Com o SC Braga ainda em
vantagem no Funchal (0-1), diante do CS Marítimo, veio à baila a velha questão
de quem equilibra defensivamente no corredor lateral quando a estrutura tática
de base é o 1-4-4-2. É o avançado? É o médio interior/ala? É o médio de
cobertura, vulgo “trinco”? E se não houver ninguém a aumentar a pressão
defensiva, aproxima o central adjacente para efetuar cobertura defensiva ao
lateral em inferioridade?
Vejamos o golo inaugural
do jogo, aos 5 minutos, concretizado pelo jovem Trincão:
A equipa do Marítimo – claramente
com um 1-4-4-2 definido –, face à entrada da bola no seu corredor lateral esquerdo,
não fez “saltar” nenhum jogador na oposição ao portador da bola (Trincão),
possibilitando à entrada do seu meio-campo defensivo uma situação de inferioridade
numérica (1v2). Bem o Braga a atrair/concentrar a posição dos médios adversários
no corredor central para progredir por fora (figura 1).
Figura 1. Início da situação de inferioridade numérica (1v2) do Marítimo, no seu corredor lateral esquerdo. |
Com a bola descoberta,
Rúben Ferreira foi recuando para temporizar e manter o setor defensivo alinhado.
Ajuda? Nunca houve e Trincão – inteligente –, foi avançando para fixar os
apoios de Rúben (figura 2).
Figura 2. A situação de superioridade/inferioridade manteve-se próximo da área de penálti da equipa da casa. |
No momento certo, Trincão
passou a bola a Ricardo Esgaio, colocando Rúben Ferreira a correr atrás do
prejuízo. O problema foi que a indefinição nas missões táticas defensivas se manteve nos últimos 15 metros e, em particular, no setor defensivo insular. Como
último recurso, a cobertura defensiva que era suposto ser realizada pelo
central não ocorreu e a inferioridade numérica (1v2) perpetuou-se (figura 3).
Figura 3. Rúben Ferreira nas lonas, sem apoio de qualquer companheiro de equipa. |
Ricardo Esgaio devolveu a
Trincão que, com ângulo de remate aberto, finalizou em golo uma situação incrível de superioridade/inferioridade numérica que principiou na zona do meio-campo e teve uma duração de cerca de 8
segundos, sem qualquer ajustamento tático por parte dos jogadores do Marítimo
(figura 4). Em alta competição, esta passividade é fatal.
Figura 4. Dois contra um até ao remate final (e golo) de Trincão. |
É por estas e por outras
que se diz, com propriedade, que a estrutura tática de base (i.e., a distribuição
dos jogadores pelo terreno de jogo) não detém máxima relevância num
contexto em que noção de oposição é fundamental. As dinâmicas comportamentais
que se estabelecem numa equipa é que ditam se esta estará mais próxima ou
distante de alcançar o sucesso. Neste âmbito, as missões táticas, a coordenação
interpessoal, os ajustes e as combinações são treináveis, devendo este processo
ponderar a multiplicidade de circunstâncias e problemas que o oponente pode
suscitar em competição.
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