David Machado é o autor
deste romance e com ele venceu recentemente o Prémio da União Europeia para a Literatura. Hoje fará
sentido lê-lo, talvez no futuro ainda o faça mais. Uma vez que não me quero derreter
em elogios à obra, deixo-vos dois breves trechos da mesma:
«Pensa: há quarenta anos, este país não era nada, a ditadura sufocou-nos
tanto que quase parámos de respirar e o mundo deixou de dar conta de que ali
estávamos, moribundos. Depois salvámo-nos, a vida tornou a fazer sentido,
voltámos a fazer parte do mapa. Deram-nos a mão, puxaram por nós, apostaram em
nós, disseram-nos que erámos capazes e nós acreditámos. Porque não haveríamos
de acreditar? (…) o País encheu-se de uma riqueza inédita em vários séculos, é
possível que não estivéssemos preparados para gerir essa riqueza, mas fez-nos
sentir tão bem, tão confiantes. E eles disseram-nos que o futuro seria uma
extensão daquele momento da nossa história, no futuro seríamos melhores. Não
sabiam o que estavam a dizer, mas nós não sabíamos que eles não sabiam.»
(p. 163)
«Três minutos depois, recebi um e-mail com a tabela. Passei o dedo pelos
números no ecrã até encontrar o meu. Almodôvar, havia cinco países nos quais o
valor médio de satisfação com a vida era igual a 5,7: Djibouti, Egipto,
Mongólia, Nigéria, Portugal e Roménia. Percebes a ironia da situação? Portugal
estava naquele grupo de países. A minha satisfação com a vida naquele momento
era idêntica à média da satisfação com a vida do nosso país.» (p. 180)
Imagem: Capa do livro Índice Médio de Felicidade de David Machado. |
Nota final: De
acordo com dados do Eurostat (junho de 2015), a média de satisfação com a vida
em Portugal é 6,2; a média europeia é 7,1. De entre os parâmetros analisados, a
média de satisfação com a situação financeira em Portugal é 4,5; a média
europeia é 6.
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