31/12/2020

Dois mil e vinte

Desde que a memória me assiste, dois e mil e vinte (figura 1) foi, sem margem para dúvidas, o ano mais estranho que vivenciei. Não me parece que seja um sentimento estritamente pessoal, na medida em que diversas cabeças, por este mundo fora, têm prestado a mesma sentença. Pode ter havido conquistas, mas as perdas ultrapassam substancialmente o que, avulso, possamos ter conseguido ou adquirido. 

 

Figura 1. Um 2020 que ficará para a posterioridade pelos piores motivos (fonte: depositphotos.com).

 

Dois mil e vinte foi o ano pandémico, o ano da COVID-19, o ano das palavras “confinamento”, “isolamento”, “máscara” ou “desinfetante”. Singelas palavras que tiveram o condão de alterar por completo as nossas rotinas do quotidiano e, se me permitem o atrevimento, as relações humanas. As repercussões da (potencial) infeção pelo novo Coronavírus vão muito além das consequências fisiológicas e epidemiológicas. Longe de ser uma mera “gripe”, como muitos incautos nos quiseram fazer crer nos meios mais frequentados (porém, menos fidedignos) que utilizamos para nos conectar – as redes sociais –, a pandemia nunca se cingirá às largas dezenas de milhões de casos detetados no mundo e aos quase dois milhões de mortes que causou, ou ajudou a causar. 

Por um lado, será que a humanidade manterá a sua relação despótica com a natureza? Chegamos a um ponto da nossa evolução em que almejamos ditar as leis da natureza. Voluntária ou involuntariamente, de modo mais ou menos consciente, não é isso que importa agora esmiuçar, foi o ser humano que dispôs as condições para que este vírus proliferasse. Numa cambalhota quase “cármica”, a natureza logrou colocar-nos no devido lugar, acautelando-nos que as nossas ações, enquanto espécie, têm limites e produzem consequências. Talvez a pandemia deva ser interpretada como uma lição para o futuro. 

Por outro lado, se é verdade que vida que se perde jamais se recupera, ninguém deveria ser prescindível ou entrar em sistemas de prioridades, o que aconteceu por falta de capacidade de resposta de uma civilização que, em pleno séc. XXI, tomávamos como evoluída. As limitações dos sistemas sociais contemporâneos chegaram ao cúmulo de termos de escolher quem vive e quem morre numa era marcada pela (alta) tecnologia e pela abrangência das redes comunicação. Questionemos o que sentem, por exemplo, as pessoas que perderam familiares (pais, avós, irmãos, tios, etc.) por não haver ventiladores suficientes. Mais, nesta era também governada pelas vicissitudes das economias, quantas vidas estão ou ficarão comprometidas pela pandemia? E os efeitos colaterais do isolamento social? Foram ou são contabilizadas as pessoas que, não falecendo de COVID-19, partiram de outras maleitas potenciadas pela ausência de afeto e de carinho? Infelizmente, não. Na minha família, isso aconteceu duas vezes no período de uma semana, em julho. 

Não sou, de modo algum, contra as medidas que foram implementadas pelas autoridades competentes, nem tampouco invejo os representantes que têm de tomar decisões dificílimas nesta fase crítica, ou os profissionais de saúde que estão na linha da frente a fazer o que podem, e o que não podem, para dar a melhor resposta possível à população, salvando vidas. Tiro-lhes o chapéu! Sinceramente, não sei o que poderia ter sido feito de diferente para atenuar os efeitos adversos do dito isolamento social, reduzindo, em simultâneo, o risco de contágio. Há variáveis que, simplesmente, não conseguimos controlar. 

Ignoro o que futuro nos reserva, se anos mais felizes ou mais experiências do género, contudo, acredito que cada um de nós, individualmente, pode fazer algo pelo todo. Se o “algo” individual for positivo, então o todo (humanidade) viverá, seguramente, anos menos conturbados e mais felizes. Ao menos, que a esperança nos guie para que o planeta e os nossos descendentes possam coexistir em harmonia. Porque enquanto houver vida, perdura a esperança (figura 2). 

 

Figura 2. Vidas que redobram a esperança num próspero 2021.

 

Que dois mil e vinte e um nos faça virar a página para melhor. Sem exceções: votos de saúde!

25/12/2020

Artigo do mês #12 – dezembro 2020 | Análise multidisciplinar sobre “jogar num escalão acima” no futebol de formação

Nota prévia: O artigo científico alvo da presente síntese foi selecionado em função dos seguintes critérios: (1) publicado numa revista científica internacional com revisão de pares; (2) publicado no último trimestre; (3) associado a um tema que considere pertinente no âmbito das Ciências do Desporto.

 

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Autores: Kelly, A., Wilson, M. R., Jackson, D. T., Goldman, D. E., Turnnidge, J., Côté, J., & Williams, C. A.

País: Inglaterra

Data de publicação: 17-novembro-2020

Título: A multidisciplinary investigation into “playing-up” in academy football according to age phase

Revista: Journal of Sports Sciences

Referência: Kelly, A., Wilson, M. R., Jackson, D. T., Goldman, D. E., Turnnidge, J., Côté, J., & Williams, C. A. (2020). A multidisciplinary investigation into “playing-up” in academy football according to age phase. Journal of Sports Sciences. https://doi.org/10.1080/02640414.2020.1848117 

 

Figura 1. Informações editoriais do artigo do mês 12 – dezembro de 2020.

 

Apresentação do problema

Um dos principais desígnios das organizações desportivas é criar contextos apropriados de desenvolvimento para os atletas (Côté et al., 2014). De facto, corresponder efetivamente às necessidades dos atletas, com níveis de experiência, habilidade e motivação bastante variados, é uma luta constante que os profissionais do desporto têm de travar. Embora os atletas sejam tipicamente agrupados pela sua idade cronológica, em cada escalão etário pode haver discrepâncias interindividuais consideráveis no desenvolvimento físico e psicossocial. Para crianças e jovens que apresentam altos níveis de desempenho, surge frequentemente pressão das partes interessadas (e.g., organizações, treinadores e pais) para serem submetidos a contextos de prática mais desafiantes (Collins & MacNamara, 2017; Taylor & Collins, 2019). Em particular no futebol de formação, uma solução comum para este tipo de problema passa por “subir” os jovens talentos para treinar e competir num escalão (ou mais) acima, ou seja, com indivíduos mais velhos (figura 2).

 

Figura 2. A prática comum de subir jovens talentos de escalão etário no futebol de formação.

(imagem não publicada pelos autores; fonte: blog.teamsnap.com)

 

As evidências anedóticas sugerem que os jogadores que sobem de escalão podem ser expostos a intensidades mais elevadas de prática e competição, o que pode ter implicações importantes no produto do seu desenvolvimento. Apesar disso, nenhum estudo até à data explorou a ligação entre a subida de escalão etário e os resultados formativos obtidos pela criança/jovem no futebol de formação. Se esta medida constitui uma forma de agrupar os atletas pela sua habilidade, há um corpo de conhecimentos crescente acerca do modo como medidas análogas (e.g., entrada precoce na escola ou saltar um ano de escolaridade) podem afetar o desenvolvimento. Apesar de diversos resultados sugerirem a sua implementação, sem um conhecimento profundo de “como” e “porquê” esta aceleração afeta o aproveitamento académico ou o desenvolvimento específico numa modalidade desportiva, manter-se-ão as dificuldades por parte dos profissionais em otimizar o planeamento e a intervenção junto de estudantes ou atletas com elevados índices de desempenho. 

Assim sendo, no contexto de subida de escalão no futebol infantojuvenil, urge examinar os fatores que influenciam o desenvolvimento específico desses jovens talentos na modalidade. Para o efeito, é altamente relevante que seja adotada uma metodologia de investigação multidisciplinar intimamente relacionada com o futebol. Com base nesta premissa, o trabalho seguiu a filosofia multidisciplinar subjacente ao modelo teórico “FA Four Corner”, proposto pela The Football Association (2019) em Inglaterra, e que recomenda a avaliação e o desenvolvimento dos jogadores de acordo com as componentes (a) Técnico-tática, (b) Física, (c) Psicológica e (d) Social. O propósito deste estudo foi examinar, numa academia de futebol inglesa, os fatores multidimensionais que diferenciam os jovens jogadores que sobem de escalão prematuramente daqueles a quem tal não acontece, em função da fase de desenvolvimento em que se encontram: “Foundation Development Phase” (FDP: Sub-9 até Sub-11) ou “Youth Development Phase” (YDP: Sub-12 até Sub-16).

 

Materiais e Métodos

Amostra: foram analisados 98 jovens jogadores, estando enquadrados em duas fases de desenvolvimento distintas: "FDP" – Sub-9 aos Sub-11, n = 40, idade média = 10.6 ± 0.9 anos; "YDP" – Sub-12 aos Sub-16, n = 58, idade média = 14.4 ± 1.3 anos. Todos os participantes foram recrutados de um clube profissional pertencente à quarta divisão (nível 4) da estrutura competitiva vigente em Inglaterra. Os jogadores foram enquadrados na categoria “jogar (num escalão) acima” quando cumpriram, ao longo da época, um tempo combinado de treino e jogo igual ou superior a 50% (≥ 50%) num grupo etário mais velho. Assim, na primeira fase (FDP), 15 jogadores “jogaram acima” (playing-up) e 25 “não jogaram acima” (non-playing-up), enquanto que, na segunda fase (YDP), 13 “jogaram acima” e 45 “não jogaram acima”. Os guarda-redes não foram incluídos no estudo. 

Variáveis: a partir das 4 componentes principais do modelo “FA Four Corner”, foram definidas 7 subcomponentes: (1) Técnico-tática – (a) testes técnicos, (b) estatísticas de jogo e (c) testes percetivo-cognitivos (simulação de vídeo); (2) Física – (a) medida antropométrica e (b) testes de fitness; (3) Psicológica – (a) questionário de características psicológicas para o desenvolvimento da excelência (PCDEQ); (4) Social – questionário de histórico de participação (PHQ). Das 7 subcomponentes foram extraídos um total de 27 fatores para análise (tabela 1).

 

Tabela 1. Vinte e sete fatores resultantes das 7 subcomponentes definidas a partir do modelo “FA Four Corner” (Kelly et al., 2020) (p.f., clique para ampliar). 

Análise estatística: a estatística descritiva foi calculada para cada variável, utilizando z-scores para explanar as diferenças entre idades cronológicas e para confirmar a normalidade dos dados. Foram testadas quatro hipóteses para examinar as diferenças entre os grupos “jogar acima” (playing-up) e “não jogar acima” (non-playing-up), em cada fase de desenvolvimento, correspondendo às componentes do modelo “FA Four Corner”. Diversos procedimentos estatísticos (i.e., MANOVA, testes t para amostras independentes, cálculo de Cohen’s d, regressões logísticas binárias e multinominais) foram empregues para (1) averiguar as diferenças entre os dois grupos de jogadores e (2) identificar os fatores que, em cada fase de desenvolvimento, predizem a subida precoce de escalão. As diferenças foram consideradas como sendo estatisticamente significativas quando p ≤ 0.05.

 

Principais resultados

 

·      “Foundation Development Phase” (Sub-9 até Sub-11)

Foram verificadas diferenças significativas entre os grupos “jogar acima” e “não jogar acima” nas componentes técnico-tática e social. Em concreto, o grupo dos jogadores que subiram de escalão etário demonstraram valores significativamente mais elevados nos passes completos, passes por cima e nos testes de oclusão pré execução (técnico-tática), bem como no fator social total de horas de prática (futebol e outros desportos).

 

·      “Youth Development Phase” (Sub-12 até Sub-16)

Registaram-se diferenças significativas entre os dois grupos em três das quatro componentes do modelo que serviu de base para esta investigação. Na componente técnico-tática, os jovens que jogaram no escalão acima destacaram-se por exibir valores mais elevados no número total de toques. Nesta fase, os fatores físicos foram muito mais preponderantes: o grupo “escalão acima” revelou valores médios mais altos na percentagem atingida da altura estimada em adulto e no salto com contramovimento, sendo os seus elementos significativamente mais rápidos nos testes de sprint 0–10m e 0–30m. Na componente social, o fator total de horas de prática com treinador diferenciou os jovens do grupo “escalão acima” dos que constituíram o grupo “não jogar acima”.

 

·      Análise Multivariada

Na fase de desenvolvimento “FDP”, a regressão logística multivariada mostrou que o passe por cima e o teste de oclusão pré execução (componente técnico-tática) foram preditores significativos do modelo, explicando 61.8% da variância observada. Na fase posterior (YDP), o modelo revelou a habilidade com bola (técnico-tática), o teste de sprint 0–10m (física), lidar com a pressão, suporte de outros para aproveitar o potencial (psicológica) e o total de horas de prática com treinador (social) como preditores de jogar num escalão acima no futebol de formação, explicando 49.5% da variância observada.

 

Aplicações práticas

Numa fase inicial de desenvolvimento no futebol, os fatores que discriminam os jogadores que sobem precocemente de escalão etário são do foro técnico-tático e social. Entre os Sub-12 e os Sub-16, no entanto, há que adotar uma perspetiva multidisciplinar mais abrangente. Nesta faixa etária, é provável que as diferenças se acentuem devido ao facto destes jogadores beneficiarem de maior exposição a treino e competição num escalão mais velho (desafiante) e, também, por acumularem mais tempo de prática específica na modalidade. Por isso, os treinadores, bem como outros agentes desportivos, devem ponderar seriamente o benefício de subir um jogador de escalão, sem menosprezar a fase de desenvolvimento em que se encontra. Será que compensa subir um jogador de escalão etário se, posteriormente, não usufruir de tempo substancial de prática competitiva? Será que retirar a criança/jovem do seu grupo habitual de pares não provoca reações adversas a nível psicológico, por exemplo? 

A componente técnico-tática foi a que mais discriminou os grupos “jogar acima” e “não jogar acima”. Entre os Sub-9 e os Sub-11, houve uma associação mais vincada entre o grupo “jogar acima” e as capacidades de manter a bola e executar ações precisas. Contudo, na fase subsequente, ações pressupondo maior criatividade individual (i.e., dribles completos, n.º total de toques, drible em slalom e habilidades com bola) estiveram mais associadas ao jogar num escalão acima. Normalmente, são os treinadores que decidem a subida de escalão, pelo que é normal que a expressão britânica “if you are good enough, you are old enough” (se és bom o suficiente, és velho o suficiente) se aplique no caso, enfatizando fatores de ordem técnico-tática. 

No futebol juvenil, os fatores físicos desempenham um papel importantíssimo na promoção de um indivíduo a um escalão etário superior. Dos Sub-12 aos Sub-16, testes de fitness (sprint 0–10m e salto com contramovimento) e o estatuto maturacional (percentagem atingida da altura predita em adulto) contribuíram significativamente para a decisão de um miúdo “jogar acima”. Deste modo, não só é absolutamente essencial controlar a maturação física de um jovem jogador, por forma a não haver confusões entre competência e maturação, como se sugere que a decisão de subir um atleta de escalão envolva outros intervenientes-chave para além do treinador (e.g., psicólogos, fisiologistas, preparadores físicos, cientistas do desporto, etc.), numa estratégia que se pretende multidisciplinar para melhor potenciar o talento a médio/longo prazo. 

Na componente social, este estudo indica que não é necessariamente o tipo de atividade praticada por crianças que determina a sua promoção a um escalão mais velho. Designadamente entre os Sub-9 e os Sub-11, a quantidade de tempo despendido num conjunto variado de atividades contribuiu para que um jogador subisse para um grupo mais velho. Em idades mais baixas, parece ser recomendada a prática de um vasto leque de atividades que concorram para a aquisição e para o aperfeiçoamento de múltiplas competências psicomotoras básicas. Ao contrário da especialização precoce, referimo-nos ao que os especialistas aludem como diversificação precoce (early diversification). Não será prudente aplicar este tipo de estratégia também nos clubes e nas academias de futebol?

 

Conclusão

As evidências do presente estudo suportam a implementação do modelo “FA Four Corner” como abordagem multidisciplinar no desenvolvimento de jovens jogadores de futebol. Na fase “FDP”, fatores técnico-táticos e sociais diferenciaram os jogadores que jogaram acima daqueles que não o fizeram. Na fase "YDP", a distinção entre os dois grupos de jogadores foi evidente em variáveis representativas das quatro componentes do modelo. 

Independentemente da fase de desenvolvimento, é fundamental que treinadores e outros profissionais de futebol ponderem, de forma holística, diversos fatores para deliberar se um praticante sobe, ou não, a um escalão etário mais velho. Adicionalmente, os agentes desportivos devem utilizar a promoção a grupo etário mais avançado como uma estratégia para facilitar o desenvolvimento individual, ao invés de se focarem estritamente na fixação das crianças/jovens no respetivo escalão etário para alcançar rendimento desportivo. 

Embora jogar num escalão acima tenha implicações no desempenho e no desenvolvimento de jovens jogadores, são necessários mais estudos qualitativos para examinar as perceções e as experiências de atletas que tenham vivenciado essa circunstância. São, também, recomendados estudos longitudinais para identificar se “jogar acima” traz benefícios a longo-prazo no desenvolvimento da perícia na modalidade, sendo interessante salientar o período de transição do futebol de formação para o futebol profissional (ou sénior) como objeto de análise.


P.S.:

1-  As que constam neste texto foram originalmente escritas pelos autores do artigo e, presentemente, traduzidas para a Língua Portuguesa;

2-  Para melhor compreender as ideias acima referidas, recomenda-se a leitura integral do artigo em questão;

3-  As citações efetuadas nesta rúbrica foram utilizadas pelos autores do artigo, podendo o leitor encontrar as devidas referências na versão original publicada na revista Journal of Sports Sciences.

11/12/2020

O "Linha de Passe" no Facebook Live da Sapienta Sports

Na passada quarta-feira, 9 de dezembro de 2020, o blogue Linha de Passe foi protagonista na edição mais recente do Facebook Live da Sapienta Sports. Para quem não teve oportunidade de seguir a conversa em direto com o David Sousa, pode fazê-lo aqui através da visualização do vídeo seguinte.




A partir do tema "Escrever Futebol", a conversa tocou diversos aspetos do treino e do jogo de futebol. Esperamos que a reflexão e as ideias que surgiram durante o diálogo possam ser de alguma forma úteis para todos os que nos acompanharam. 

Como fundador e representante do blogue, expresso o meu muito obrigado ao David e à Sapienta Sports pelo convite.

05/12/2020

Conduta antidesportiva: Beneficiar o prevaricador?

Na passada terça-feira, o Lokomotiv Moskva recebeu o Salzburg e saiu derrotado, por 1-3. À passagem do minuto 79, o médio russo Anton Miranchuk reduziu a desvantagem no marcador da equipa visitada, através da conversão de um pontapé de grande penalidade (1-2). O guarda-redes da equipa austríaca, Cican Stanković, decidiu então assumir o protagonismo, pelos piores motivos (figura 1). 

 

Figura 1. O guarda-redes Stanković a retardar o reinício do jogo.

 

Estando a partida perto do final, agarrou-se à bola para, deliberadamente, atrasar o recomeço do jogo. Além de constituir uma óbvia conduta antidesportiva, persistiu no comportamento durante mais de um minuto, dando origem a desacatos entre os jogadores das duas equipas e a três cartões amarelos (dois para o Lokomotiv e um para o Salzburg). Confira as imagens:

 


A sua “inocência” valeu-lhe apenas o cartão amarelo, quando, a meu ver, por se tratar de uma atitude deliberada, constante e passível de estimular comportamentos violentos por parte dos elementos de ambas as equipas, deveria de ser punida com o cartão vermelho direto. 

Há ainda a agravante de se tratar de um evento da Liga dos Campeões, com todo o impacto mediático que lhe está associado, designadamente junto da população mais jovem. A este nível não me parece admissível que o jogo tenha contornos de uma pelada entre malta conhecida num qualquer largo ou rua deste mundo. Se o exemplo vem de cima, ser condescendente com o infrator não o dissuadirá de reincidir em atitudes antidesportivas noutras ocasiões. Por isso, que se corte o mal pela raiz, penalizando efetivamente o prevaricador.