30/03/2015

A relevância dos árbitros no futebol de formação

Na sequência do jogo de ontem da equipa que treino, no escalão juvenis (Sub-17), cada vez me convenço mais que os árbitros são elementos preponderantes no futebol de formação. O modo como ajuízam os lances dos jogos e como reagem às frustrações, às alegrias e a outras emoções que o jogo despoleta, é determinante neste processo que não se restringe às práticas (boas ou más) que os treinadores proporcionam nas sessões de treino.

Crianças e jovens, por estarem em períodos de crescimento, maturação e desenvolvimento, não são obrigados a agir e/ou reagir sempre de forma correta ou educada. Aliás, muitos jogadores seniores amadores, e até mesmo profissionais (!), não o fazem. O futebol é emoção e a emoção, por si, frequentemente se sobrepõe à razão. Quem teve/tem a oportunidade de competir em jogos desportivos reconhece veracidade no que estou a referir. Por isso, a meu ver, o bom senso deve predominar em quem dirige os jogos.

Passemos, então, a um exemplo que retirei do jogo de ontem. Em causa está um jogador da minha equipa que, até aos 36 minutos de jogo, não havia demonstrado nenhum comportamento incorreto perante os adversários e os árbitros. O jogo estava bem disputado, praticamente sem faltas de parte a parte e onde imperava a boa conduta entre os jogadores.


Face a uma falta que lhe foi assinalada, o jogador teve um mero desabafo: «Oh, car…!». Ok, não é agradável de se ouvir, mas, repito, até então não houve qualquer situação problemática para a equipa de arbitragem. Ainda que demonstrasse indignação face à decisão (correta) tomada pelo árbitro, não houve nenhuma «boca» ou falta de respeito direcionada ao mesmo. Tratou-se apenas de uma discordância. O jogador (16 anos) não foi advertido, não foi admoestado com o cartão amarelo e recebeu ordem de expulsão imediata do jogo (i.e., cartão vermelho direto). Não se percebe…

Imagem: A solução mais fácil é... cartão vermelho!

Na minha opinião, e tendo em consideração que o futebol de formação serve para FORMAR, esta foi a pior decisão possível do árbitro. Para além disso, o jogador que já havia sido expulso na primeira fase (num jogo diante do seu anterior clube e em que não houve árbitro nomeado…), corre o risco de ficar os próximos 2/3 jogos sem poder jogar pela sua equipa.

Estas situações estranhas e totalmente evitáveis continuam a existir, fim-de-semana após fim-de-semana, no nosso futebol. Se pretendemos formar melhores praticantes e cidadãos, todos os agentes desportivos devem estar preparados e sintonizados para educar, com alguma pedagogia, as crianças e os jovens e não recorrer aos caminhos mais fáceis e absurdos e que, a médio/longo prazo, culminam com a saturação e o abandono da modalidade.

Sim, porque «sacar» um cartão é muito mais fácil do que, pacientemente, dialogar com o jogador e fazê-lo ver que a conduta foi incorreta. Caso tal aconteça e seja persistente, compreende-se que as medidas sejam mais drásticas, agora assim… é incompreensível, absurdo e maldoso.

5 comentários:

Anónimo disse...

Fácil?! Já experimentaste arbitrar um jogo de futebol? Experimenta! Os árbitros não são formadores. O que estão lá a fazer os treinadores? Na tua vida já foi ter contigo algum policia ou juiz e disse para não roubares? Ou essa educação tem de vir de ti próprio e da tua vida?

Carlos Humberto Almeida disse...

Caro anónimo, permita-me que responda às suas questões por pontos:

1) Nunca afirmei durante o texto que era fácil arbitrar um jogo de futebol. Apenas referi que mostrar um cartão para impor autoridade é muito simples; o contrário é que parece ser mais difícil.

2) Sim, já arbitrei inúmeros jogos de futebol, nos diversos escalões de formação, e nunca senti a necessidade de expulsar ninguém à primeira contestação que sucedeu, mesmo que tivesse ocorrido de forma mais exaltada.

3) Discordo, na formação, como agentes desportivos, os árbitros também desempenham um papel na formação dos jogadores. Não são apenas os treinadores e os dirigentes.

4) Sim, na minha vida, já fui alertado pela GNR para não deixar o carro em segunda fila, caso contrário, numa próxima oportunidade seria multado. Perante as circunstâncias, que não vale a pena especificar, reinou o bom senso do agente.

5) Ninguém nasce educado/ensinado, as pessoas são educadas pelos pais, pelos professores, pelos instrutores, pelos treinadores, pelos dirigentes e, porque não, pelos árbitros. Quem pensa o contrário, como o(a) senhor(a), não partilha da mesma visão que eu em relação ao que é «viver em sociedade».

Eduardo Duarte disse...

Alguém que não dá a cara por um comentário e considera que o papel de um treinador, de um dirigente, de um elemento do corpo clínico, de um pai ou de uma mãe, de um adepto, ou de um árbitro no futebol de formação é tudo menos contribuir para o crescimento cívico e ético, em primeiro lugar, e desportivo, depois, de um jogador jovem, não só está a mais em blogues desta natureza, como está a mais no desporto e na vida colectiva.
E, sim, caro anónimo, a atitude da polícia e dos tribunais junto das nossas crianças e adolescentes também deverá ser, numa primeira abordagem, pegagógica, de indicação de caminhos e, sempre, de lucidez, mesmo que posteriormente venha a ser aplicada alguma coação ao prevaricador.
Mas tal como existem maus árbitros e maus comentadores, sem formação e sem educação, infelizmente, também existem maus polícias e maus juízes.

Anónimo disse...

Depois do que li, só posso dizer que essa expulsão foi encomendada!

Carlos Humberto Almeida disse...

Boa noite, caro anónimo.

Infelizmente, tive a oportunidade de receber diversas mensagens idênticas à sua de pessoas que, inclusivamente, assistiram «in loco» ao jogo. Eu prefiro permanecer ingénuo e pensar que no futebol de formação não acontecem tais coisas...

Cumps,

CA