Hughes
et al. (1998) defined a
perturbation in soccer as an incident that changes the rhythmic flow of
attacking and defending, leading to a shooting opportunity. For example, a
perturbation could be identified from a penetrating pass, a dribble, a change
of pace or any skill that creates a disruption in the defence and allows an attacker
a shooting opportunity.
(McGarry et al., 2002: 775)
Dia 28 de agosto de 2016. O Manchester City recebeu e venceu
o West Ham United por 3-1. Até aqui, nada de anormal. Os «Citizens», porém,
mudaram imenso com a chegada de Pep Guardiola. À 3ª jornada, o cunho do
treinador está lá e o ataque posicional uma marca distintiva na sua ideia de
jogo. Vislumbremos o primeiro golo do jogo, aos 7 minutos:
O ataque posicional preconizado pelas equipas de Pep
Guardiola é, para muitos, chato, aborrecido e entediante. Na minha perspetiva, as principais finalidades
são (1) encontrar o timing oportuno
para criar a perturbação (i.e., quebrar a simetria existente entre as duas
equipas) e (2) retirar a posse de bola e a iniciativa à equipa adversária. Basicamente,
é um método de jogo que prima pela inteligência e eficácia: controlar a posse
de bola, desposicionar os jogadores contrários para criar espaço e aumentar o
ritmo de jogo para originar a situação de finalização.
Figura 1. Fase de estabilidade e início da perturbação
(Manchester
City 1 x 0 West Ham, 28-ago-2016).
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A figura 1 mostra-nos a equipa do West Ham United
perfeitamente equilibrada com duas linhas defensivas bem definidas e 9
jogadores de campo atrás da linha da bola (4 médios + 5 defesas). David Silva
poderia perfeitamente ter colocado a bola em De Bruyne no corredor direito, no
intuito de dar largura à equipa, em vez disso passou para o corredor central
para John Stones (defesa central em permuta posicional) e deu início à
perturbação na organização defensiva dos visitantes (figura 2).
Figura
2. Perturbação, quebra de estabilidade e criação da situação de finalização
(Manchester City 1 x 0 West Ham, 28-ago-2016).
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O passe
interior atraiu três jogadores para John Stones que, ao devolver ao primeiro
toque para David Silva, criou o espaço para o espanhol acelerar, progredir e
executar o passe de rotura para o compatriota Nolito. O cruzamento rasteiro e
atrasado para Sterling foi, como se costuma dizer, «meio golo».
Desengane-se
quem pensa que isto é obra do acaso ou apenas sai no momento. A paciência e a
busca pela perturbação são premeditadas na cabeça de Guardiola e devidamente
trabalhadas nas sessões de treino. Jogar com o imprevisto e o inesperado é a
chave para o sucesso de qualquer ataque posicional, contudo, acarreta os seus
riscos. A gestão do risco e do imprevisto é o que faz de Guardiola um treinador
diferente dos demais. Observe-se o seu Barcelona, o seu Bayern de Munique e o
seu Manchester City e descubra-se as diferenças. É outro futebol; pelo menos, é o futebol que me encanta. E como refere Carlos Daniel no seu recente livro Futebol a Sério: «No futebol, como em tanta coisa na vida, deixar de encantar é pior do que perder». (2016: 22).
Referências
Daniel, C. (2016). Futebol a Sério (3.ª
Edição). Lisboa: A Esfera dos Livros.
Hughes, M., Dawkins, N., David, R., & Mills, J.
(1998). The perturbation effect and goal opportunities in
soccer. Journal of Sports Sciences, 16,
20.
McGarry, T., Anderson, D. I., Wallace, S. A., Hughes,
M. D., & Franks, I. M. (2002). Sport competition as a dynamical
self-organizing system. Journal of Sports
Sciences, 20, 771-781.
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