Em tempos de confinamento há tempo para pensar, ou melhor, em março do ano passado houve algum tempo para formular uma questão de pesquisa: resistiria o fenómeno da “vantagem de jogar em casa” (home advantage) no futebol à ausência de público nos estádios (figura 1), uma das medidas adotadas para controlar a propagação do novo coronavírus SARS-CoV-2?
Em maio de 2020 foram reatadas as competições profissionais de futebol em alguns países e, volvidas as primeiras jornadas de retoma na principal liga alemã (Bundesliga), soaram os alarmes a nível internacional: as percentagens de vitórias caseiras haviam caído dramaticamente; na prática, a secular “vantagem de jogar em casa” havia desaparecido nos jogos com estádios vazios. Na altura, questionámo-nos se o mesmo aconteceria nas outras ligas europeias de referência, as designadas “Big-5”. Substituindo a Ligue 1 (francesa), cujo desenlace na época 2019/2020 não ocorreu no campo, optámos por introduzir na análise a Primeira Liga portuguesa (6.ª classificada no ranking da UEFA).
Hoje, foi publicado na revista Biology of Sport (figura 2) o produto final de um verão intenso, com o valoroso contributo do meu colega
Werlayne Leite (Secretaria da Educação do Estado do Ceará, Fortaleza, Brasil).
Ao Werlayne e ao Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes (ISMAT, Portimão),
endereço os sinceros agradecimentos pelo apoio prestado ao longo dos últimos
meses.
Figura 2. Revista Biology of Sport (fonte: https://www.termedia.pl/Journal/Biology_of_Sport-78).
Quanto aos principais resultados, a “vantagem de jogar em
casa” não reduziu significativamente no conjunto das 5 ligas europeias
analisadas (de 16.4% para 11.6%). Depois da suspensão provocada pela COVID-19,
a “vantagem de jogar em casa” foi significativamente superior a 0%, ou seja, no
somatório das ligas europeias, o efeito da “vantagem de jogar em
casa” persistiu, mesmo sem público nos estádios. A análise por cada liga
permitiu-nos constatar que o efeito da “vantagem de jogar em casa” desapareceu
completamente na Bundesliga, permaneceu inalterado na La Liga, Premier
League e Primeira Liga e, inclusivamente, aumentou na Serie A
após a retoma. Nestas ligas, o contexto induzido pela pandemia COVID-19,
sobretudo o facto de se jogar sem adeptos nos recintos, influenciou de forma
distinta o desempenho das equipas visitadas. Contudo, no cômputo geral, as
equipas da casa realizaram menos remates (total), remates à baliza, desarmes e,
ainda, houve um decréscimo significativo da taxa de passes precisos.
Convido-vos a ler o resumo seguinte (figura 3) e, se o mesmo suscitar interesse, a descarregar o artigo original (disponível gratuitamente) através do link facultado na referência em baixo. Adicionada mais uma peça ao complexo puzzle do fenómeno home advantage, torcemos para que as comunidades do futebol e das ciências do desporto encontrem alguma informação útil e relevante neste trabalho.
Figura 3. Informações editoriais do artigo, abstract (resumo)
e key words (palavras-chave).
(clique para ampliar)
Referência
Almeida, C. H., & Leite, W. S. S. (2021).
Professional football in times of
COVID-19: did the home advantage effect disappear in European domestic leagues?
Biology of Sport, 38(4), 693–701. https://doi.org/10.5114/biolsport.2021.104920 (LINK)
Saúde!
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