos microscópicas), que pressuponham uma interação permanente entre os jogadores (cooperação e oposição) e o seu envolvimento, equacionando inúmeras variáveis passíveis de afetar momentaneamente a organização das ações dos indivíduos e o plano estratégico-tático da equipa. Por exemplo, uma equipa a jogar com menos um jogador, por motivo de expulsão ou lesão, conduz a um reajustamento das missões e das ações táticas dos outros elementos da equipa. Segundo esta lógica, a noção de oposição avançada por Gréhaigne e colaboradores (1997) constitui um ponto central na forma como o jogo e o treino (em especificidade) devem ser perspetivados (figura 1).

Figura 1. Conceitos relacionados com a noção de oposição (adaptado de Gréhaigne et al., 1997).

Contudo, como referem Mesquita e Marcelino, “(…) a capacidade de aplicação no jogo das estratégias e táticas treinadas é limitada, na medida em que apenas se pode prever, e não predizer, a evolução das configurações ofensivas e defensivas, reiterando esta evidência a necessidade de recurso a abordagens heurísticas, capazes de considerar a complexidade da natureza do fenómeno (…).” (2013: 137).

Cada jogo engloba um acrescento de novidade (algo original e único) que, consequentemente, reduz a eficiência dos comportamentos técnico-táticos dos jogadores e das soluções estratégicas da equipa (Gréhaigne et al., 1997). Deste modo, a capacidade de gestão da desordem assume um papel determinante e isso somente se trabalha, melhora, aperfeiçoa e consolida no treino em especificidade, ou seja, através do próprio jogo.

Referências
Gréhaigne, J. F., Bouthier, D., & David, B. (1997). Dynamic-system analysis of opponent relationship in collective actions in soccer. Journal of Sports Sciences, 15, 137-149.
Mesquita, I., & Marcelino, R. (2013). O efeito da qualidade da oposição e do match status no rendimento das equipas. In A. Volossovitch e A. P. Ferreira (Eds.), Fundamentos e aplicações em análise de jogo (pp. 133-152). Cruz Quebrada: Edições FMH.

05/10/2013

Loucura (e)levada ao infinito

Deixou-se envolver pela loucura. Venera quem lhe cuspiu em cima e inferniza os que lhe tentaram arrancar um sorriso feliz da sua face amargurada.

O mundo ficou de patas para o ar; não para aqueles que vivem e subsistem da insanidade, mas para os outros, aqueles que acham que a benevolência ainda pode salvar o mundo. Pura ilusão. Mero devaneio. Quem quer mudar o mundo, pela via do otimismo, do positivismo, sofre; quem não quer nada com o mundo, vive loucamente do sofrimento dos outros, rindo, gozando, apontando o dedo. A crítica sem fundamento. Apenas e só: louca.

E quando já não houver uma gota de benevolência no mundo, o louco acordará para vida e perceberá que, assim, o mundo perdeu toda a piada. Como a loucura consome qualquer réstia de lucidez, jamais se poderá voltar a pugnar pela benevolência. Então, o louco, desorientado pela ausência de uma bússola com norte, perder-se-á nos confins do tempo, rumo ao infinito.

Imagem: "Alice: Madness Returns matte painting" (fonte: http://lukpazera.blogspot.com).

01/10/2013

Dia Mundial da Música

É hoje, no primeiro de outubro. A efeméride é comemorada desde 1975 pelo International Music Council, “uma instituição fundada em 1949 pela UNESCO, que agrega vários organismos e individualidades do mundo da música” (fonte: http://www.calendarr.com/portugal/dia-mundial-da-musica/).

Segundo o escritor francês Georges Braque, “o vaso dá uma forma ao vazio a música ao silêncio”. A música não se limita a moldar-se aos nossos estados de espírito, transcende-os. É impulso, é motivação, é alegria, é tristeza, é barulho, é melodia, é ritmo. Impele-nos para a ação. Sim, “a música pode mudar o mundo porque pode mudar as pessoas” (Bono Vox).

No Linha de Passe, o dia é assinalado com o tema Walk, do último álbum de originais dos Foo Fighters.


I'm learning to walk again
I believe I've waited long enough
Where do I begin?