No futebol subsiste a
noção de que o tempo que as equipas detêm a posse de bola, frequentemente
expresso em percentagem do tempo total de jogo, está positivamente
correlacionado com o sucesso em competição. Por exemplo, nas diversas ligas
europeias (Premier League, La Liga,
Bundesliga, Série A, Ligue 1), o investigador Collet (2013) observou que,
invariavelmente, as equipas com médias mais elevadas de pontos por jogo tiveram
médias mais elevadas de posse de bola.
De facto, manter a posse
de bola permite controlar os ritmos de jogo e fazer uma gestão mais efetiva da
condição física dos jogadores. Contudo, também é verdade que nem sempre a
equipa com maior percentagem de posse de bola vence o jogo. Num artigo
publicado no Journal of Sports Sciences,
Collet (2013) demonstrou que a manutenção da posse de bola apenas se
correlaciona com o sucesso competitivo em equipas de elite mundial (e.g.,
Barcelona, Real Madrid, Chelsea, Manchester United, Bayern Munchen, PSG) e que,
por isso, a qualidade da posse de bola deve ser diferenciada da mera posse de
bola.
A questão da eficiência
é central; valores mais elevados do rácio de passes por remate à baliza (i.e.,
passes supérfluos ou não produtivos) foram preditivos do desempenho das piores
equipas nas cinco ligas europeias que foram objeto de estudo. Para além disso,
quando as equipas de elite se confrontaram entre si, o efeito do tempo da posse
de bola tornou-se marginal ou mesmo contraproducente (Collet, 2013). Neste
particular, as equipas de elite tendem a adaptar-se às circunstâncias do jogo
(nomeadamente ao resultado corrente) de forma distinta, o que contraria a ideia
de que há respostas/comportamentos coletivos padronizados; antes, cada equipa
tem a sua própria assinatura de jogo (Paixão et al., 2015).
Figura 1. Dados estatísticos da final da UEFA Champions League 2014/2015.
(fonte: www.uefa.com)
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Na recente final da UEFA Champions League 2014/2015, em que
a Juventus foi derrotada pelo Barcelona (1-3),
os vencedores não tiveram somente mais tempo a posse de bola (61-39%), mas também
quase o dobro de passes precisos (505-286) e um maior número de finalizações
(18-14). À luz destes dados (figura 1),
o Barcelona foi um justo vencedor, no entanto, ao contrário dos outros
indicadores, o número de finalizações revelou um maior equilíbrio entre as duas
equipas. A propósito do tema da eficiência ofensiva, a Juventus precisou de cerca de 20 passes para produzir uma finalização,
enquanto os catalães efetuaram um remate por cada 28 passes.
Em suma, nos dias que
hoje correm, as evidências apontam que a precisão dos passes e dos remates são
variáveis preditivas de sucesso mais fortes que o mero tempo de posse de bola,
que parece ser mais uma característica indicativa da qualidade geral de uma
equipa do que propriamente um indicador de performance válido para cada jogo
(Collet, 2013).
Referências
Collet, C. (2013). The possession game? A
comparative study of ball retention and team success in European and
international football, 2007-2010. Journal
of Sports Sciences, 31(2), 123-136.
Paixão, P., Sampaio,
J., Almeida, C. H., & Duarte, R. (2015). How does match status affects the
passing sequences of top-level European soccer teams? International Journal of Performance Analysis in Sport, 15(1),
229-240.
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