Ontem, na noite de
decisões dos oitavos-de-final da UEFA
Champions League 2016/2017, o FC Barcelona virou uma eliminatória que
parecia praticamente perdida, após a goleada sofrida (4-0) no Parque dos
Príncipes, em Paris. Longe de pretender debater as causas desta «remontada»,
como dizem os espanhois, irei colocar o enfoque numa sequência ofensiva da
equipa parisiense no jogo da primeira mão, por traduzir completamente aquilo
que mais aprecio no futebol contemporâneo: a capacidade ofensiva de uma equipa,
um coletivo, em «desmontar» a organização defensiva adversária. Vejamos o vídeo
seguinte:
Num contexto de reposição de bola em jogo através de pontapé de baliza, temos no terço no terreno de jogo visível uma situação de Gr+4v4 (figura 1). O PSG encontrava-se a vencer (2-0), aos 55 minutos, diante de uma super equipa chamada Barcelona. A questão que se impõe é: quantas equipas – mesmo de elite! – não abdicariam de sair a jogar curto pelo corredor central, colocando a bola diretamente numa zona de menor risco, perante o contexto em questão? Repare-se, um golo do Barcelona neste período tornaria tudo mais complicado para a equipa da casa.
Figura 1. O pontapé
de baliza do PSG, aos 55 minutos, que dá origem ao 3-0.
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O desenrolar da
sequência ofensiva é extraordinário: 19 segundos, 6 jogadores envolvidos na
jogada, 17 toques sobre a bola, 5 passes, 1 remate e 1 golo. Praticamente 1
toque na bola por segundo (0.89). O risco de Trapp ao colocar a bola no
corredor central, a competência de Rabiot a «rodar» perante a pressão de Messi,
os toques sublimes de Draxler e Matuidi a perturbar a organização defensiva dos
blaugrana, «libertando» o lateral
esquerdo Kurzawa em mobilidade para o corredor central e assistir o genial Di
Maria. A excelente finalização culminou um processo ofensivo absolutamente
espetacular.
O modelo de jogo do PSG,
e este processo ofensivo em particular, denunciam confiança e crença da equipa técnica
comandada por Unai Emery nas virtudes dos seus jogadores. À semelhança do Judo,
tais processos fazem da forte pressão defensiva adversária o fulcro para o
sucesso, assumindo por inteiro o risco. De uma forma prosaica, são métodos que
preconizam comportamentos coletivos do género que permitem que a
individualidade atinja a sua máxima expressão. Ao invés, há processos que
condicionam a manifestação do potencial individual e, na mesma linha de
raciocínio, há individualidades incapazes de dar substância a determinados
modelos. O ideal é mesmo ter bons ovos e saber cozinhar omeletas saborosas. Posto isto, nem só de inglória vive um técnico derrotado e este espanhol, nesta
eliminatória, poderia muito bem não ter acabado na condição de eliminado.
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