Nota prévia: O artigo científico alvo da presente síntese foi selecionado
em função dos seguintes critérios: (1) publicado numa revista científica
internacional com revisão de pares; (2) publicado no último trimestre; (3)
associado a um tema que considere pertinente no âmbito das Ciências do
Desporto.
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Autores: Jorge Arede, António Paulo Ferreira, Pedro Esteves, Oliver
Gonzalo-Skok, & Nuno Leite
Título:
Train smarter, play more: insights about preparation and game participation in
youth national team
Revista: Research Quarterly for Exercise and Sport
País: Portugal
Referência:
Arede, J., Ferreira, A. P., Esteves,
P., Gonzalo-Skok, O., & Leite, N. (2020). Train
smarter, play more: insights about preparation and game participation in youth
national team. Research Quarterly for
Exercise and Sport. doi: 10.1080/02701367.2019.1693012
(link)
Apresentação do problema
No basquetebol, tal como
noutros jogos desportivos coletivos, a preparação para uma competição
internacional ocorre em períodos temporais limitados e, geralmente, com um calendário
de treinos e jogos bastante concentrado. Neste quadro de constrangimentos, é
fundamental selecionar os jogadores mais capazes para preparar os jogos
competitivos, com o objetivo de se alcançar o melhor resultado possível. A
análise da relação entre a preparação física e os desempenhos em treino e jogo,
para predizer a prontidão dos jogadores para treinar e competir, é uma tarefa
absolutamente indispensável para o corpo técnico. Embora o tópico tenha sido já
investigado em contexto de clube, ao nível de seleções nacionais, a literatura ainda
é escassa.
Diversos estudos têm
demonstrado que o desempenho físico (e.g., distância percorrida) e a
performance técnica (e.g., lançamentos/remates) estão associados ao resultado
do jogo. Adicionalmente, evidências prévias mostraram que a preparação
envolvendo o sistema cardiorrespiratório e a produção de força pelos membros
inferiores influenciam a capacidade de trabalho de alta intensidade que replica
a natureza intermitente dos desportos de equipa. Contudo, há ainda alguns
resultados contrastantes, indicando, por exemplo, uma fraca associação entre a
carga de treino e o desempenho em competição (Gastin et al., 2013).
Portanto, a inexistência
de estudos científicos a explorar a relação entre exigências do treino e as
exigências do jogo, ao nível das seleções nacionais, faz como que haja um
caminho a percorrer no sentido de auxiliar as equipas técnicas a melhorar, por
um lado, a seleção dos jogadores e, por outro lado, a própria planificação do
processo de treino para as competições internacionais. Os objetivos da presente
investigação foram: (i) examinar a relação entre a preparação física e os
padrões de atividade, bem como as respostas percetivas durante sessões de
treino (n = 19) e jogos particulares/amigáveis (n = 3); e (ii) identificar
quais as exigências de movimento e as respostas percetivas das sessões de treino
e dos jogos particulares que melhor predizem o estatuto dos jogadores (titular
vs. não titular), durante um Campeonato Europeu Sub-16 da FIBA.
Métodos
Amostra: 12 jogadores de basquetebol (idade = 16.02 ± 0.40 anos)
selecionados para a seleção nacional de Portugal Sub-16, de forma a participar
num estágio de preparação (julho de 2018) para o Campeonato Europeu da
categoria.
Procedimentos de recolha
de dados: Os dados foram recolhidos no decurso
de 19 sessões de treino e 3 jogos particulares (figura 2). A preparação física
foi avaliada 3 semanas antes do estágio da seleção nacional num campo de
basquetebol indoor (pavilhão desportivo). As variáveis de movimento foram
captadas por meio do sistema WIMU PRO (Realtrack Systems, Almeria, Spain).
Após o Campeonato Europeu, os jogadores foram divididos em duas categorias –
titulares e não titulares –, com base no estatuto evidenciado e nos minutos de
jogo acumulados durante a competição.
Figura 2. Cronologia da recolha de dados (Arede et al., 2020). |
Variáveis do estudo: A variável dependente do estudo foi o estatuto dos
jogadores. As variáveis independentes foram dividas em preparação física (teste
intermitente de recuperação Yo Yo – nível 1; salto com contramovimento; teste
de agilidade “T”; índice de assimetria dos membros inferiores), exigências de
movimento (distância percorrida; acelerações de alta intensidade;
desacelerações de alta intensidade; número de impactos corporais; carga individual
de treino; pico de velocidade; pico de aceleração; pico de desaceleração),
resposta percetiva ao esforço (escala de Borg CR10), dor muscular (Visual
Analogue Scale) e estatísticas específicas de jogo (minutos; pontos;
assistências; roubos de bola; blocos; ressaltos; eficiência).
Análise estatística: (1) correlação de Pearson para determinar as
relações entre a preparação física e as exigências de movimento em sessões de
treino e em jogos particulares; (2) decisões baseadas na magnitude (dimensões
de efeito) para classificar, qualitativa e quantitativamente, as diferenças
entre titulares e não titulares; (3) testes t para amostras independentes
para apurar diferenças entre variáveis nos dois grupos de jogadores; (4)
análise discriminante para identificar as variáveis que melhor predizem o estatuto
dos jogadores em competição.
Principais resultados
A análise comparativa das
exigências de movimento entre sessões de treino e jogos particulares revelou
correlações quase perfeitas (r = 0.99) nas variáveis distância
percorrida, acelerações de alta intensidade, desacelerações de alta
intensidade, impactos corporais e carga individual de treino.
Os não titulares
realizaram melhores performances no teste intermitente de recuperação Yo Yo –
nível 1 e no teste de agilidade “T”, enquanto os titulares apresentaram menor
assimetria nos membros inferiores e melhor desempenho no salto com
contramovimento. À exceção da dor muscular pós treino, os jogadores não
titulares obtiveram valores mais elevados nas atividades de movimento e nas
respostas percetivas, tanto nas sessões de treino, como nos jogos particulares.
Os titulares, porém, foram melhores na maioria das estatísticas de jogo,
excluindo blocos e ressaltos.
Por fim, o modelo resultante
da análise discriminante identificou algumas variáveis de jogos particulares
(desaceleração de alta intensidade, roubos, eficiência e minutos), a dor
muscular pós treino e a altura do salto com contramovimento como sendo os
fatores que diferenciaram os jogadores que atuaram mais minutos (vs. aqueles
que jogaram menos), nas partidas do Campeonato Europeu da FIBA.
Implicações práticas
Ao se preparar uma
competição internacional importa dispor de dados de índole diversa, que
possibilitem uma avaliação holística, ou multidimensional, de todos os
jogadores em observação (ou já selecionados). Neste contexto, fatores técnicos
e táticos, que não aqueles estritamente associados às exigências de movimento,
são cruciais para determinar o tempo de jogo competitivo individual (figura 3).
Figura 3. Seleção de Portugal em competição no Campeonato Europeu Sub-16 da FIBA, em 2018. (fonte: Twitter da Federação Portuguesa de Basquetebol) |
As estatísticas específicas
obtidas em jogos particulares internacionais, designadamente as de caráter
ofensivo, diferenciaram os jogadores que tiveram mais minutos no Campeonato Europeu.
Possuir inteligência de jogo e capacidades percetivo-motoras mais refinadas são
plausíveis para explicar o facto de jogadores mais utilizados não terem a
necessidade de percorrer maiores distâncias, comparativamente aos menos
utilizados. Por outras palavras, os titulares são mais eficientes, o que, de
forma alguma, deve ser confundido com displicência.
Os jogadores de
basquetebol com maior capacidade de salto tendem a exibir habilidades ofensivas
e de recuperação de posse de bola mais eficazes, embora isso também acarrete
danos musculares mais pronunciados decorrentes das sessões de treino. Esta última
evidência deve ser acautelada pelos treinadores no processo de preparação dos
jogadores e da equipa para a competição.
Conclusão
O estatuto adquirido por
jovens jogadores de basquetebol no Campeonato Europeu de Sub-16 foi
influenciado por diversos indicadores recolhidos em fases distintas de preparação
para a competição. Algumas variáveis afetas à performance em jogos particulares
internacionais, a dor muscular pós treino e a altura de salto com
contramovimento discriminaram os titulares dos não titulares no evento. Desta maneira,
os indivíduos que saltam mais alto, que apresentam melhores estatísticas e mais
minutos em jogos particulares podem ter uma probabilidade mais elevada de ser
titulares no Campeonato Europeu, ainda que fiquem aquém dos não titulares nas exigências
de movimento manifestadas em treino e em jogos de preparação.
P.S.:
1- As ideias que constam neste texto foram
originalmente escritas pelos autores do artigo e, presentemente, traduzidas
para a Língua Portuguesa;
2- A leitura deste texto não dispensa a leitura integral do
artigo em questão;
3- As citações efetuadas nesta rúbrica foram utilizadas
pelos autores do artigo, podendo o leitor encontrar as devidas referências na
versão original publicada no Research Quarterly for Exercise and Sport.
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