30/08/2021

Inconsciência temporal


Férias. Do emprego. Em casa, trabalho não falta. Dizem que a alegria e o cansaço contagiam. Eu acrescento que a inconsciência também. Uma inconsciência involuntária, como a dos bebés ou a dos loucos. Pela idade, talvez seja mesmo loucura. Dou por mim a ter noção da passagem dos dias, porque a seguir à luz vem a escuridão e, depois, a luz outra vez. Não importa a ordem dos dias, acumulam-se em semanas, em meses, o sinónimo perfeito de fugacidade.

Hoje, tinha marcada uma consulta de medicina do trabalho pelas 12h20. Fui mais cedo, ciente de que era sábado. Não faço ideia porquê, ignorei todos os sinais óbvios que indicavam ser um dia de semana; na prática, o primeiro dia útil da semana. Cheguei mais cedo e despachei-me rápido, não sem antes distribuir “bom fim de semana” por cinco ou seis pessoas diferentes. Foi a enfermeira, foi o médico, foram algumas colegas de trabalho. No regresso a casa, os neurónios restabeleceram as respetivas ligações sinápticas: “p*r*a, hoje é segunda-feira!”. 

Os “bons fins de semana” estavam dados e a minha inconsciência (ou parvoíce) atestada por quem de direito. Será que voltarei a ter trabalho depois das férias?

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