Nos agora saudosos
tempos de faculdade tive, por diversas vezes, de me socorrer de artigos
científicos internacionais e, na área das Ciências do Desporto, o Journal of Sports Sciences sempre foi
uma referência, quase que obrigatória, para a maioria dos estudantes. Durante a
licenciatura, por exemplo, de vez em quando aparecia uma cadeira que exigia
pesquisas mais elaboradas e leituras mais demoradas e nem sempre cativantes.
Alguns desses trabalhos, do tipo de revisão bibliográfica, aborreciam-me à data
e o nome Journal of Sports Sciences
era uma constante raramente bem apreciada. A esta distância consigo perceber
que o grau de imaturidade académica ainda era elevado.
Figura 1. Capa do Journal of Sports Sciences.
Mais tarde, ao entrar no
mercado de trabalho, começaram a surgir algumas questões práticas que queria
poder responder, mas não sabia, ou tinha as minhas incertezas. Aquelas perguntas
típicas dos 4/5 anos, contudo, aplicadas à vida adulta profissional: «porquê?»,
«onde?», «quando?» e «como?». Fui à descoberta de respostas no mestrado e a
necessidade de investigar, saber mais, estar atualizado, tornou-se insaciável.
Perguntas que pediam respostas e respostas que geraram novas questões sobre
aquilo que mais gosto no desporto: o treino de futebol.
Em meados de 2014, as
questões que traduziam as nossas dúvidas eram: (1) Se modificarmos o número e
as dimensões dos alvos/balizas em jogos reduzidos, que implicações tem no
desempenho defensivo de jovens praticantes de futebol; (2) Será que a
manipulação dos alvos nos jogos reduzidos afeta do mesmo modo o desempenho de
jovens praticantes com idades e níveis de experiência distintos? No final dessa
época – 2013/2014 – fomos para o terreno recolher imagens com miúdos Sub-13 (Infantis)
e Sub-15 (Iniciados). A partir de então, em conjunto com os professores
Ricardo Duarte, Anna Volossovitch e António Paulo Ferreira (Faculdade de
Motricidade Humana, Universidade de Lisboa), não mais paramos até hoje: data de
publicação do artigo «Scoring mode and age-related effects on youth soccer
teams’ defensive performance during small-sided games», no suplemento Science and Medicine in Football do famigerado
Journal of Sports Sciences. Aqui vos deixo alguns detalhes sobre o artigo:
Figura 2. Codificação da performance defensiva através do software Match Vision Studio Premium.
Abstract
This study aimed
to examine the scoring mode (line goal, double goal or central goal) and age-related
effects on the defensive
performance of youth soccer players during 4v4 small-sided games (SSGs).
Altogether, 16 male players from 2 age groups (U13, n = 8, mean age: 12.61 ±
0.65 years; U15, n = 8, 14.86 ± 0.47 years) were selected as participants. In
six independent sessions, participants performed the three SSGs each during
10-min periods. Teams’ defensive performance was analysed at every instant ball
possession was regained through the variables: ball-recovery type, ball-recovery
sector, configuration of play and defence state. Multinomial logistic
regression analysis used in this study revealed the following significant main
effects of scoring mode and age: (1) line goal (vs. central goal) increased the
odds of regaining possession through tackle and in the defensive midfield
sector, and decreased the odds of successful interceptions; (2) double goal
(vs. central goal) decreased the odds of regaining possession through turnover
won and with elongated playing shapes; (3) the probability of regaining
possession through interception significantly decreased with age. Moreover, as
youth players move forward in age groups, teams tend to structurally evolve
from elongated playing shapes to flattened shapes and, at a behavioural level,
from defending in depth to more risky flattened configurations. Overall, by
manipulating the scoring mode in SSGs, coaches can promote functional and coadaptive
behaviours between teams not only in terms of configurations of play, but also
on the pitch locations that teams explore to regain possession.
Keywords: task constraints, performance analysis,
configurations of play, collective behaviours, defensive behaviours.
Reference
Almeida, C. H.,
Duarte, R., Volossovitch, A., & Ferreira, A. P. (2016). Scoring mode and age-related effects of youth soccer
teams’ defensive performance during small-sided games. Journal of Sports
Sciences. doi: 10.1080/02640414.2016.1150602
(link)
Pelo enorme trabalho de
logística associado ao projeto, pelas frustrações e problemas que tivemos de superar,
tanto nas sessões experimentais como nas submissões iniciais que não chegaram a
bom porto, e pela fantástica cooperação e solidariedade existente entre todos,
expresso os meus sinceros agradecimentos às inúmeras pessoas (jogadores,
assistentes, colaboradores e dirigentes) e entidades envolvidas (Juventude
Desportiva Monchiquense e Faculdade de Motricidade Humana) neste trabalho. Em
especial, uma palavra de apreço para os professores (e coautores) Ricardo, Anna
e António Paulo que, apesar de terem as suas agendas mais que preenchidas,
nunca colocaram de parte a colaboração no estudo e, de forma abnegada, contribuíram
com sugestões absolutamente decisivas para o produto final. É um orgulho poder
partilhar esta ocasião convosco.
Espero que os leitores gostem.
Para aqueles que têm um papel ativo na área do treino desportivo, em particular
nos jogos desportivos coletivos, torço para que estas conclusões sejam úteis e,
sobretudo, que estimulem a busca por novas respostas a outras tantas novas
questões.
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