Um romance de Rui
Cardoso Martins que nos retrata as peripécias de um cego, de nome António. Um
dilúvio avassalador abre um buraco na capital lisboeta. António e João, um
escuteiro de 8 anos, são arrastados pela torrente na esperança vã de se salvar
mutuamente: o miúdo ao cego e o cego ao miúdo.
Imagem: Capa de Deixem passar o homem invisível. (fonte: www.leyaonlina.com) |
«Nos subterrâneos da cidade, dois sobreviventes tentam subir à calçada,
ao céu azul de Portugal.» Nessa escuridão labiríntica, o enredo toma
proporções de ensaio sobre a cegueira e… sobre a magia. O (ainda) sobrevivente
António e o mágico italiano Serip (Pires ao contrário), que surge como
colaborador dos sapadores de Lisboa em auxílio de António e João, recordam a
sua mais que improvável amizade.
«As últimas letras que li na vida com os olhos foi o cabeçalho dum
jornal desportivo. Estava escrito que não seria intelectual o meu futuro, de
qualquer modo um futuro português, a maioria das pessoas que conheço usa a
vista para ler notícias da bola, as revistas de mexericos, as contas da casa,
as cartas do fisco e a chave do euromilhões, a vida inteira.» (p. 163-164)
«O Serip dizia que há truques que parecem milagres até conhecermos o
segredo, foi aliás a sua entrada no mundo da magia e o conhecimento dos
mecanismos da ilusão os motivos que o começaram a afastar da crença cristã. De
repente havia mistérios que já podia explicar e até repetir na camarata do
seminário, se o quisesse, foi o que o fez entrar na “dúvida da fé”, resumiu
Serip num dos seus oximoros ligeiros, isso e o facto de desejar dormir com
todas, todas, mas todas as mulheres do mundo, incompatível com um cristão
verdadeiro.» (p. 201)
«Viver
não é magia nem milagre, mas às vezes temos de acreditar.»
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