Sir Alex Ferguson
dispensa apresentações. O manager
mais bem-sucedido da história do Manchester
United FC publicou a sua autobiografia, no Reino Unido, corria o ano de
2013. Em março de 2014 foi lançada a versão portuguesa, pela editora Casa das
Letras.
|
Imagem: Capa de «Alex Fergunson - A minha autobiografia.» |
Gosto de ler autobiografias,
nomeadamente, porque posso sempre aprender alguma coisa com as experiências/vivências
que nelas surgem retratadas. Por exemplo, Sir Alex alega que:
As origens nunca
podem ser uma barreira ao sucesso. Um modesto início de vida pode ser mais uma
ajuda do que estorvo. Se examinarem com atenção alguém bem-sucedido, estudarem
os seus pais, aquilo que eles faziam, debrucem-se sobre energia e motivação.
Terem vindo de classes trabalhadoras nunca foi entrave para muitos dos meus
melhores jogadores. Pelo contrário, foi muitas vezes a razão da sua excelência.
(p. 28)
Acerca do português
Carlos Queiroz, que foi seu adjunto no clube, Sir Alex tece rasgados elogios:
Carlos Queiroz,
outro dos meus números dois, era brilhante. Simplesmente brilhante. Excecional!
Um homem inteligente e meticuloso.(…) Foi o mais perto que esteve de ser
treinador do Manchester United sem verdadeiramente exercer o cargo. Tomou a
responsabilidade por uma série de assuntos sem que fosse obrigado a isso por via
das suas funções.
(p. 53-54)
Qual foi a chave do sucesso
de Ferguson e do clube?
O que fizemos
sempre, tanto no sucesso como na adversidade, foi assegurar-nos que o campo de
treinos era sagrado. O trabalho, a concentração e os níveis de qualidade que aí
mantivemos nunca foram atraiçoados.
(p. 64-65)
A propósito da superestrela
David Beckham, uma outra grande lição para qualquer treinador, de qualquer
nível, em qualquer clube:
Costumava dizer: «No
momento em que o treinador perder a sua autoridade, deixa de ter um clube. Os
jogadores passam a dirigi-lo e estás metido em sarilhos.»
(p. 76)
Um outro português que
marcou imenso Sir Alex foi Cristiano Ronaldo. Confiram um brevíssimo
testemunho:
Cristiano Ronaldo
foi o jogador mais dotado que treinei. Ultrapassou todos os outros grandes
jogadores com os quais trabalhei no United. E foram muitos.
(p. 115)
Numa legenda de uma imagem
em que Cristiano Ronaldo aparece a trabalhar pontapés livres, com Carlos
Queiroz por perto, Sir Alex confessa ainda que:
Ronaldo era um
aluno exemplar. Carlos Queiroz teve um papel importante no seu crescimento.
(p. 160-161)
Curiosamente, há um capítulo
dedicado a José Mourinho: o rival «especial». Quando José Mourinho chega a
Inglaterra, proveniente do FC Porto, Sir Alex não ficou indiferente:
Uma voz interior
avisou-me: há um rapaz novo no bairro. Jovem. Nem pensar em discutir com ele.
Nem pensar em combatê-lo. Tem a inteligência e a confiança para lidar com o
cargo de treinador do Chelsea.
(p. 166)
Por vezes, quando
perdemos, dizemos e/ou fazemos coisas estúpidas. A raiva, a desilusão,
levam-nos por caminhos pouco humanos, por assim dizer. Ao longo dos anos,
Ferguson foi desenvolvendo uma estratégia para lidar com a amargura da derrota:
No final, eu tinha
um remédio para as derrotas. Depois de dizer o que era preciso no balneário,
antes de sair para enfrentar a imprensa, a televisão, para falar com os outros
treinadores, murmurava para comigo: «O jogo acabou. Esquece.» Fazia sempre
isso.
(p. 187)
Um fator que considero
ser essencial na relação treinador-jogador é a comunicação. É preciso dialogar
com os jogadores e saber incluí-los no processo, estabelecer consensos, alcançar
soluções válidas e práticas para ambas as partes. Sir Alex Ferguson trata o
tema como «psicologia»:
Em primeiro lugar,
devemos dizer-lhes a verdade. Não há nada de mal em confrontarmos um jogador
com a sua baixa de forma. E o que transmitia a alguém cuja confiança se
revelasse abalada era que estávamos no Manchester United e não podíamos
permitir-nos descer ao nível das outras equipas. (…) Criticar, sim, mas
contrabalançar com um encorajamento. «Que andas a fazer? És melhor do que
isso!»
(p. 247)
Qual foi o melhor
adversário do Manchester United de Sir Alex Ferguson?
O Barcelona foi a
melhor equipa que jamais defrontou qualquer das minhas formações do Manchester
United. De longe a melhor. Trouxeram para o futebol a mentalidade certa. (…) No
Barcelona tinham esses maravilhosos gnomos, de 1,65 metros de altura, com
coragem de leão, que não largavam a bola e nunca se deixavam intimidar. A forma
como Lionel Messi, Xavi e Andrés Iniesta se entendiam fascinava-me.
(p. 254)
Que conselho deixa para
quem almeja ser treinador de futebol?
O meu conselho para
todos os jovens técnicos é o de se prepararem a fundo. Comecem cedo. Não
esperem pelos 40 anos para ganhar os galões de treinador. Oponho-me totalmente
aos técnicos-relâmpago. É uma vergonha!
(p. 307)
Acima de tudo, um relato
honesto e autêntico sobre uma história de sucesso num grande clube inglês. A
longevidade de Alex Ferguson no cargo não pode ser desvalorizada, nem tão pouco
a mentalidade que esteve subjacente a tantos títulos. À medida que vamos folheando
o livro, vão-se revelando inúmeros pormenores interessantíssimos, nem sempre
versando mares de rosas. Para quem, como eu, é um apaixonado do mundo do
futebol, é quase de leitura obrigatória.
PS. – Um bom ano de 2015 para todos vós!