Na sequência do jogo de
ontem da equipa que treino, no escalão juvenis (Sub-17), cada vez me convenço
mais que os árbitros são elementos preponderantes no futebol de formação. O
modo como ajuízam os lances dos jogos e como reagem às frustrações, às alegrias
e a outras emoções que o jogo despoleta, é determinante neste processo que não
se restringe às práticas (boas ou más) que os treinadores proporcionam nas
sessões de treino.
Crianças e jovens, por
estarem em períodos de crescimento, maturação e desenvolvimento, não são
obrigados a agir e/ou reagir sempre de forma correta ou educada. Aliás, muitos
jogadores seniores amadores, e até mesmo profissionais (!), não o fazem. O futebol
é emoção e a emoção, por si, frequentemente se sobrepõe à razão. Quem teve/tem a
oportunidade de competir em jogos desportivos reconhece veracidade no que estou
a referir. Por isso, a meu ver, o bom senso deve predominar em quem dirige os jogos.
Passemos, então, a um
exemplo que retirei do jogo de ontem. Em causa está um jogador da minha equipa
que, até aos 36 minutos de jogo, não havia demonstrado nenhum comportamento
incorreto perante os adversários e os árbitros. O jogo estava bem disputado,
praticamente sem faltas de parte a parte e onde imperava a boa conduta entre os
jogadores.
Face a uma falta que lhe
foi assinalada, o jogador teve um mero desabafo: «Oh, car…!». Ok, não é agradável de se ouvir, mas, repito, até então
não houve qualquer situação problemática para a equipa de arbitragem. Ainda que
demonstrasse indignação face à decisão (correta) tomada pelo árbitro, não houve
nenhuma «boca» ou falta de respeito direcionada ao mesmo. Tratou-se apenas de
uma discordância. O jogador (16 anos) não foi advertido, não foi admoestado com o cartão
amarelo e recebeu ordem de expulsão imediata do jogo (i.e., cartão vermelho
direto). Não se percebe…
Imagem: A solução mais fácil é... cartão vermelho! |
Na minha opinião, e
tendo em consideração que o futebol de formação serve para FORMAR, esta foi a
pior decisão possível do árbitro. Para além disso, o jogador que já havia sido
expulso na primeira fase (num jogo diante do seu anterior clube e em que não
houve árbitro nomeado…), corre o risco de ficar os próximos 2/3 jogos sem poder
jogar pela sua equipa.
Estas situações
estranhas e totalmente evitáveis continuam a existir, fim-de-semana após
fim-de-semana, no nosso futebol. Se pretendemos formar melhores praticantes e
cidadãos, todos os agentes desportivos devem estar preparados e sintonizados
para educar, com alguma pedagogia, as crianças e os jovens e não recorrer aos
caminhos mais fáceis e absurdos e que, a médio/longo prazo, culminam com a
saturação e o abandono da modalidade.
Sim, porque «sacar» um
cartão é muito mais fácil do que, pacientemente, dialogar com o jogador e
fazê-lo ver que a conduta foi incorreta. Caso tal aconteça e seja persistente,
compreende-se que as medidas sejam mais drásticas, agora assim… é incompreensível, absurdo
e maldoso.