Luis Sepúlveda, aquele
que milhares de leitores já elegeram como o mais «português» dos escritores
latino-americanos. Não sou eu que o digo, consta na sinopse do novo livro
constituído por três «novelas negras»; o regresso do escritor chileno aos
policiais.
Imagem: Capa do livro «Diário de um killer sentimental» de Luis Sepúlveda. |
Muda o estilo literário,
mas a sua escrita continua sempre cativante. É como ir de férias com um guia
turístico carismático e conhecedor do envolvimento, sem realmente necessitarmos
de sair de casa. Ademais, o modo como Sepúlveda «humaniza» os seus diversos personagens
é de mestre. Para mim, Luis Sepúlveda está para a literatura como Andrea Pirlo está
para o futebol; é um senhor.
Como não gosto de dar
ponto sem nó, eis um breve trecho do livro:
– Achas mesmo que o sexo se presta a confusões? –
perguntou Anita passando-lhe uma lima pelos calos.
– Às vezes. Lembro-me de uma história que me contaram uns
arrieiros na Patagónia. Há dois anos, uma frente de mau tempo interrompeu as
manobras que um regimento de infantaria estava a realizar na fronteira com a
Argentina. Os tropas tinham suportado trinta dias e trinta noites a chover sem
parar, quando um tenente se aproximou do grupo de arrieiros para lhes perguntar
como é que eles aliviavam os tormentos de entre as pernas. Responderam-lhe que
da maneira mais conhecida, e que se se sentia muito apertado podiam levar-lhe
uma burra para junto do rio. O tenente negou-se, e com um gesto de repugnância
acusou-os de pervertidos. Passou outro mês. À chuva juntou-se a neve, e o
tenente tornou a encontrar-se com os arrieiros. Com toda a vergonha do facto,
pediu que lhe levassem a burra para o pé do rio. Os arrieiros, sem entenderem a
causa de semelhante pudor, disseram-lhe que muito bem, que no dia seguinte a
burra o esperaria junto do rio, que crescia cada vez mais. Ali esteve também
muito pontual o tenente e, depois de ordenar aos arrieiros que virassem as
costas, baixou as calças e começou a fornicar com o animal. Então um dos
arrieiros virou a cabeça e disse-lhe: «Meu tenente, a burra é para atravessar o
rio. As putas estão do outro lado.»
Hilariante!