O jogo de futebol
engloba duas fases distintas: a ofensiva e a defensiva. É nesta dualidade que
assenta os processos das equipas, obviamente inerentes à problemática de deter
ou não a posse de bola. Creio que esta é a visão mais simples e crua daquilo
que sobressai de um jogo: uma equipa ataca, outra defende.
Contudo, e nos anos mais
recentes, instaurou-se um pouco por toda a comunidade do futebol a ideia dos momentos.
Há quem apregoe à existência de quatro momentos – organização defensiva,
organização ofensiva, transição defesa-ataque e transição ataque-defesa – e há
quem considere a existência de cinco momentos ao acrescentar as situações de
bola parada (i.e., esquemas táticos).
Na minha perspetiva,
estas convenções pouco ou nada acrescentam ao que estava anteriormente
delimitado tendo como base a dualidade do jogo. Tanto para o processo ofensivo,
como para o processo defensivo, pode entender-se a existência de etapas e métodos (Castelo, 2004). As etapas do jogo ofensivo são: construção,
criação da situação de finalização e finalização; no jogo defensivo, temos as
etapas de equilíbrio defensivo, recuperação defensiva e defesa propriamente
dita. Em termos de métodos ofensivos, são vulgarmente conhecidos o
contra-ataque, o ataque rápido e o ataque posicional. Ataque rápido e contra-ataque
distinguem-se, essencialmente, pelo facto da equipa oponente estar ou não organizada
defensivamente. No processo defensivo podemos ter um método individual (marcação
individual), à zona, misto ou zona pressionante.
Posto isto, o surgimento
dos momentos deu-me uma certa volta à cabeça. O que é um “momento”? Porquê
tanto destaque dado às transições, quando na realidade são meras etapas do
ataque ou da defesa? Haveria alguma falha de maior para se desconsiderar as
etapas e os métodos associados às duas fases antagónicas do jogo? Parece-me que
não.
Segundo o dicionário de
língua portuguesa, um “momento” é 1) breve período de tempo, instante; 2) pouca
duração; 3) tempo ou ocasião em que alguma coisa se faz ou acontece; 4)
circunstância, lance; etc. Por sua vez, uma “transição” poderá ser 1) ato ou
efeito de passar de um lugar, de um estado ou de um assunto para outro; 2)
passagem que comporta uma transformação progressiva; etc. Tendo, por exemplo, o
momento da transição ataque-defesa percebe-se que é o período de tempo em que
uma equipa passa de um estado para o outro, no caso desde o instante
da perda da posse de bola até à organização defensiva. Então, porque é que se
refere que esta ou aquela equipa é “de transição”? No decurso do jogo as
mudanças de estado não são constantes? Todas as equipas experienciam essas
transições, embora umas privilegiem a organização, enquanto outras explorem mais as
ditas "transições". É aqui que, na minha opinião, esta teoria dos “momentos”
peca, tornando-se mais insidiosa do que a anterior. Os momentos confundem-se
com os métodos.
Tomemos como exemplo os
dois golos de Cristiano Ronaldo, diante da Holanda, no passado domingo.
Métodos distintos
apoiados na capacidade coletiva da equipa em jogar consoante as circunstâncias
do jogo. Se os espaços estão fechados, então circula-se a bola no intuito de
criar desequilíbrios que possam ser aproveitados. Se, ao invés, o contexto é
propício para o contra-ataque, a equipa deve estar preparada para saber/conseguir tirar
proveito rapidamente do desequilíbrio defensivo contrário. É assim que funcionam as equipa de topo e para as quais
jamais deveriam ser colados rótulos derivados de designações inoportunas de
momentos do jogo.
Referências
Castelo, J. (2004). Futebol – A organização dinâmica do jogo. Lisboa: FMH Edições.
Porto Editora, LTA. (2003). Dicionário da língua portuguesa. Porto: Porto Editora.
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