Os benefícios decorrentes da prática de atividade desportiva desde idades jovens são bem conhecidos. Associado à atividade regular de uma dada modalidade desportiva, há, porém, um risco aumentado de lesão. Nos últimos três/quatro anos, enquanto treinador de futebol, tenho-me deparado com um número crescente de casos de jovens pré-adolescentes e adolescentes com fortes dores no(s) joelho(s) que, frequentemente, causam incapacidade e forçam os miúdos a parar.
O diagnóstico é quase sempre o mesmo: síndrome de Osgood-Schlatter. Trata-se de uma doença osteomuscular (e extra-articular) comum em adolescentes, predominantemente do género masculino, entre os 10 e os 15 anos. Embora a incidência seja menor, nas raparigas os casos tendem a suceder entre os 8 e os 13 anos e é crível que as diferenças para o género masculino diminuam à medida que aumenta o envolvimento das raparigas no desporto. De acordo com o recente artigo de revisão de Domingues (2013), este tipo de lesão afeta 1 em cada 5 adolescentes.
Basicamente, esta síndrome é caraterizada pela existência de uma espécie de nódulos dolorosos imediatamente abaixo do joelho, mais propriamente na inserção do tendão patelar (ou rotuliano), isto é, na tuberosidade anterior da tíbia. O stress mecânico provocado pelo tendão patelar, resultante da atividade contrátil do quadricípite, promove a separação parcial de fragmentos ósseos da tuberosidade anterior da tíbia e, consequentemente, ossículos dolorosos.
Imagem: Radiografia de um caso de Osgood-Schlatter (fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_Osgood-Schlatter).
Não é por acaso que a síndrome de Osgood-Schlatter acontece no período da vida acima mencionado. Durante a fase de desenvolvimento músculo-esquelético, as cartilagens de crescimento do osso – placas epifisárias – são muito mais vulneráveis à tensão mecânica induzida pela atividade contrátil dos músculos. Daí que, por exemplo, o treino regular de alta intensidade (corrida, saltos e outras ações dos membros inferiores) e o excesso de peso constituam fatores de risco inerentes ao surgimento da lesão. O futebol, o basquetebol, o voleibol e o atletismo são algumas das modalidades desportivas em que incidência de Osgood-Schlatter é mais referenciada (Domingues, 2013).
No cômputo geral, a dor no joelho cessa no final do período abrupto de crescimento (dura, aproximadamente, 2 anos) e as consequências de longo-prazo tendem a ser otimistas para a maioria dos jovens. A síndrome de Osgood-Schlatter é, portanto, temporalmente limitada e é expectável que ocorra uma recuperação completa com o “fechar” da placa de crescimento tibial. O tratamento deve incluir exercícios de terapia funcional com a expansão da musculatura isquiotibial, que é preferível relativamente à imobilização da articulação. Segundo Domingues (2013), esta medida é recomendada mesmo que ocorra a formação de ossículos que, no entanto, apenas se observam em 20-25% de todos os casos de Osgood-Schlatter. Em última instância, a cirurgia para remover os nódulos ósseos pode ser uma opção, mas apenas quando as medidas terapêuticas convencionais não são suficientes.
Os treinadores desportivos podem tomar algumas precauções para prevenir ou condicionar o aparecimento da lesão. A literatura é consensual acerca da prescrição regular de exercícios de alongamento muscular. Um bom aquecimento prévio da musculatura da coxa (quadricípites e isquiotibiais) e da articulação do joelho pode, também, minimizar os efeitos das ações locomotoras e específicas da modalidade desportiva na placa epifisária da tíbia. Crianças/jovens com excesso de peso devem ser encorajados a perder massa corporal e, por último, os jovens devem evitar realizar atividades/exercícios com cargas exageradas e que proporcionem um stress excessivo no tendão patelar (Domingues, 2013).
Referências
Domingues, M. (2013). Osgood Schlatter’s disease - A burst in young football players. Montenegrin Journal of Sports Sciences and Medicine, 2(1), 23-27.
Wikipédia (n. d.). Síndrome de Osgood-Schlatter. Retrieved March 27, 2013, from
http://pt.wikipedia.org/wiki/S%C3%ADndrome_de_Osgood-Schlatter
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