Estamos
a fechar a década de 2010. Uma década marcada pelo egocentrismo escarpado, crescendo
numa proporcionalidade inversa ao esgotar do período temporal em questão. Julgo
poder afirmar, com maior ou menor direito a generalização, que “o teu umbigo é
menor do que o meu” (figura 1).
Figura 1. Umbigos (fonte: DeviantArt.com). |
Olho
primeiro para o teu, porque para o meu já olhei diversas vezes, ou talvez até
nem me lembre de qual foi a última vez. Aliás, será que já perdi algum tempo a
olhá-lo como deve de ser? Nem sei… mesmo assim, “o teu umbigo é menor do que o meu”.
Vivemos
na era da superioridade moral, intelectual, racial e, porque não, ideológica. A
diferença na perspetiva de quem ajuíza é sinónimo de inferioridade, de menosprezo.
As teorias, os factos, as evidências ou as meras suposições alheias são, à
partida, refutadas pelo grau (subjetivo) de aversão à diferença ou, se
preferirem, pelo estatuto inato de superioridade, seja ela de que tipo for. Há
uns de primeira e outros de terceira categoria/classe, como os lugares nos
aviões. “O teu umbigo até pode ter o seu quê de interessante, mas é menor do
que o meu”.
E
isto é tão, mas tão notório que, para a próxima década, peço apenas que disseminem a cura para a cegueira, a pior doença do século XXI. Não é aquela que nos apaga
a luz do mundo para sempre, essa também é horrenda e não se deseja a ninguém. É
aquela que, ainda que tenhamos toda a perceção sensorial, nos tolda intrinsecamente
a razão e, por inerência, as virtudes da natureza humana. Uma praga com um
poder de contágio sem paralelo.
Que
2020 nos traga a lucidez para uma mudança comportamental pois, como
escreveu o meu amigo Eduardo Jorge Duarte, em Uma Coruja nas Ruínas
(2018), “a cegueira maior é não saber olhar para dentro”.
Afinal,
parece que o meu umbigo é um pouco disforme.
Boas saídas e melhores entradas!
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