30/04/2012

Ó "mestre da tática": mais do mesmo?

Jorge Jesus confirmou ontem o falhanço do SL Benfica na presente edição da Liga ZON Sagres. Após apresentar uma vantagem de cinco pontos sobre o FC Porto à 17ª jornada, ou seja, a 13 jornadas do final, seria difícil esperar que estivesse 6 pontos atrás do atual bicampeão a duas jornadas do final.


Assim é. Uma segunda volta que foi, a todos os níveis, desastrosa, da mesma forma que classifico a eliminação da Taça de Portugal, diante do Marítimo. Do plantel de Jesus, foram excluídos dois internacionais portugueses - Carlos Martins e Rúben Amorim - até ao momento sem justificação lógica. E que jeito dariam estes jogadores nesta (brilhante) segunda volta.

Dizem que Jorge Jesus é teimoso. Apostou forte em Roberto na época passada; nesta época a "sorte" recaiu em Emerson, relegando para segundo plano jogadores como Nolito, Capdevilla e Saviola, em momentos chave da temporada. Além disso, e perdoem-me a minha frontalidade, parece-me que o ainda técnico benfiquista peca em demasia na leitura que faz dos acontecimentos do jogo.

No encontro de ontem, por exemplo, questiono a mudança efetuada ao intervalo. Retirar Matic, que equilibrou o setor do meio-campo durante a primeira parte, para "lançar" Saviola, em situação de vantagem no marcador (1-2), tem tanto de audaz como de irracional. O SLB consentiu o empate aos 49 minutos e, verdade seja dita, não sofreu o terceiro golo por mero acaso. Foi precisamente nos instantes em que os visitantes estiveram sem o típico médio de cobertura que o Rio Ave se sentiu mais confortável na partida, dispondo de imenso espaço no meio-campo para progredir no terreno e, subsequentemente, explorar a velocidade dos seus extremos.

Curiosamente, ou não, a entrada de Javi García trouxe o condão de equilibrar a ocupação do espaço no setor intermediário, conduzindo a nova preponderância do Benfica no jogo. Tarde demais: o empate não foi desfeito. Talvez muitos não concordem comigo, mas a prestação do Cardozo voltou a ser uma lástima. Não admito que um avançado de um clube grande entre somente em campo para marcar grandes penalidades. Cardozo é bom a finalizar, mas pouco ou nada cria, pouco ou nada contribui para desorganizar o método defensivo adversário. Não raras as vezes, fica arredado do jogo, perdendo bolas aparentemente fáceis de controlar e adotando uma atitude passiva na dinâmica coletiva da equipa. E quando se pensa que, pela sua estatura, pode ganhar duelos em bolas aéreas ou proteger a bola para esperar apoios ou roturas dos seus companheiros, como faz Fernando Llorente no Athletic Bilbao, deparamo-nos com uma certa incapacidade, por vezes confrangedora. Por muito lógicos que sejam os argumentos em contrário, não perceberei porque atuou os 90 minutos.

Resumindo, ontem Jorge Jesus voltou a fazer "mais do mesmo". Opções duvidosas a sustentar um plano de jogo, quiçá, inexistente ou mal elaborado. No final, o treinador benfiquista ainda proferiu o seguinte: Fizemos o mais difícil. Sabíamos que o Rio Ave no seu estádio é uma equipa que complica as formações grandes. Invertemos um resultado de 0-1 para 2-1. Na segunda parte quando pensamos que podíamos fazer mais não conseguimos. (in Record). Ora, se a equipa reagiu bem à desvantagem e estava por cima no jogo, diante de um conjunto que complica a vida aos grandes no seu reduto, então porquê mudar? Porquê pensar em "fazer mais", quando na realidade se fez muito menos? Algo não bate certo.

Não sei se vai embora, ou fica mais um ano. Sei sim que, particularmente na edição 2011/12 da I Liga, o FC Porto bem pode agradecer a teimosia e a arrogância do autoproclamado "mestre da tática".

22/04/2012

Treino padronizado: que transfer para o jogo?

Atualmente, a investigação científica reconhece a teoria dos sistemas dinâmicos e a abordagem baseada nos constrangimentos como correntes teóricas profícuas para o estudo e desenvolvimento do futebol. De facto, o jogo pressupõe interações de cooperação e oposição complexas, por diversas vezes ocorrendo em contextos imprevisíveis, e cujo processo de treino deverá ser sempre equacionado em função da natureza do fenómeno competitivo.

Não é novidade nenhuma a enorme propensão de muitos dos nossos treinadores em elaborar situações de exercício padronizadas, portanto, implicando circulações táticas estanques, com oposição nula ou reduzida (um ou dois defensores + guarda-redes ou somente diante do guarda-redes), na esperança de que no jogo seguinte possam, no mínimo, concretizar-se numa ocasião.


Tome-se, por exemplo, a figura acima. O médio interior coloca a bola no extremo esquerdo, executa uma desmarcação nas costas do recetor para, posteriormente, cruzar para a grande área próximo da linha de fundo. Entretanto, o avançado entra ao primeiro poste, enquanto o extremo realiza uma diagonal para explorar o espaço à entrada da grande área ou na zona do segundo poste, tendo como opositores dois defensores e o guarda-redes (GR).

Eventualmente, cria-se uma variante do exercício como alternativa ao primeiro padrão.


O médio interior realiza passe vertical para o avançado que entretanto “baixou” para receber a bola. O avançado executa um passe diagonal de rotura para a subida do extremo no corredor lateral, no intuito de cruzar para o interior da área. O médio interior tem como objetivo procurar a finalização à entrada da área ou na zona do segundo poste, o avançado mantém o deslocamento ao primeiro poste, conservando-se a oposição de 2 defensores e o GR.

São meios de treino que, a meu ver, condicionam as qualidades que melhor distinguem os grandes jogadores: leitura do jogo e criatividade. Estes dois aspetos conjugados determinam, de sobremaneira, a capacidade tática dos protagonistas, ou seja, a habilidade de solucionar eficazmente problemas que emergem de contextos situacionais do jogo. Contextos esses que, invariavelmente, são distintos e que, por isso, exigem soluções também elas distintas e que não se encontram no leque de alternativas proporcionadas pelos treinadores neste tipo de treino padronizado. A dinâmica do jogo, englobando relações de cooperação com os colegas de equipa e de oposição com os adversários, está em permanente mutação e este aspeto não pode nunca ser descurado, caso se pretenda melhorar efetivamente os desempenhos da equipa no global e dos jogadores individualmente.

Posto isto, parece-me que o jogo per se deve ser o núcleo de todo o processo treino e cuja diversidade de cenários criados resulte da manipulação de constrangimentos impostos aos praticantes. Além disso, as soluções para os problemas que decorrem dessas situações de treino devem, em primeira instância, ser resolvidos pelos jogadores, segundo uma metodologia oscilando entre aquilo que Duarte Araújo (citado por Fonseca & Garganta, 2006) diferencia como descoberta guiada (i.e., conduzir o jogador individualmente ou a equipa a atingir uma determinada referência) e ensino divergente (i.e., preparar um contexto para que o jogador ou a equipa alcancem os objetivos por meios que podem divergir das expectativas e dos conhecimentos iniciais do próprio treinador).  


Referência
Fonseca, H., & Garganta, J. (2006). Futebol de rua: um beco com saída. Do jogo espontâneo à prática deliberada. Lisboa: Visão e contextos.

02/04/2012

Um lateral esquerdo a equacionar...

Bruno Teles é o lateral esquerdo do Vitória de Guimarães. É brasileiro, vai fazer 26 anos em Maio e, a meu ver, apresenta uma margem de evolução considerável. Numa altura em que se fala de possíveis entradas e saídas no plantel do SL Benfica, estou em crer que Bruno Teles poderia ser um reforço com qualidade para o setor defensivo da equipa, particularmente no lado esquerdo.

Para além de o pé dominante ser o canhoto, o jogador integra bem os movimentos ofensivos da equipa, como se pode constatar pelos golos que costuma marcar (o último foi ontem diante do Paços de Ferreira; ver aqui), é relativamente rápido e competente a defender, ainda que deva melhorar em termos de cultura tática.

A crise que assola a Europa, e o nosso país, não permite que os clubes cometam grandes loucuras em termos de contratações. A qualidade da prospeção assume, assim, um fator de inegável valor no intuito de adquirir jogadores cuja relação preço/qualidade seja apetecível e que, posteriormente, possa ser potenciada no curto/médio prazo. O exemplo do SC Braga é paradigmático: é possível formar planteis competitivos e com orçamentos mais modestos comparativamente à concorrência (i.e., adversários diretos).

A este propósito, Bruno Teles parece-me ser uma opção muito interessante, face às carências da equipa profissional do SL Benfica e aos objetivos propostos no início da época. Mesmo que não se assumisse como titular indiscutível, o que não seria complicado de suceder perante as opções que Jesus atualmente possui, poderia ser sempre uma alternativa credível e com margem de progressão. É, portanto, um lateral esquerdo a equacionar para um futuro não muito distante.