22/08/2015

Diário de um killer sentimental (2015)

Luis Sepúlveda, aquele que milhares de leitores já elegeram como o mais «português» dos escritores latino-americanos. Não sou eu que o digo, consta na sinopse do novo livro constituído por três «novelas negras»; o regresso do escritor chileno aos policiais.

Imagem: Capa do livro «Diário de um killer sentimental» de Luis Sepúlveda.

Muda o estilo literário, mas a sua escrita continua sempre cativante. É como ir de férias com um guia turístico carismático e conhecedor do envolvimento, sem realmente necessitarmos de sair de casa. Ademais, o modo como Sepúlveda «humaniza» os seus diversos personagens é de mestre. Para mim, Luis Sepúlveda está para a literatura como Andrea Pirlo está para o futebol; é um senhor.

Como não gosto de dar ponto sem nó, eis um breve trecho do livro:

– Achas mesmo que o sexo se presta a confusões? – perguntou Anita passando-lhe uma lima pelos calos.
– Às vezes. Lembro-me de uma história que me contaram uns arrieiros na Patagónia. Há dois anos, uma frente de mau tempo interrompeu as manobras que um regimento de infantaria estava a realizar na fronteira com a Argentina. Os tropas tinham suportado trinta dias e trinta noites a chover sem parar, quando um tenente se aproximou do grupo de arrieiros para lhes perguntar como é que eles aliviavam os tormentos de entre as pernas. Responderam-lhe que da maneira mais conhecida, e que se se sentia muito apertado podiam levar-lhe uma burra para junto do rio. O tenente negou-se, e com um gesto de repugnância acusou-os de pervertidos. Passou outro mês. À chuva juntou-se a neve, e o tenente tornou a encontrar-se com os arrieiros. Com toda a vergonha do facto, pediu que lhe levassem a burra para o pé do rio. Os arrieiros, sem entenderem a causa de semelhante pudor, disseram-lhe que muito bem, que no dia seguinte a burra o esperaria junto do rio, que crescia cada vez mais. Ali esteve também muito pontual o tenente e, depois de ordenar aos arrieiros que virassem as costas, baixou as calças e começou a fornicar com o animal. Então um dos arrieiros virou a cabeça e disse-lhe: «Meu tenente, a burra é para atravessar o rio. As putas estão do outro lado.»

Hilariante!

10/08/2015

Notas soltas sobre a Supertaça 2015/2016: SL Benfica 0 x 1 Sporting CP


1.  O vencedor Sporting: venceu a melhor equipa em campo, aquela que melhores processos (ofensivos e defensivos) apresentou, a que impôs o ritmo de jogo que pretendeu e a que criou mais oportunidades de golo.

2.  O vencido Benfica: uma equipa descaracterizada. Não tem a dinâmica fomentada por Jorge Jesus em épocas transatas e, acredito eu, tão pouco manifesta a que o técnico Rui Vitória ambiciona. A pré-época foi mal estruturada do ponto de vista desportivo, há jogadores a chegar e provavelmente outros sairão, mas os processos estão longe de agradar ou augurar bom prenúncio para o futuro. Por exemplo, há muito tempo que não via o Benfica a aliviar tantas bolas sem nexo para o meio-campo defensivo adversário. Porque será? Enorme a distância intersetorial e inexistência de opções múltiplas ao portador da bola (os apoios ao portador da bola são escassos e/ou pouco ou nada efetivos, mesmo na etapa de construção de jogo).

Imagem: Na Supertaça Cândido de Oliveira, época 2015/2016, o Sporting foi a melhor equipa.
(fonte: zerozero.pt; foto de Carlos Alberto Costa).

3.  Jorge Jesus: é um treinador excelente, diga-se o que se disser dele enquanto pessoa (isso pouco interessa no mundo do futebol). Tem o seu modelo, as suas ideias e sabe fazer com que os jogadores o interpretem e o ponham em prática. Um mês foi suficiente para transformar radicalmente os processos da equipa; quando outros pedem tempo, Jorge Jesus capitaliza os recursos que tem ao seu dispor.

4.  Rui Vitória: pede o tempo que um treinador não pode ter num clube bicampeão. Apreciei alguns processos defensivos, porém, ofensivamente, a equipa é pouco criativa e dinâmica e socorre-se, invariavelmente, de bolas paradas para chegar à grande área adversária. Muito pouco! Não será a chegada de um ou outro suposto craque que irá mudar esta tendência. É o treino e a boa transmissão (e interpretação) de referências, de princípios, que mobilizará o coletivo a expressar uma dinâmica conducente ao sucesso. Rui Vitória tem muito trabalho pela frente. Gostei da sua coragem em lançar jovens jogadores numa partida com elevada carga emocional.

5.  Melhores jogadores do Sporting: Dentro de um coletivo forte e coeso, destacaria os desempenhos de João Mário, Jefferson e Slimani.

6.  Melhores jogadores do Benfica: Como é óbvio, enalteço dois jogadores de caraterísticas mais defensivas: Lisandro López e Júlio César.

7.  Epílogo: «O todo é mais do que a mera soma das partes».