20/08/2017

A coordenação da linha defensiva no futebol profissional: Uma necessidade premente

Ontem, ditou o acaso que assistisse à primeira parte do jogo CD Tondela 2 x 3 GD Estoril Praia, via televisão, referente à 3ª jornada da Liga portuguesa NOS 2017/2018. Aos 13 minutos foi inaugurado o marcador para a equipa visitante, através de um autogolo do lateral direito David Bruno (ver aqui). Segundo os comentadores da partida, foi uma «infelicidade» do lateral direito formado no FC Porto. Será que foi mesmo?

Figura 1. Estoril circula a bola para o corredor central com evidentes desequilíbrios na equipa de Tondela.  

A figura 1 revela, no imediato, uma ocupação desequilibrada do espaço por parte da equipa de Tondela. O espaço entre os três médios é enorme, o lateral esquerdo Pité realizou uma cobertura defensiva, esquecendo-se completamente do extremo direito estorilista André Claro nas suas costas. Além disso, e mais relevante face ao contexto da jogada, é a posição demasiado recuada da linha defensiva, o que aumenta o espaço intersetorial propício para Evangelista receber a bola sem oposição e, com espaço, ler e solicitar André Claro com qualidade (figura 2). O equilíbrio ao lateral Pité deveria de ser feito pelo central do seu lado, libertando o médio defensivo para posições mais interiores e próximas dos adversários no seu meio-campo defensivo.

Figura 2. A «rotura»: linha defensiva do Tondela em orientação diagonal, descoordenada relativamente à lei do fora-de-jogo.

A péssima ocupação do espaço de jogo, evidenciada na figura 1, poderia ser compensada com uma boa coordenação da linha defensiva, o que não aconteceu. O «infeliz» David Bruno não acompanhou a progressão dos seus centrais e colocou André Claro em jogo dando origem à situação iminente de golo (figura 3; 3v2+Gr).

Figura 3. Em perseguição e em inferioridade numérica, David Bruno introduziu a bola na sua própria baliza. Uma questão de infelicidade.

Não confundamos: não se trata de uma implicação para com o lateral do Tondela. Sim, ele errou, tal como muitos dos seus companheiros de equipa. Um erro pode ser corrigido por uma boa organização; muitos erros num contexto de desorganização e descoordenação dificilmente estão associados ao êxito desportivo.

Nos dias que hoje correm, as equipas profissionais, quer objetivem títulos, quer lutem desalmadamente pela manutenção, têm de incidir grande parte do seu trabalho em processos inerentes à organização defensiva e à transição defensiva. A (des)coordenação da linha defensiva demonstrada neste golo sofrido pelo Tondela indica que há muita margem para evolução no grupo liderado por Pepa. A título de exemplo, numa sessão de treino, considere-se a possibilidade de dividir o espaço de jogo em 4 setores (de 21x65m), colocar um ou dois treinadores a supervisionar o posicionamento da linha defensiva e dos atacantes (fora-de-jogo) e estabelecer princípios defensivos bem claros em relação aos comportamentos individuais de cada um dos defensores (quem realiza cobertura defensiva? Quem realiza equilíbrio(s)? Quem alinha por quem?) e coletivos do setor (maior ou menor profundidade? Qual a ocupação do espaço em largura? Que elemento «sai» em contextos de inferioridade numérica? Como se ajusta o posicionamento com 3 elementos?).

Muito provavelmente, a equipa técnica de Pepa tem estes aspetos definidos no seu modelo de jogo e são operacionalizados no seu planeamento semanal, porém, nesta jornada, por motivos que desconheço, o desempenho defensivo da sua equipa não foi o melhor. Nas últimas duas épocas, o Tondela garantiu a manutenção por um golo (2016/2017) e por um ponto (2015/2016), respetivamente. Quem sabe se este golo sofrido e/ou os três pontos perdidos ontem não serão cruciais para o futuro do clube na I Liga?

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