30/09/2023

Artigo do mês #45 – setembro 2023 | O papel-chave do contexto nos desportos coletivos: O valor das atividades jogadas na conceção da prática no futebol

Nota prévia: O artigo científico alvo da presente síntese foi selecionado em função dos seguintes critérios: (1) publicado numa revista científica internacional com revisão de pares; (2) publicado no último trimestre; (3) associado a um tema que considere pertinente no âmbito das Ciências do Desporto. 

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Autores: Petiot, G. H., Vitulano, M., & Davids, K.

País: Canadá

Data de publicação: 1-agosto-2023

Título: The key role of context in team sports training: The value of played-form activities in practice designs for soccer

Referência: Petiot, G. H., Vitulano, M., & Davids, K. (2023). The key role of context in team sports training: The value of played-form activities in practice designs for soccer. International Journal of Sports Science & Coaching, 1–13. Advance online publication. https://doi.org/10.1177/17479541231191077

  

Figura 1. Informações editoriais do artigo do mês 45 – setembro de 2023.

 

Apresentação do problema

O treino por meio de atividades em forma de jogo (i.e., atividades jogadas) tem sido amplamente discutido no âmbito dos desportos coletivos, como o futebol, sendo também cada vez mais recomendado pelas entidades que tutelam a modalidade para todas as idades e níveis de prática (Woods et al., 2020; Ribeiro et al., 2021). As evidências sugerem que conceber estritamente exercícios com base em análises de desempenho não é suficiente para melhorar as performances individuais e coletivas (Herold et al., 2022). A prática composta por diversas variantes do jogo formal, conhecida como “prática em forma de jogo”, é essencial para aumentar a adaptabilidade e a transferibilidade das ações específicas, principalmente do treino para a competição (Araújo & Davids, 2011; Causer & Ford, 2014). 

Este tipo de atividades engloba os jogos reduzidos e condicionados, nos quais a oposição constitui um elemento nuclear da prática. As atividades jogadas contêm elementos, características e propriedades informacionais do jogo formal, mas podem ser configuradas para dar respostas mais concretas ao desenvolvimento do praticante, à preparação para o desempenho competitivo e à organização coletiva (i.e., da equipa) (Machado et al., 2019). Por isso, são situações práticas recomendadas pela literatura científica, tanto para o desenvolvimento como para o rendimento, mediante a promoção de oportunidades de ações (i.e., affordances) relevantes e motivantes para os praticantes (Petiot et al., 2021; Sannicandro & Raiola, 2021). 

Como é insinuado pela expressão “o contexto é tudo”, o contexto no qual os praticantes estão inseridos é uma variável determinante a equacionar. As atividades em forma de jogo simulam precisamente as propriedades do jogo competitivo em cenários arranjados para proporcionar as oportunidades de ação ou as sequências de jogo desejadas. Os jogadores são desafiados a envolver-se em comportamentos percetivos, tomadas de decisão, resolução de problemas e coadaptação posicional (Petiot et al., 2021), pelo que a prática em forma de jogo pode ser equacionada como uma abordagem poderosa para o desenvolvimento do jogador, se convenientemente adaptada às suas necessidades. Esta abordagem baseia-se numa estrutura teórica aplicada aos desportos coletivos, que se centra na interação entre o indivíduo e o envolvimento: a perspetiva da Dinâmica Ecológica (Araújo et al., 2006). O seu racional liga-se visceralmente aos fundamentos da Abordagem Baseada nos Constrangimentos, já que os seus conceitos e os seus princípios também promovem a manipulação de parâmetros contextuais e da tarefa (Ometto et al., 2018). Em última instância, esta estrutura teórica encoraja os treinadores e os outros profissionais do treino a trabalhar com os jogadores em jogos ou atividades contextualizadas, por forma que as habilidades específicas e o desenvolvimento da perícia possam sair enriquecidos (Button et al., 2020; Woods et al., 2020). 

As atividades em forma de jogo têm sido enquadradas na literatura associada à matriz ecológica como parte integrante de um continuum no desenvolvimento de jogadores e no treino para a obtenção de rendimento no futebol (Ribeiro et al., 2021). Os vários formatos podem ser diferenciados num espectro proposto de tarefas práticas, que vão desde atividades com enfoque técnico até às situações de jogo formal. Porém, a produção científica acerca de como integrar as diversas atividades jogadas num continuum de desenvolvimento é atualmente limitada. É necessário ter diretrizes claras sobre como as tarefas de jogo podem ser combinadas e organizadas no planeamento das sessões de treino de futebol, bem como podem ser ajustadas no terreno por meio de adaptações-chave. Neste sentido, o propósito desta revisão narrativa foi tripartido: (a) considerar os formatos típicos de atividades em forma de jogo, frequentemente organizadas como jogos contextualizados, que podem ser utilizados em sessões de treino de futebol; (b) analisar a sua finalidade e os principais parâmetros a partir da perspetiva da Dinâmica Ecológica; e (c) enfatizar como e por que podem ser úteis para os jogadores, treinadores e staff de apoio.

 

O contexto como um enquadramento

O contexto tem sido proposto como essencial para dotar os comportamentos humanos em geral (Juarrero, 2023), e os inerentes à obtenção de resultados desportivos (Jones et al., 2023), de coerência e significado. Esta noção é particularmente importante nos processos de aprendizagem, desenvolvimento e preparação para a performance nos desportos coletivos, uma vez que o contexto molda as cognições, as perceções e as ações dos jogadores face a uma multiplicidade de oportunidades de ações (Gibson, 1979) e constrangimentos (Pinder et al., 2011). Em jogo, os futebolistas precisam ser capazes de ler e atuar em diferentes contextos de desempenho e adaptar as suas ações para alcançar as suas intenções táticas (e.g., intercetar um passe entre oponentes, criar uma oportunidade de remate, driblar os adversários em espaços apertados ou evitar que um remate contrário entre na sua baliza). Na perspetiva ecológica, um contexto de prática bem estruturado é aquele que recria as informações disponíveis num contexto competitivo e que os praticantes podem efetivamente explorar. Esta abordagem à prática implica que os treinadores sejam designers de contextos de aprendizagem/treino (Button et al., 2020) e facilitadores de cenários dinâmicos de oportunidades de ação que os jogadores exploram na construção de uma forma de jogar. 

Portanto, o contexto funciona como um background vital para enquadrar as ações dos principais intervenientes no jogo. Neste âmbito, a Pedagogia Não Linear sustenta que, além do contexto, a representatividade da tarefa é outro aspeto basilar para a prática e para a aquisição de habilidades, especialmente no que respeita à conceção de jogos modificados (Chow et al., 2021). Os contextos são moldados para que certas ações possam ocorrer em sessões de treino, ou no decurso de programas de treino (i.e., microciclos), em função de temáticas designadas pelos treinadores (Davids et al., 2013; Davids, 2014). Por exemplo, o jogo pode ser contextualizado para guiar as intenções dos jogadores associadas a situações de “contra-ataque com entrada no terço ofensivo, após recuperações de bola perto da própria baliza”. A representatividade das atividades em forma de jogo pode ser alcançada quando a paisagem de oportunidades de ação enfatiza o tema escolhido, ou mais precisamente quando essas affordances determinam que as habilidades relevantes sejam executadas de forma repetida e, sobretudo, quando ocorre a transferência dessas ações-alvo para situações de jogo não condicionadas (i.e., jogos competitivos) (Chow et al., 2021; Renshaw et al., 2022). 

Enquadrar o contexto requer a articulação da natureza da prática em forma de jogo com a temática a ela atribuída para que a aprendizagem ou o rendimento se manifestem. Quando as atividades são projetadas para um tema específico, a configuração e as características da tarefa não só devem permanecer fiéis à natureza do jogo proposto, mas também devem proporcionar aos jogadores oportunidades para atingirem os objetivos definidos, ponderando as necessidades de cada indivíduo e da equipa (Nunes, 2021).

 

  • Configuração das atividades

Os contextos de jogo podem ser intencionalmente modificados ou manipulados para proporcionar as oportunidades que os jogadores necessitam para adaptar os seus comportamentos tático-técnicos. A estrutura e a organização das atividades de jogo podem ser modificadas sem remover os objetivos básicos do jogo: superar a oposição para marcar golo ou impedir que a oposição marque. A existência de oposição e de balizas/alvos/portas (Headrick et al., 2012) é inegociável para que a prática de jogo mantenha um elevado grau de representatividade. Há outros constrangimentos da tarefa que são igualmente importantes: a organização estrutural, a dimensão e a forma da área de jogo e o número de participantes envolvidos. Contudo, algumas atividades são planeadas em função da seleção de alguns destes parâmetros, como os jogos de posse, i.e., sem balizas/alvos para finalizar. A conceção de um contexto de prática depende da conjugação destes parâmetros-chave. Apesar de haver um número vasto de possibilidades, a importância da representatividade da tarefa não deve ser descurada. 

Em geral, há falta de documentos internacionais suscetíveis de orientar as equipas técnicas que optem por trabalhar com abordagens pedagógicas baseadas no jogo. Sem um consenso prático sobre o uso de atividades jogadas na prática, as metodologias de treino praticamente permanecem sob a responsabilidade de cada treinador ou de cada clube. 

As atividades em forma de jogo são porções enquadradas do jogo formal que estimulam as respostas motoras pretendidas, contrariamente às ações individuais que emergem em contextos de jogo não condicionados e que, por esse motivo, podem ser divergentes (Farias et al., 2018; Mesquita et al., 2012). Os treinadores podem guiar as intenções dos jogadores através da simulação das características de um jogo formal em situações de jogo reduzidas, com uma baliza de cada lado e com constrangimentos simples. As atividades que replicam o jogo podem ainda diferir da sua estrutura original, com modificações na forma da área de jogo e na localização das balizas ou dos alvos (e.g., áreas hexagonais ou “meeinhos” ou “rondos”, com alvos nas extremidades). Estas configurações têm o condão de direcionar as ações pretendidas para dentro e para fora, ou ao redor de uma zona propícia para finalizar/pontuar (ver figura 2).


Figura 2. Comparação de formatos espaciais com diferentes direções sugeridas para as ações pretendidas (adaptado de Petiot et al., 2023).

 

Por um lado, jogos em campos com formas distintas podem ampliar o espectro de ações e comportamentos específicos e apoiar a exploração de soluções práticas, precisamente porque não estão adstritas à estrutura espacial original. Por outro lado, os formatos cêntricos e circulares divergem tanto do formato original do jogo que podem afastar os jogadores da organização coletiva pretendida – designadamente, na preparação para a competição –, devido ao facto de não serem tão representativos. Deste modo, este tipo de estruturas espaciais deve ser utilizado de maneira coerente, como uma etapa no processo de descoberta de ações inovadoras (para jogadores em formação), e não como um meio de preparação antes de um compromisso competitivo iminente.

 

  • Tempo e espaço

Em contextos de treino, as circunstâncias desafiantes derivam essencialmente de restrições de tempo e espaço, tanto para tomar decisões e executar ações, como para resolver problemas situacionais com número díspar de jogadores. As dimensões do espaço de jogo e o número de participantes envolvidos são constrangimentos da tarefa que afetam o tempo e o espaço disponíveis (Ric et al., 2016), pelo que devem ser rigorosamente calculados para que as distâncias interpessoais proporcionadas convidem os jogadores a solucionar os problemas idealizados pela equipa técnica (Praça et al., 2021; Silva et al., 2016). 

O tempo e o espaço projetados para um formato de jogo fazem com que as oportunidades de ação disponíveis variem. Em situações de jogo mais reduzidas, os jogadores têm menos tempo e espaço para executar ações adquiridas (i.e., que fazem habitualmente), o que pode dificultar a autoeficácia, por exemplo, na manutenção da posse de bola. O desafio pode determinar uma redução no envolvimento direto com a bola, de modo a evitar ser desarmado ou a cometer erros que causem a perda da posse de bola. Por sua vez, espaços de maiores dimensões tendem a estimular mais movimentos sem bola (Almeida et al., 2013). As atividades devem, então, ser estruturadas para provocar intencionalidade nos comportamentos, reconhecendo que a eficácia no jogo requer tempo para a adaptação e para a sintonização a novos ritmos de movimento e a novas particularidades espaciais, antes propriamente de se atingir os resultados desejados.

 

  • Gerindo a complexidade e a dificuldade dos contextos de prática

A complexidade e a dificuldade dos contextos de prática são parâmetros significativos para os jogadores em termos de experiência, tomada de decisão e preparação para a competição. Na prática, estes conceitos devem ser ajustados de acordo com a experiência e o nível de habilidade dos jogadores (Petiot et al., 2021). A complexidade é representada pela qualidade e pela quantidade de informação disponível, resultante da configuração da tarefa. Situações mais complexas também podem levar os jogadores a pensar mais e decidir menos (Masters & Maxwell, 2004), inibindo a sua capacidade de autorregulação e o fluxo de desempenho (Morris et al., 2020). Em suma, a complexidade da tarefa está relacionada com o número de possibilidades de ação e de oponentes presentes na situação de jogo. 

A dificuldade da tarefa decorre da limitação do número de oportunidades de ação disponíveis. Em geral, uma maior dificuldade traz desafios que resultam em mais insucessos, nomeadamente em jogadores e equipas inexperientes. Enquanto jogadores experientes conseguem criar mais soluções mesmo quando há menos possibilidades, jogadores menos experientes precisam de mais tempo e espaço para criar oportunidades de ação. Ora, uma situação complexa não deve ser descrita como difícil, uma vez que os dois conceitos refletem características diferentes, como é evidenciado pela forma como são calculados (Travassos, 2014; para mais detalhes, ver texto aqui). Por exemplo, a inclusão de jogadores neutros (“jokers”) em jogos reduzidos pode contribuir para o desenvolvimento de jovens praticantes com níveis de habilidade mais baixos, pois aumenta a complexidade, devido à presença de mais jogadores (e informação) e, concomitantemente, diminui a dificuldade, tornando disponíveis mais oportunidades de ação.

 

Formatos e características-chave das atividades em forma de jogo

O fluxo do ato de jogar no contexto da temática variará sempre de acordo com a configuração escolhida para a atividade. Uma atividade de jogo bem concebida consegue relevar o contexto e a o ato de jogar no desenvolvimento dos indivíduos envolvidos. Há muitas apresentações possíveis de contextos de jogo e de paisagens de oportunidades de ação. Os formatos atuam como configurações e arranjos predefinidos, sequenciados de forma coerente, tendo em conta: (a) forma e tamanho da área de jogo (Clemente, 2016); (b) tipo e localização das balizas/alvos (Sarmento et al., 2018); (c) localização do campo na qual a situação de jogo é organizada. A combinação destes parâmetros gera contextos de desempenho distintos, nos quais a aprendizagem e o treino podem ocorrer eficazmente. Devido à sua escala crescente, os formatos expostos delineiam um continuum de 5 categorias de atividades, retratando configurações predefinidas. Segundo a perspetiva ecológica aplicada à construção da prática, os formatos são classificados em função das possibilidades de ação que proporcionam (Ribeiro et al., 2021; Woods et al., 2020) e pelo respetivo grau de representatividade da tarefa. 

Conforme exposto na tabela 1, as formas jogadas abertas implicam sequências curtas de jogo, que podem ser mais ou menos dinâmicas (i.e., defensores ativos ou passivos), pressupondo a resolução de problemas táticos básicos, com tomadas de decisão simples; os jogos reduzidos e condicionados são pequenos jogos com diferentes configurações, por vezes em espaços desproporcionais, e uma organização menos representativa comparativamente ao jogo formal; os jogos analíticos representam formas de jogo delimitadas para isolar uma subfase específica do jogo, localizadas em zonas específicas do campo; os jogos condicionados são jogos proporcionais, com configurações semelhantes ao jogo formal, embora possam conter constrangimentos adicionais não encontrados em competição (e.g., obrigatoriedade de executar um número mínimo de passes para entrar no terço ofensivo); o jogo completo corresponde ao jogo original praticado em contexto de treino, contendo as regras formais do futebol (e.g., lei do fora de jogo).

 

Tabela 1. Continuum dos formatos, do menos para o mais específico em relação ao jogo (adaptado de Petiot et al., 2023) (p.f., clique para ampliar). 


As formas jogadas estabelecem situações mais simples de jogo, oferecendo menos possibilidades de ação e uma banda mais estreita de busca e exploração de soluções táticas. Esta banda de exploração tática aumenta nos jogos reduzidos e condicionados, o que enfatiza o limitado potencial tático presente em situações de jogo 1v1. De facto, os jogos reduzidos e condicionados propõem um leque mais diversificado de oportunidades de ação porque são mais adaptáveis a formas, configurações e organizações divergentes. À medida que os formatos avançam no continuum, os jogos condicionados continuam a enquadrar oportunidades de ação específicas, em contraste com o realismo proporcionado pelo jogo completo, pois suscitam informações contextuais importantes referentes ao tema definido para a sessão ou para o microciclo. 

A representatividade das situações criadas nas atividades, a partir dos jogos analíticos em diante, direciona as intenções e a organização coletiva, restringindo, consequentemente, a gama de ações e responsabilidades passíveis de promover a adequação a um contexto circunscrito no campo. Havendo intenções mais direcionadas numa atividade significa que haverá menos oportunidades de ação divergentes a explorar pelos praticantes, uma vez que estas affordances são limitadas pelas intenções táticas a perseguir na tarefa. Assim, os formatos e as configurações possíveis resultam em diferentes implicações para a prática, mesmo que se rejam pela máxima de repetir (a resolução de um problema contextual) sem repetir (a mesma técnica) (Bernstein, 1967; Eskov et al., 2017). Em concordância com os referenciais dos cursos específicos para treinadores, os diferentes propósitos dos formatos constituem uma mensagem importante que os técnicos devem reter para contextualizar a prática e enfatizar as implicações de cada configuração. 

As atividades configuradas devem, portanto, ser planeadas de forma flexível ao longo de uma sessão de treino, com cada tarefa a contribuir gradualmente para a concretização dos objetivos específicos definidos para a sessão. Por exemplo, para praticar os princípios contenção e cobertura defensiva, podem ser usadas algumas ou todas as atividades que constam na figura 3. A sequência delineada corresponde a uma sessão tipicamente composta por quatro atividades, organizadas sequencialmente.

 

Figura 3. Exemplos de atividades em forma de jogo utilizadas para treinar ações e princípios defensivos em situações 4v4 (adaptado de Petiot et al., 2023).

 

Implicações práticas

Os treinadores devem explorar um vasto espectro de recursos para enriquecer o seu conhecimento sobre o uso, o impacto e as implicações das atividades em formato de jogo. As ideias apresentadas neste artigo foram cuidadosamente elaboradas com o objetivo de esclarecer as vantagens e os desafios associados à implementação de atividades jogadas, proporcionando evidências e referências para capacitar os treinadores a utilizá-las de maneira lógica e coerente. 

Para que os treinadores possam transformar um diagnóstico em atividades em forma de jogo, devem seguir o que é sugerido na figura 4. Recomenda-se que comecem a partir do jogo completo do respetivo escalão etário (e.g., 5v5, 7v7, 9v9 e 11v11), “desmembrando-o” em frações mais reduzidas.

 

Figura 4. Comparação dos processos de conceber e praticar atividades em forma de jogo (adaptado de Petiot et al., 2023).

 

A atividade em forma de jogo permite que os treinadores enquadrem as ações ou as sequências específicas esperadas em competição, estando adstritas a um tema que favorece o transfer para os contextos de desempenho. O contexto inerente à formulação do tema orienta a conceção dos diferentes formatos reduzidos de jogo. Os temas, os formatos e os parâmetros da atividade refletem as informações com as quais os treinadores podem trabalhar para criar exercícios a partir do zero. 

Qualquer configuração de atividade em forma de jogo tem uma influência clara e direta nas possibilidades que emergem em campo e fornece, até certo ponto, contextos significativos para os jogadores, na medida em que as ações se tornam transferíveis para contextos não condicionados de jogo. Portanto, os formatos incorporam graus de complexidade, dificuldade, especificidade e integridade, em função do arranjo dos diferentes parâmetros da tarefa. Conforme é possível verificar na tabela 2, a mensagem que convém reter é que os formatos devem manipulados e orientados para cumprir o seu propósito por meio das possibilidades de ação que providenciam aos praticantes.

 

Tabela 2. Propósitos dos diferentes formatos e as suas implicações em termos de processo de treino (adaptado de Petiot et al., 2023) (p. f., clique para ampliar). 


Ao nível da “prática do treinador”, destacamos que os próprios são responsáveis por experimentar e manipular as tarefas incorporadas no continuum proposto de atividades em forma de jogo. Estes processos envolvem a leitura do jogo, a manipulação dos parâmetros-chave e a intervenção em cada atividade concebida para um grupo específico de jogadores. A vantagem que decorre de se avançar com um quadro abrangente e flexível de formatos, como é este continuum, é poder navegar entre contextos, cada qual com características e oportunidades de ação diferenciadas.

 

Conclusão

Este artigo propõe um continuum de formatos de atividades de jogo, que variam em especificidade, complexidade e representatividade para atender às necessidades de jogadores com diferentes níveis de prática. Cada atividade em forma de jogo oferece oportunidades de ação para diferentes níveis de desempenho, com estruturas, parâmetros e regras variáveis e personalizáveis. Este instrumento constitui uma contribuição científica valiosa para o treino desportivo, com potencial para ser incluído em currículos nacionais e internacionais inerentes ao desenvolvimento de jovens jogadores e à preparação para a performance em competição.

 

P.S.:

1-  As ideias que constam neste texto foram originalmente escritas pelos autores do artigo e, presentemente, traduzidas para a língua portuguesa;

2-  Para melhor compreender as ideias acima referidas, recomenda-se a leitura integral do artigo em questão;

3-  As citações efetuadas nesta rúbrica foram utilizadas pelos autores do artigo, podendo o leitor encontrar as devidas referências na versão original publicada na revista International Journal of Sports Science & Coaching.

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