O dia está frio. O amigo Sol foi descansar e a Lua escondeu-se atrás da cortina cinzenta que banha o escuro do céu. Sigo enregelado por este frio súbito, bem dentro de época, que habilmente me soube "fintar".
Nas ruas sopra uma brisa que me cumprimenta através daquilo que não me pertence. Um saco de plástico voa abandonado por entre paredes vizinhas como um intruso que penetra num espaço que também não lhe pertence. Depois de usado e deitado fora, ali está ele - o saco de plástico - aos meus pés, um companheiro de caminhada. A efemeridade é tramada e deixo-o para trás, já passou. Um momento presente como tantos outros que já passaram e continuarão a passar.
Esfrego as mãos, maldito frio que não me larga. "Porra!", murmuro entredentes. Nenhum pensamento me aquece por dentro, mas como "ele" me surpreendeu, acaba sempre por acontecer algo mais que me irá surpreender, como que de um ciclo vicioso se tratasse. Encontro nesta minha jornada uma bela casca de banana. Solto um sorriso masoquista, por entre malícia expressa contra o meu próprio ser. "Não, tu és parvo", adverte o meu superego.
Um alvo. Os meus passos aceleram, os braços relaxam entre o frio esquecido pela nova ideia. Vejo-a, sei o que quero, já disse que não vou parar? Já! Pois, piso a casca da banana e faço questão de cair. Tão ridículo, porém é tão bom.
Olho o céu, fico ali estendido no chão, devorado pelo frio. Sorrio novamente, uma réstia de esperança que me enche o campo de visão em busca de uma aberta. Não quero muito, uma só aberta para poder ver novamente as estrelas. Como gosto de as contemplar. São a minha anestesia. Sabem porquê?
Fazem-me sonhar.
2 comentários:
Lanças a pergunta e procuro responder. Não estarão as estrelas a fazer-te sonhar na ESTRELINHA? Continua baixinha no céu, com as pontas bem alegres e aberta aos sonhos de qualquer ser humano ou cósmico.
A Estrelinha?
Se for a da sorte, pode ser.
Enviar um comentário