Finda a época 2018/2019,
que consagrou o SL Benfica como campeão nacional, é tempo de fazer balanços,
apontar destaques, superar desilusões e preparar o futuro próximo. Eu, como
indivíduo interessado, para evitar cair no exagero de obcecado, por esquemas táticos
(i.e., situações fixas do jogo ou bolas paradas), continuei a minha demanda na recolha
de dados inerentes às grandes penalidades assinaladas na I Liga Portuguesa, a
atual Liga NOS.
Figura 1. Grande penalidade convertida por Paulinho no jogo Portimonense SC 3 x 0 CD Nacional, da 25.ª jornada da Liga NOS 2018/2019. |
A soma de mais uma época
eleva para 6 o número de épocas desportivas analisadas, perfazendo um total de 607
penáltis executados na I Liga Portuguesa desde 2013/2014 até 2018/2019,
envolvendo a participação de 26 clubes diferentes. A figura 2 discrimina o
resultado das grandes penalidades (valores absolutos) por época desportiva,
considerando três consequências possíveis: (1) golo (“goal”); (2)
defendido pelo guarda-redes (“saved”) e (3)
falhado (“missed”).
Figura 2. Resultados dos penáltis assinalados na I Liga Portuguesa (2013/2014 - 2018/2019). |
A época mais recente
trouxe um número anormalmente elevado de penáltis assinalados nos últimos anos
(n = 116), concretizando-se também muitos
golos através de grande penalidade (n
= 101; 87,1% de eficácia). A este facto não estará alheia a pronunciada
atividade do VAR (“Video Assistant Referee”) em 2018/2019, comparando,
naturalmente, com a sua época de estreia na Liga NOS – 2017/2018. O menor valor
traduzindo sucesso é encontrado na época 2016/2017, na qual apenas foram alcançados
68 golos da marca dos 11 metros, em 90 conversões (75,6% de eficácia). Se
avaliarmos estritamente o êxito dos guarda-redes (Gr) nestes lances, foi em
2015/2016 que houve uma maior percentagem de defesas, com 19,2% de interceções
do total de penáltis executados. A partir dessa época observou-se um decréscimo
progressivo do número de intervenções bem-sucedidas dos Gr, culminando com o
menor valor em 2018/2019 (7,76% de penáltis defendidos). De modo a evitar
raciocínios especulativos sobre esta tendência nestas situações fixas do jogo,
deixaremos a discussão dos presumíveis motivos para uma publicação futura
contendo dados e inferências mais consistentes. Quanto às grandes penalidades
falhadas (i.e., fora ou postes/trave), o valor mais elevado foi alcançado na
época 2016/2017 (8,9% dos penáltis falhados).
Figura 3. Pedro Trigueira (Moreirense FC) a defender a grande penalidade de Rodrigo (CD Aves), na 33.ª jornada da Liga NOS 2018/2019. |
No cômputo geral, as grandes penalidades resultaram em golo em 80,6% das ocasiões (n = 489), 13,3% (n = 81) foram defendidas pelos Gr e 6,1% (n = 37) erraram o alvo. Estes valores diferem ligeiramente dos apurados em investigações anteriores (e.g., Jordet et al., 2007; Palao et al., 2010; White & O’Donogue, 2013; Almeida et al., 2016), na medida em que se reportaram taxas de sucesso de grandes penalidades a variar entre os 70 e os 80,5%, sendo 15-20% defendidas pelos Gr e 5-10% falhadas. Neste caso, a única percentagem dentro dos limites acima indicados corresponde à dos penáltis falhados. Das duas, uma: ou os jogadores responsáveis pela marcação destas bolas paradas são especialistas de gabarito, ou os Gr a atuar no principal escalão de Portugal estão abaixo da média internacional, no que respeita ao acoplamento perceção-ação em contexto de grande penalidade. Fica a dúvida para investigação futura.
Por último, a figura 4
apresenta um gráfico referente às percentagens de golos convertidos através de
grande penalidade, por cada época desportiva em análise.
Figura 4. Percentagem de golos marcados de penálti na I Liga Portuguesa, por época desportiva. |
Se o valor mais elevado
foi registado na época 2013/2014, com 14,6% dos golos obtidos de penálti, o
formato do gráfico demonstra que, após um decréscimo até 2015/2016, a
percentagem estabilizou em torno dos 9%, voltando a aumentar na época que agora
termina (12,23%). Um tema que urge compreender é se as equipas técnicas estarão
a dar a devida atenção às grandes penalidades no processo de treino. Nesta
linha de pensamento, qual o tempo dedicado à prática da grande penalidade pelos
supostos especialistas da equipa e pelos Gr? Se em 100 golos marcados, 12 são
de penálti, faz todo o sentido não descurar uma décima parte de uma
determinante do sucesso como é a obtenção do golo.
Enfim, meros factos,
pensamentos e questões.
Referências
Almeida, C. H., Volossovitch, A.,
& Duarte, R. (2016). Penalty kick outcomes in UEFA
club competitions (2010-2015): the roles of situational, individual and
performance factors. International
Journal of Performance Analysis in Sport, 16(2), 508-522.
Jordet, G., Hartman, E., Visscher, C. and
Lemmink, K. (2007). Kicks from the penalty mark in soccer: the roles of stress,
skill, and fatigue for kick outcomes. Journal
of Sports Sciences, 25(2), 121-129.
Palao, J. M., López-Montero, M. and
López-Botella, M. (2010). Relationship between efficacy,
laterality of foot strike, and shot zone of the penalty in relation to competition
level in soccer. International Journal of
Sport Science, 6(19), 154-165.
White, S. and O’Donoghue, P. (2013). Factors
influencing penalty kick success in soccer. In Nunome, H., Drust, B. and
Dawson, B. (Eds.), Science and football VII:
The proceedings of the seventh world congress on science and football (pp.
237-242). London: Routledge, Taylor & Francis Group.
PS. – No passado dia 18
de maio de 2019, o blogue Linha de Passe completou 14 anos de existência virtual.
Tudo começou quando estava na faculdade e jamais imaginaria, volvidos tantos
anos, continuar a escrever por estas bandas. As forças ocultas que regem o
universo têm conspirado para que o dia 18 de maio, coincidentemente ou não,
seja um dia marcante na minha vida, por motivos bem distintos. Não houve
oportunidade para escrever especificamente sobre isso, pelo que tentarei no
15.º aniversário se as tais forças ocultas assim o permitirem. Caros amigos e/ou
leitores: saúde, sorte e sucesso para todos vós.