Não é de agora que nutro
uma admiração especial pelas capacidades futebolísticas do médio português João
Moutinho. Já nos seus tempos no Sporting
Clube de Portugal se fazia notar uma competência de jogo, marcada pela
cultura tática, qualidade técnica e disponibilidade física, muito acima da
média. Neste particular, João Moutinho destoava dos seus companheiros de
equipa, assumindo claramente a liderança dos processos no setor do meio-campo.
Com a saída para Futebol Clube do Porto, vendido a preço
de “maçã podre” (uns meros 10 milhões de Euros), Moutinho melhorou bastante a
competitividade, a intensidade de jogo e as demais competências que havia
manifestado no seu clube de formação. Neste âmbito, julgo que o trabalho com
André Villas-Boas possibilitou que o jogador alcançasse um nível de desempenho
mais elevado.
O seu jogo transborda
inteligência, não apenas quando a sua equipa detém a posse da bola, mas também
quando se encontra em processo defensivo. Defensivamente, desempenha uma função
fundamental no meio-campo da sua equipa. É muito forte e imediato na pressão
sobre o portador da bola, forçando frequentemente o erro. É muito competitivo
na disputa da bola, levando a que recupere muitas vezes a sua posse, através
de desarme e, inclusivamente, em situações de jogo aéreo (cabeceamento). Um
outro exemplo de que a estatura não é sinónimo de competência no futebol. Ocupa
muito bem o espaço de jogo, contribuindo para a) “cortar” linhas de passe interiores, designadamente na direção
do seu setor mais recuado, b)
compensar a subida dos laterais, cobrindo/equilibrando o espaço na sua
retaguarda e c) incrementar a
eficácia do processo coletivo da equipa na pressão defensiva sobre o conjunto
oponente.
Com a posse da bola,
João Moutinho é uma “enciclopédia prática”. É fantástico a “ler” o jogo e
consegue dar, quase sem exceção, boa sequência ao ataque da equipa,
independentemente do método aplicado. Vemo-lo quer a “baixar” no terreno de jogo
para transportar a bola na etapa de construção, quer a executar deslocamentos em
profundidade no intuito de desequilibrar a organização defensiva adversária,
tanto pelo corredor central, como pelos laterais. Por vezes, faz permutas com
companheiros do setor avançado, assumindo sem desdém as respetivas funções. É
exímio a marcar o ritmo de ataque da equipa e apresenta uma capacidade de passe
excelente, rubricando assistências primorosas para golo. Não arrisca muitas
vezes o remate e este é, a meu ver, um aspeto que poderia melhorar: aparecer
mais vezes em zonas de finalização e trabalhar a eficácia da ação de remate.
Em seguida, deixo-vos um
vídeo que elaborei, com um compacto das ações do João Moutinho no jogo contra a
República Checa (21-junho-2012), e que demonstra o que mencionei anteriormente.
O jogador algarvio enche
o campo e enche-me as medidas. É o 8 da nossa seleção, mas não revela
características exclusivas de um “box-to-box”. Possui ainda qualidades bastante
valorizadas em jogadores que atuam nas posições 6 e 10. Na minha perspetiva,
vale todos os milhões de Euros da sua cláusula de rescisão. Sem desprimor para
o grande clube que é o FC Porto,
penso que está na altura de dar salto. Não me engano por muito se afirmar que os
colossos europeus – Real Madrid, Barcelona, Bayern Munique, Manchester
City, Manchester United, Juventus, AC Milão, Inter de Milão,
etc. – não possuem nos seus planteis muitos jogadores como este, o melhor médio
do futebol português na atualidade: o (pequeno) grande João Moutinho.