30/12/2010

I Jornadas Jovens de Monchique (Balanço)

Ontem decorreram as I Jornadas Jovens de Monchique, organizadas pela Freguesia de Monchique. Devo confessar que fiquei extremamente satisfeito por ter tido a oportunidade de assistir às excelentes exposições que foram feitas. Para além disso, é muito aprazível perceber que as instituições autárquicas locais (Município e Freguesia de Monchique) se interessam e estão atentas ao trabalho académico e profissional dos jovens do nosso concelho.



A primeira apresentação foi realizada pelo amigo e Professor Doutor Bruno Medronho (Químico) que, animadamente, fez uma retrospectiva do seu percurso académico (de Monchique a Coimbra) e uma síntese do trabalho que actualmente desenvolve no âmbito de um pós-doutoramento. Segundo o que percebi, o Bruno investiga um dissolvente capaz de transformar celulose em fibras têxteis, o que contribui, em última instância, para a preservação ambiental do nosso planeta.

Seguidamente, o "nosso" advogado Jorge Sampaio dissecou um tema muito em voga actualmente: a revisão constitucional. Resumindo, falou-se da crise que o Estado Social atravessa em Portugal e abordou-se algumas propostas que foram efectuadas, no sentido de resolver algumas das questões mais prementes do nosso país. O Jorge também colocou em causa algumas dessas propostas por, supostamente, violarem direitos fundamentais presentes na Constituição.

A terceira exposição pertenceu a Ana Maria Pinto (Historiadora da Arte), com o tema "A paisagem histórico-artística de Monchique como contributo para o desenvolvimento sustentável do concelho". Pessoalmente, não a conhecia, mas a sua comunicação deixou bem claro que se trata de uma pessoa muito competente e com uma enorme estima por Monchique. Da sua intervenção, destaco a sua sensibilidade para a necessidade de preservar e potenciar o património histórico-social de Monchique, nomeadamente através da criação de roteiros turísticos. O estado do Convento de Nossa Senhora do Desterro, bem como a inacessibilidade às ruínas de uma fortaleza no Alferce e à fonte santa da Fornalha foram alvo de debate com a plateia, onde interveio também o presidente do Município de Monchique Dr. Rui André.

Mais tarde, foi a vez de Tiago Marques (Enfermeiro) e Patrícia Nunes (Estudante de Enfermagem) abordarem a temática: "Suporte básico de vida (adulto)". Como bem esclareceram, cada cidadão deve estar a par das linhas orientadoras para executar estas manobras. Elas podem valer uma vida. A apresentação teórica foi, posteriormente, muito bem complementada por uma demonstração prática, atentamente observada pelo público presente.

Por último, mas não menos importante, surgiu a temática "Iniciativa, Emprego e Empreendedorismo", devidamente comunicada pela Tânia Sousa (Gestora). Foram dados preciosos conselhos aos jovens para as primeiras incursões no mercado de trabalho. Desde como elaborar um curriculum, até ao modo como se comportar numa entrevista, nada passou despercebido. Em termos de empreendedorismo, a Tânia transmitiu ainda diversas formas de conseguir, por exemplo, crédito ou apoio para a criação de uma pequena ou micro empresa.

O nível geral destas I Jornadas Jovens superou as minhas melhores expectativas. A organização foi exemplar e os jovens conferencistas colocaram a fasquia bem alta para a próxima edição em 2011. Esta iniciativa merece o meu louvor e homenagem. Espero que constitua a rampa de lançamento para muitas mais.

A Freguesia de Monchique está de parabéns!

25/12/2010

BOAS FESTAS!

Em nome do Linha de Passe, desejo a todos os leitores que amiúde passam por este pequeno espaço virtual um óptimo Natal e um ano de 2011 cheio de saúde e felicidade.

Por muito baixas que estejam as nossas expectativas em relação ao futuro próximo que se avizinha, devemos encará-lo de cabeça erguida e com a força e a determinação suficientes para contornar os problemas que nos assolam. Optimismo, confiança e esperança acima de tudo.

Um grande bem-haja,

Carlos Almeida

12/12/2010

Precariedade da Arbitragem na Formação de Jovens

Nos recentes jogos dos escalões de formação que tenho presenciado (leia-se, Benjamins, Infantis e Iniciados), a arbitragem tem constituído um factor nefasto para o bom desempenho dos jovens praticantes e para a sua respectiva formação.

Do mesmo modo que as competências de um treinador do futebol juvenil não devem ser necessariamente as mesmas do que um treinador do alto rendimento, também os árbitros não devem tratar miúdos de 10-15 anos como se tratassem de adultos. Atenção que não me refiro estritamente a competências técnicas na análise das situações de jogo, mas sim dos comportamentos e das atitudes tomadas perante cenários menos apropriados ou educados da parte dos jovens. Será que a mera exibição do cartão vermelho resolverá o problema? A qualidade do jogo com uma equipa em inferioridade numérica é indutora de uma melhor formação das crianças/jovens?


Entramos, obviamente, no âmbito da Pedagogia do Desporto. Salvo raras excepções, a nossa arbitragem é muito precária nesse sentido. Nos escalões etários referidos, o cumprimento das regras do jogo deve ser mediado pelo bom senso, pela tolerância e pelo exercício a priori do diálogo.

Na minha perspectiva, abolia convictamente a admoestação de cartões amarelos e vermelhos até aos Sub-17. Caso surgissem contextos de reincidência de comportamentos de indisciplina, julgo que os treinadores deveriam ser aconselhados a substituir o jogador em causa, em vez destes serem expulsos e/ou castigados por dois ou três desafios. Haveria lugar à intervenção de outro jovem no jogo, a qualidade da oposição seria, em princípio, mais relevante e o próprio infractor teria mais possibilidades para, em conjunto com a equipa técnica ou psicólogo, corrigir atitudes e comportamentos menos apropriados.

Porque se diz que os melhores treinadores deveriam servir nos escalões de formação de base, os melhores árbitros também deveriam ser nomeados para encontros destas categorias. O futebol português na sua generalidade teria muito a ganhar com isso, ainda que a norma tenda a privilegiar o inverso: pensar no produto, descurando o processo.

30/11/2010

Finalmente, terminada!



RESUMO
O objectivo deste estudo foi caracterizar as sequências ofensivas de grupos de jovens, distintos no nível de experiência no futebol, em duas variantes reduzidas do jogo (Futebol 4 e Futebol 7). Na investigação participaram 30 jovens (11.98 – 13.83 anos), distribuídos por dois grupos, de acordo com a experiência apresentada na prática formal da modalidade. O protocolo experimental foi constituído por três sessões intercaladas por uma semana de interregno. Em cada sessão, os grupos cumpriram 10 minutos de prática por variante de jogo, com 5 minutos de intervalo entre elas. A caracterização das sequências ofensivas foi efectuada através do Sistema de Caracterização das Sequências Ofensivas, composto por indicadores de performance previamente utilizados noutros estudos. Na totalidade dos jogos disputados e em cada variante de jogo, os resultados mostraram a existência de diferenças significativas entre os grupos no desenvolvimento das sequências ofensivas, o que demonstra que a “experiência formal” é um factor relevante na formação de competências específicas em jovens praticantes. Dentro dos grupos também se obtiveram diferenças significativas entre as variantes de jogo no desenvolvimento e na finalização das sequências ofensivas. As evidências validam a proficiência da operacionalização da Abordagem Baseada nos Constrangimentos na aquisição/desenvolvimento de acções específicas dos Jogos Desportivos.


Palavras-chave: análise do jogo, sequências ofensivas, futebol juvenil, experiência, jogos reduzidos, abordagem baseada nos constrangimentos.
Download (UTL Repositório): http://hdl.handle.net/10400.5/2827

09/11/2010

Espectáculo e Dimensão das Balizas no Futebol

Recentemente, o treinador principal do Vitória de Guimarães - Manuel Machado - propôs um aumento das dimensões das balizas no futebol, justificando que as dimensões actuais (7,32 x 2,44 metros) foram arquitectadas há cento e tal anos para homens que mediam 1,65/1,70 metros, enquanto que hoje os guarda-redes medem 1,90 ou 2 metros.

Não direi que se trata de uma proposta descabida, pois parece evidente que os métodos defensivos se vão tornando progressivamente mais eficazes face às ligeiras modificações que vão sendo introduzidas no processo ofensivo. Ainda assim, importa perceber quais as implicações que tal medida acarreteria em termos técnicos, tácticos e estratégicos. Empiricamente, somos induzidos a prever um aumento do número de acções de finalização e de golos, o que, logicamente, conduziria a um incremento na espectacularidade do jogo. Sendo o golo a última determinante do sucesso no futebol, até pode fazer algum sentido, no entanto, a dinâmica do jogo em si poderia sofrer uma revolução tremenda. Digo poderia porque nunca seria um dado líquido, tal como não é certo que o aumento das dimensões das balizas resulte num maior número de golos.
Num estudo realizado por Costa et al. (2010), comprovou-se, por exemplo, que os jovens jogadores foram mais objectivos no processo ofensivo (acções de penetração e remates à baliza) em circunstâncias de jogo com balizas mais pequenas (análise comparativa entre balizas de Futsal e de Futebol). Os autores sugerem que, pelo facto de defenderem balizas de menores dimensões, os jogadores arriscam mais no processo ofensivo, criando, consequentemente, um maior número de situações de finalização. Ora, os resultados deste estudo contrariam a reflexão empírica que tendemos a realizar acerca do aumento das dimensões das balizas.
Na minha perspectiva, os desafios do futuro nesta modalidade não passam por alterar as regras do jogo, mas sim estudar e propor novos métodos e paradigmas para inverter a tendência actual da redução do número de remates certeiros. A espectacularidade e a emoção do jogo podem ser preservadas, desde que as equipas reúnam competências para praticar um futebol interessante e que capte a atenção do espectador. Penso que o resto (i.e., golo) virá por acréscimo.
Referência bibliográfica
Costa, I., Garganta, J., Greco, P., Mesquita, I., Silva. B., Müller, E., Castelão, D., Rebelo, A., & Seabra, A. (2010). Analysis of tactical behaviours in small-sided soccer games: Comparative study between goalposts of society soccer and futsal. The Open Sports Sciences Journal, 3, 10-12.

14/10/2010

Processo de formação no futebol: A experiência de Xavi

Numa entrevista interessantíssima concedida à revista Champions, da qual podemos ler um excerto aqui, o médio Xavi do FC Barcelona partilha alguns pormenores da sua formação futebolística na academia do clube (La Masia). A minha admiração por este jogador não é recente. A inteligência que manifesta na ocupação do espaço, a leitura permanentemente eficaz do envolvimento e a execução precisa de habilidades como a recepção e o passe fazem dele um médio centro de características inigualáveis. Para além de revelar competências altamente refinadas no jogo, demonstra ainda possuir qualidades psicológicas que fazem dele uma pessoa sensata, altruísta e inteligente.

Passando à entrevista propriamente dita, retive cinco ideias-chave que não consegui deixar de reflectir e partilhar aqui no Linha de Passe. São aspectos que considero relevantes para a formação de jovens no futebol, ainda por cima sendo transmitidas por uma figura de proa da actual equipa campeã europeia e mundial.

1) Em primeiro lugar, Xavi salienta que aos 11 anos - idade em que começou a treinar no Barcelona - o que mais interessa é a "vontade de aprender" e não os resultados.

O crescimento enquanto jovem futebolista começa com o querer aprender e ir mais além. Tem a sua lógica, aqueles que mais querem evoluir têm muito mais possibilidades de chegar ao alto rendimento. Sabemos que ter talento, por si só, não basta. O resultado desportivo a ter que surgir, será sempre em função de uma primeira boa etapa de aprendizagem, na qual os jovens se tornam, progressivamente, mais competentes no jogo.

2) Segundo Xavi foram "ensinados a jogar em triângulos, e a ter a bola sempre em movimento. Criam-se bons hábitos, como aprender os pontos fortes dos nossos companheiros e jogar sempre de cabeça levantada."

Neste pequeno parágrafo saliento quatro tópicos essenciais: a) jogar em triângulos, b) ter bola sempre em movimento, c) aprender os pontos fortes dos nossos companheiros e d) jogar sempre de cabeça levantada.

De facto, o triângulo é a unidade estrutural funcional no futebol. A modalidade em si é um jogo de triângulos, pelo que esta simples forma geométrica é muito eficaz para se transmitir e compreender a essência das noções tácticas básicas, numa primeira instância, próximo da posição da bola (centro do jogo) e, posteriormente, em zonas mais afastadas do centro do jogo. O 3-versus-3 (3v3) é, portanto, o ponto de partida para a aquisição dos princípios específicos do jogo na sua plenitude ofensiva (penetração/progressão, cobertura ofensiva/apoio e mobilidade) e defensiva (contenção, cobertura defensiva e equilíbrio).

Quanto à bola estar sempre em movimento remete-nos para a dinâmica do jogo. Para que tal suceda, é absolutamente fulcral que os jogadores sejam dotados do ponto de vista técnico (recepção, drible, passe, etc.) e, sobretudo, do ponto de vista táctico, na medida em que precisam de dar constantemente opções de passe ao portador da bola, sendo, com isto, capazes de formar unidades efectivas de cooperação com os seus colegas de equipa.

Aprender a jogar em função dos pontos fortes dos colegas é uma virtude muitas vezes descurada, porque, supostamente, um bom jogador deve estar apto a executar tudo e mais alguma coisa com perfeição. Isso não acontece, nem no alto rendimento. Deste modo, o nível de identificação entre os jogadores da equipa potencia/enfraquece as unidades de cooperação, defensiva ou ofensiva, que se podem formar. Se um colega é fraco na contenção, a distância para a cobertura defensiva deverá ser menor e o jogador deverá estar mais atento às acções de drible do adversário portador da bola; se um colega remata melhor com o pé direito, o jogador procurará assistir para esse seu pé, pois a probabilidade da equipa concretizar golo será superior. Não é ser "facilitista", é ser inteligente.

Não menos importante será jogar sempre de cabeça levantada. De acordo com Williams - investigador na área da tomada de decisão nos Jogos Desportivos, mais concretamente no futebol - a capacidade de “ler o jogo” marca a distinção entre os jogadores peritos e os novatos. Saber “ler o jogo”, jogando de cabeça levantada, é o primeiro passo para que se possa ser inteligente no jogo e resolver os problemas situacionais com que os jogadores se deparam da melhor maneira possível.

Estas ideias, embora simples, senão mesmo básicas, fazem toda a diferença num jogo de futebol quando convenientemente trabalhadas no processo de formação de jovens praticantes. A elementaridade destes pormenores referidos por Xavi e preconizados nas linhas orientadoras de uma das melhores escolas de formação de futebol do mundo (La Masia – FC Barcelona), demonstram que o jogo, apesar de se constituir como um sistema complexo, deve ser ensinado explorando o lado mais primitivo e empírico da nossa existência: potenciar a qualidade de cooperação entre membros/seres de uma mesma equipa/espécie.

05/10/2010

Melhorar a performance começa assim...

O seu a seu dono. Não sou o autor destas palavras, mas subscrevo na íntegra aquilo que José Mourinho - sim, esse, o que é mesmo especial - declarou:

"As Selecções Nacionais não são espaços de afirmação pessoal, mas sim de afirmação de um País e, por isso, devem ser um espaço de profunda emoção colectiva, de empatia, de união. Aqui, nas selecções, os jogadores não são apenas profissionais de futebol, os jogadores são além disso portugueses comuns que, por jogarem melhor que os portugueses empregados bancários, taxistas, políticos, professores, pescadores ou agricultores, foram escolhidos para lutarem por Portugal. E quando estes eleitos a quem Deus deu um talento se juntam para jogar por Portugal, devem fazê-lo a pensar naquilo que são - não simplesmente profissionais de futebol (esses são os que jogam nos clubes), mas, além disso, portugueses comuns que vão fazer aquilo que outros não podem fazer, isto é, defender Portugal, a sua auto-estima, a sua alegria."

Previamente à campanha de qualificação para o EURO 2012, em vez de se especular sobre pilotos automáticos e o "diz-que-fez-mas-não-sei-quê", se algum responsável técnico tivesse um discurso deste género, decerto que teria sido suficiente para termos mais do que o mero ponto conquistado diante do Chipre (4-4), em Guimarães. As palavras certas, com a entoação certa, no momento certo, são fundamentais para catapultar uma equipa para uma performance de sucesso.

Porque antes de tudo somos seres humanos, os pilotos automáticos, por si, não chegam para dar conta do recado.

11/09/2010

"FC Porto campeão... à Porto!"

O inevitável Jorge Nuno Pinto da Costa referiu, ainda antes da Liga Sagres 2010/2011 dar o pontapé de saída, que o FC Porto iria ser novamente campeão... à Porto.

À quarta jornada, tudo começa a fazer extremo sentido. Ontem, o SL Benfica foi derrotado pelo Vitória de Guimarães e, quem observou o jogo, facilmente inferiu que o senhor Olegário Benquerença - o árbitro da Associação de Futebol de Leiria que foi homenageado pela Associação de Futebol do Porto pela sua participação no Mundial 2010 - esteve particularmente mal numa série de situações a desfavor dos (ainda) campeões nacionais. Duas grandes penalidades (Aimar e Carlos Martins) não assinaladas, dois foras-de-jogo inexistentes em que Saviola e Cardozo, respectivamente, ficaram isolados na cara de Nilson e, pelo menos, dois cartões amarelos injustificados (Javi Garcia e David Luiz) merecem a reflexão de todos os amantes do desporto rei.

Foto: Olegário Benquerença no seu melhor.

Com quatro jogos disputados, os erros sistemáticos da arbitragem nos jogos do SLB começam a gerar as circunstâncias para que se concretize as premonições do profeta; de facto, esta temporada o FC Porto irá mesmo ser campeão... à Porto.

08/09/2010

Futebol português: Futuro cose-se por linhas tortas

Face aos resultados recentes das nossas selecções e à política de aquisição de jogadores dos principais clubes portugueses, urge começar a repensar com que linhas se pretende coser o futuro do futebol português. Mourinho diz que um país, pequeno como o nosso, que já teve três "bolas de ouro" (Eusébio, Figo e Cristiano Ronaldo), tem condições para conquistar um título internacional.

Eu concordo com Mourinho, mas discordo totalmente com o modo como se está a preparar o futuro do nosso futebol. Os dirigentes dos mais diversos clubes nacionais preferem ir à América do Sul comprar "craques", em vez de aproveitar os talentos que, durante anos, vão sendo lapidados nos escalões de formação. O SL Benfica, por exemplo, prefere dar 6 milhões de Euros por um talento espanhol, para em seguida emprestá-lo a um clube inglês. Raramente se observa a transição de jogadores júniores para o plantel sénior. Tudo bem que as exigências competitivas são distintas, porém não deixa de constituir um claro atestado de incompetência ao árduo trabalho desenvolvimento no processo de formação.

As oportunidades concedidas a jogadores estrangeiros são exponecialmente superiores às atribuídas aos jovens portugueses que, aqui e acolá, manifestam competência para realizar performances de qualidade no mais alto nível de desempenho. Questiono quem são as grandes "promessas" do futebol português. Escasseiam nomes e as selecções vão ficando afastadas das principais competições internacionais na categoria (os Sub-21 são exemplo disso). Inclusivamente, nos escalões de formação já observamos clubes a irem buscar estrangeiros para, supostamente, possuírem melhores argumentos para lutar pelo título nacional. Estamos a desvirtuar a formação de futebolistas portugueses e o próprio futebol português.

Foto: A "promessa" Ukra a representar os Sub-21.

A Federação Portuguesa de Futebol (FPF) tem uma palavra a dizer sobre esta problemática que assola a actualidade desportiva no país. Não é só o prof. Carlos Queiroz o vilão do filme. Infelizmente, o enredo ultrapassa em larga escala o que se passou no controlo anti-dopagem da Covilhã. Posto isto, é fulcral que a estrutura directiva e técnica da FPF procurem soluções para corrigir um futuro que se sugere dramático para as gerações vindouras da Selecção Nacional "A".

Oxalá esteja enganado.

04/09/2010

Triste sina das Selecções Nacionais

Ontem, dia 3 de Setembro de 2010, foi um dia macabro para as equipas nacionais Sub-21 e "A" de Portugal. Na sequência da embrulhada que envolve Carlos Queiroz, a selecção Sub-21 falhou redondamente o apuramento para o Europeu da categoria no próximo ano. Não só é um facto grave, como assistir ao jogo se transformou numa "aflição" praticamente sem precedentes.

Durante o encontro, dei por mim a indagar o que se treina com os jovens Sub-21. Sim, porque não parece existir nenhum modelo de jogo ou, pelo menos, simples indicações que traduzam um estilo de jogo consentâneo com as características dos jogadores. Abusou-se do jogo directo, o que, claramente, favoreceu a missão do processo defensivo inglês. A dinâmica do processo ofensivo foi extremamente limitada para uma formação que tinha a obrigatoriedade de ganhar, ainda para mais a jogar no seu país. A distância entre os jogadores era enorme e assim é impossível jogar rápido e de forma apoiada. Alarma-me que ninguém da equipa técnica tenha procurado corrigir esse aspecto. As opções iniciais também não foram as melhores e o Oceano demorou a mexer na equipa, mesmo vendo-se a perder desde cedo. Não será o cargo de seleccionador nacional, inclusivamente nas camadas ditas jovens, uma função que deve ser atribuída a treinadores competentes nessa matéria, mas que já possuam provas dadas no futebol português? Sim, respondo. Então, porque é que o Oceano inicia a sua carreira de treinador logo como seleccionador Sub-21? Não havia outras opções de maior qualidade?

No que diz respeito à equipa "A", o empate (4-4) diante do Chipre foi mítico. Agostinho Oliveira refere na comunicação social que a "produção atacante foi extraordinária", ainda assim a nossa selecção cometeu um feito assinalável: empatar com os cipriotas. Não nos podemos queixar apenas dos erros defensivos, pois ofensivamente falhámos imenso. Com o resultado em 4-3 tivemos três/quatro oportunidades magníficas para "matar" o jogo. Não o fizemos e pagámos caro.

Na minha perspectiva, a inclusão de Miguel no onze não se justifica, pois é um jogador que já não tem a capacidade física de outrora, erra demasiado no passe e não cria qualquer desequilíbrio no sector ofensivo. Ontem, esteve associado a três dos quatro golos cipriotas, devido a evidentes desatenções na ocupação do espaço e/ou no acompanhamento a jogadores adversários. No primeiro golo cripriota, não recuperou defensivamente e deixou o autor do golo progredir pelo seu corredor até realizar o "chapéu" ao Eduardo. No terceiro, permitiu que o avançado oponente efectuasse a diagonal pelas suas costas até finalizar na cara do guarda-redes português. No último golo, coloca em posição regular os dois jogadores cipriotas que procuraram a recarga ao primeiro remate. Enfim, é muita responsabilidade para um jogo só. Quando se pretende renovar a selecção e há Sílvio no banco de suplentes, não compreendo porque não se aposta no jovem do Sporting Clube de Braga.

O drama das substituições voltou a ser evidente. Tirar o Manuel Fernandes, o melhor centro-campista português durante o jogo, e deixar o Raúl Meireles em campo foi um erro crasso. O Raúl estava, literalmente, a arrastar-se na partida e Manuel Fernandes era dos poucos que objectivava manter a posse de bola e partir para transições ofensivas controladas. Ao retirar-se Manuel Fernandes do jogo perdeu-se clarividência na construção do processo ofensivo. Por sua vez, a entrada de Yannick Djaló para render Hugo Almeida também não me pareceu acertado. Naquele período do jogo, em que um golo adversário se torna complicado contornar, é lógico reforçar o meio-campo e controlar a posse de bola. Em vez disso, Agostinho Oliveira colocou Yannick Djaló na frente, forçando a a equipa a adoptar um estilo de jogo mais vertical. Não só não criámos mais situações de finalização, como as consequências finais foram altamente nefastas.

Muito mais há para reflectir, até porque não há tranquilidade no seio da equipa. Por muito que pretendamos colocar os jogadores à margem do "caso Queiroz" há legados que persistem e que o processo de renovação não resolveu. O próximo jogo na Noruega é fundamental para retribuir confiança ao grupo ou, ao invés, remeter-nos para mais contas logo à partida. É imperioso que a equipa técnica tome as melhores opções e os jogadores encarem a partida com responsabilidade. Neste grupo H, Portugal tem a obrigação de não perder mais qualquer ponto.

Força, Portugal!

30/08/2010

Tiques de arrogância de André Villas-Boas...

Subscrevo na íntegra o texto de Alexandre Pais, na sua rubrica "Quinta do Careca", do passado dia 29 de Agosto de 2010 no diário desportivo "Record". As palavras do autor aqui.

Por tudo o que Raúl Meireles fez pelo FC Porto e pela Selecção Nacional, enquanto jogador da instituição, não merecia ouvir tais palavras do actual líder da equipa técnica portista. Não é de bom tom!

26/08/2010

Os Problemas de Jesus

O Sport Lisboa e Benfica (SLB) não começou a época 2010/2011 da melhor forma. Três derrotas em outros tantos jogos oficiais fizeram soar o alarme no seio do campeão nacional. Para muitos, o problema da equipa reside, fundamentalmente, na contratação do guarda-redes Roberto, o que, em boa verdade se diga, não é mais do que "tapar o Sol com uma peneira".

Em primeiro lugar, parece-me evidente que as novas rotinas do SLB ainda não funcionam a 100%. As saídas de Di Maria e de Ramires mexeram, impreterivelmente, com a dinâmica da formação encarnada. Os jogadores contratados (Gaitán, Jara ou Salvio) não possuem as mesmas características dos que sairam e isto, por si só, obriga a pequenas oscilações no modelo de jogo pretentido por Jorge Jesus. Este facto, aliado ao reduzido nível de forma desportiva denunciado por alguns jogadores habitualmente titulares (e.g., Luisão, Maxi e, em especial, Cardozo), justificam as prestações realizadas pelo SLB neste início de época.

Por sua vez, Jorge Jesus não foi feliz na aposta que fez em Roberto. Desde o primeiro jogo da pré-época que nunca consegui perceber o avultado investimento que foi feito no jogador. Não é que não tenha qualidades, porém não me parece que possua competência suficiente para justificar o valor pago pelo SLB. Um erro de casting? Muito provavelmente!

Depois, há a questão da gestão do plantel. Jorge Jesus sabe melhor do que ninguém que num plantel não existe somente um jogador por posição. No alto rendimento, o erro pode custar uma liga, uma taça e, inclusivamente, comprometer o encaixe de milhões de euros e, como tal, convém ter todos os elementos psicologicamente preparados para desempenhos de excelência. Este momento é fulcral para tirar partido de Moreira ou de Júlio César. É urgente demonstrar e reforçar a confiança nestes jogadores, mantendo os meus critérios de selecção/exclusão em cima da mesa. Na época passada, recordo-me das palavras menos agradáveis de Jesus direccionadas a Quim quando, numa situação raríssima, o guarda-redes falhou. Ao invés, nesta época, Roberto tem sido amplamente defendido pelo treinador e já custou mais pontos ao clube em três jogos do que Quim na época transacta inteira. Dualidade de critérios? Assim o sugere.

É importante que os jogadores e a equipa técnica não se deixem "embandeirar em arco" pelos feitos alcançados anteriormente. O FC Porto e o SC Braga estão mais fortes e o Sporting CP para lá caminha; a margem para mais erros é reduzida. As experiências e a remodelação do plantel já deviam estar resolvidas, porque o período preparatório encerrou. A gestão das entradas e das saídas atrasou o desenvolvimento da dinâmica da equipa de tal modo que o SLB apresenta uma diferença pontual considerável para o mais directo adversário.

Acredito que os bons resultados vão aparecer contra o Vitória de Setúbal (3ª jornada), no entanto, devemos estar cientes de que a procissão está na rua e o SLB ainda está no altar.

24/08/2010

O "caso Queiroz"

O "caso Queiroz" dispensa apresentações. Deu suspensão para um mês e novo processo disciplinar baseado das declarações do ainda seleccionador nacional ao jornal "O Expresso".

A minha dedução é que, após o Mundial 2010 na África do Sul, se conjecturaram esforços no seio da Federação Portuguesa de Futebol (F.P.F.) para "correr" com o homem de lá para fora. Como qualquer apreciador de bom futebol, a prestação portuguesa também me deixou um grande amargo de boca, porém, se avaliarmos os factos friamente e, tendo em consideração a história nacional em competições internacionais, ser eliminados nos oitavos-de-final pela actual Espanha não é nenhum escândalo.

O que vem a seguir a isso é bem pior do que qualquer convocatória que conte com jogadores como o Ricardo Costa ou o Zé Castro. Parece-me bem evidente que a actuação dos dirigentes da F.P.F. é de um amadorismo extremo e que, de momento, defende tudo menos a estabilidade que a Selecção Nacional necessita para realizar uma boa fase de apuramento para o Europeu de 2012.

Em última instância, quem sai a perder com esta trapalhada toda é o grupo de jogadores que, quer queiramos ou não, vai representar o nosso país em nova campanha internacional. Enquanto tivermos pessoas a lutar por "sacudir-a-água-do-capote-quando-as-coisas-correm-menos-bem", nunca teremos uma Selecção à altura das nossas ambições.

Reforma na F.P.F. precisa-se!

01/08/2010

Power Balance

Parece que é moda utilizar uma pulseira, designada Power Balance, que ajuda a melhorar o rendimento desportivo e o bem-estar físico e psicológico. Tentei perceber o significado científico da coisa e, regra geral, somente encontrei impressões altamente subjectivas como "melhora o equilíbrio e a confiança", "as pessoas conseguem dormir melhor" ou "promove o aumento da flexibilidade".


Numa pesquisa mais aprofundada, confirmei o meu raciocínio sobre o adereço, pois as investigações científicas realizadas, a mais recente em Maio pelo Instituto Politécnico de Madrid, revelaram que os efeitos da pulseira não foram significativos ao nível do equilíbrio do corpo. Na perspectiva de Frederico Varandas, especialista em Medicina Desportiva, estas pulseiras são como as do reumático (Tucson), não constituindo uma forma de doping precisamente porque manifestam falhas nos fundamentos científicos que a suportam.

Ainda assim, é indiscutível o efeito psicológico - efeito placebo - que podem apresentar na realização de algumas actividades físicas, desportivas e quotidianas. Portanto, não há evidências que confirmem que os 38 Euros que pedem pela pulseira traduzam, inequivocamente, um bem adquirido.

Receitas simples para problemas complexos merecem sempre que nós desconfiemos dos resultados miraculosamente anunciados.

23/07/2010

Não é preciso ser daltónico...

A nova bola oficial - Jabulani - da Liga Portuguesa é, como sabem, cor de laranja. Antes do evento começar já se negoceia a alteração da cor do móbil para tons mais claros, pois, alegadamente, um grupo de indivíduos daltónicos se insurgiu contra a eventualidade de assistir aos jogos sem discernir a posição do "esférico".

Dos (poucos) jogos que observei, não só tive imensa dificuldade para acompanhar a progressão da bola no campo, como também me apercebi que não era o único a constatar tal imbróglio.

Das duas, uma: ou vi as partidas na companhia de sujeitos que, tal como eu, são daltónicos; ou então a cor da bola é um erro crasso de "marketing" pela Adidas e, sobretudo, pelos agentes desportivos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional. Pergunto-me como é possível não se ter testado um factor tão básico quanto é a qualidade da imagem para o telespectador. Ao fim e ao cabo, não são os telespectadores que consomem e pagam grande parte da indústria do futebol de alto rendimento? Em épocas em que se vendem transmissões HD ou em 3D, isto ainda me parece mais inadmissível.

Convém que se espere pelo inverno para introduir a Jabulani laranja nas terras mais altas. Até lá, metam a bolinha branca que o povo agradece.

11/07/2010

A tristeza de uns é a felicidade dos outros...

Foto: Iniesta comemora o golo da vitória espanhola (fonte: A BOLA).

Parabéns à Espanha pela conquista do Campeonato do Mundo da África do Sul (2010). Venceram bem; foram os melhores. Xavi e Iniesta? Uma alegria ver estes senhores a jogar futebol. Tão simples, bonito e eficaz.

"Rodriguinhos", para quê?

09/07/2010

A Sobrevalorização da Estatura no Futebol

Anualmente, quantos miúdos não são postos de lado no futebol só porque são pequenos? Apesar de sabermos que o talento desportivo não se associa estritamente às dimensões corporais das crianças/jovens, creio que os processos de detecção/selecção ainda valorizam, excessivamente, a variável estatura. Não é de agora, é uma tendência que se arrasta há décadas.

Contrapondo os argumentos de que os jogadores mais altos são mais fortes e, eventualmente, melhores do que os outros, eis a lista dos 10 nomeados para o troféu "Bola de Ouro" no Mundial 2010, na África do Sul.

A estatura média dos nomeados para melhor jogador da competição é cerca de 1 metro e 77 centímetros, ou seja, um número que não nos permite sequer valorizar as dimensões corporais dos jogadores. Curiosamente, os jogadores mais criativos da lista até são os que possuem menor estatura.

Recomendação para o treinador:

Há muitas variáveis que influem na detecção/selecção de talentos desportivos. A estatura não é, nem de perto, nem de longe, a mais decisiva para que um jogador possa exibir um rendimento superior em situação competitiva. Assim, é importante que se deixe de sobrevalorizar este aspecto, em detrimento de outros como a capacidade de "leitura do jogo", o domínio de habilidades motoras específicas, ou o interesse e a motivação manifestados para a prática da modalidade.

06/07/2010

Medida Anti-Crise

Em tempos onde a crise é raínha, surgindo o gasoléo e manutenção dos carros com valores exorbitantemente elevados, nada melhor do que trocar de veículo nas pequenas voltas urbanas. A ida à Decathlon concretizou uma medida anti-crise que espero que venha a trazer frutos no imediato.


Para além disso, sempre se queimam mais umas calorias e se trabalha também para a saúde. O pacote completo, portanto!

30/06/2010

Balanço dos "Navegadores" na África do Sul

A selecção portuguesa quedou-se pelos "oitavos-de-final" no Campeonato do Mundo da África do Sul (2010). Quando se joga contra uma poderosa Espanha, temos de estar preparados para qualquer resultado. Neste caso, julgo que os "nuestros hermanos", para além de jogarem um futebol muito agradável, justificaram plenamente o triunfo.

Apesar disso, esta participação portuguesa deixou-me um grande amargo de boca, pois ocorreram uma série de episódios que não podemos ignorar. Desde as opções de Carlos Queiroz, até à falta de liderança que me pareceu notória, foram surgindo alguns indícios que evidenciaram que algo não estava bem no seio da "nossa" comitiva. A este respeito de nada me valerá esmiuçar dramas ou polémicas. Deixarei esse capítulo para os jornalistas. Farei, isso sim, uma breve análise individual da prestação de cada um dos jogadores que integrou a selecção nacional no evento.

Foto: Equipa inicial no Portugal - Coreia do Norte (7-0).

1) Eduardo: Um dos melhores da equipa neste Mundial. Esteve seguro entre os postes e mostrou que, de facto, merece ser o n.º 1 da selecção portuguesa. Para mim, foi o melhor elemento do jogo no confronto com a Espanha.

2) Bruno Alves: O defesa central do FC Porto revelou bastante competência nas suas missões defensivas, jogou prático e não comprometeu nas acções de construção de jogo. Ofensivamente, não foi aproveitado em situações de bola parada.

3) Paulo Ferreira: Apenas jogou a Costa do Marfim. É competente a defender, embora apresente algumas limitações na exploração do corredor em processo ofensivo. Acredito que a sua inclusão no onze diante da Espanha fosse benéfica para a equipa portuguesa.

4) Rolando: Não jogou no Campeonato do Mundo de 2010.

5) Duda: É um bom jogador, mas não o suficiente para integrar uma selecção nacional. Não tem competência para jogar a lateral esquerdo. Frente ao Brasil mostrou que é um jogador perfeitamente banal e que não acrescenta nada a Portugal.

6) Ricardo Carvalho: Um senhor no eixo do sector defensivo. A sua capacidade de "ler" o jogo é sublime. Além de interceptar e de desarmar como nenhum outro na equipa, inicia a etapa de construção de jogo, invarialvelmente, de forma acertada. Na minha opinião, é o jogador "mais-que-perfeito" para ser o capitão da equipa.

7) Cristiano Ronaldo: A decepção! A solidariedade do jogador para com os companheiros é precária. Deixou, sistematicamente, a Espanha usufruir de situações de 2x1 nos corredores laterais, porque nunca apoiou os defesas laterais. Nas inúmeras bolas paradas que só ele marcou foi totalmente inconsequente. Com equipas de maior calibre, em que é fulcral jogar apoiado e procurar combinações tácticas rápidas com os companheiros de equipa, recorreu preferencialmente a soluções individuais. Não tem perfil para ser o capitão de equipa.

8) Pedro Mendes: Uma surpresa agradável. É um jogador muito interessante na cobertura dos espaços no sector intermediário. Peca ao não conceder profundidade ao jogo da equipa, pois utiliza bastante o passe lateral. Ainda assim, julgo que é melhor opção para a posição 6 do que o Pepe.

9) Liedson: Contra a Costa do Marfim foi antecipado em 90% das situações em que foi solicitado. Marcou um golo de plena oportunidade perante a pior equipa do Mundial. Não concordo com a sua inclusão na selecção portuguesa. É tempo de procurar um substituto para este jogador.

10) Danny: Esperava muito mais do jogador no Mundial. Não passou mesmo de uma "promessa adiada". As suas características tornam-o mais competente em zonas interiores. A jogar sobre os corredores laterais pouco faz uso da sua habilidade para desequilibrar o sector defensivo adversário.

11) Simão: Não é o jogador que estavamos habituado a ver no SL Benfica. Já não é tão rápido como de antes e, por isso, não arrisca tanto nas situações de 1x1. Necessita de jogar mais apoiado e, face ao estilo de jogo adoptado, acabou por perder preponderância na equipa.

12) Beto: Não jogou no Campeonato do Mundo de 2010.

13) Miguel: Em primeiro lugar, parece-me que precisa de perder uns quilos. Depois do jogo com a Coreia do Norte, não percebi porque não figurou no onze contra a selecção canarinha. Com a sua idade, pode muito bem ter sido a despedida da equipa de Portugal. Jogadores com o José Bosingwa ou o João Pereira são, sem dúvida alguma, os mais indicados para preencher a sua vaga.

14) Miguel Veloso: Não foi um jogador muito utilizado, mas apresenta competência para actuar na selecção portuguesa. É exímio no passe, remata muito bem de longe e possui uma capacidade de leitura do jogo acima da média. Deve melhorar as suas acções defensivas para poder chegar ao topo do futebol mundial.

15) Pepe: Não acrescentou nada à "nossa" equipa. A sua chamada para o Mundial 2010 foi extremamente forçada, pois não se pode exigir a um jogador que, após seis meses de ausência, compita na maior competição internacional sem adquirir o ritmo e a confiança necessárias para estar a 100%. No sector intermediário não é uma mais valia para a equipa em processo ofensivo. Falta-lhe qualidade no passe e criatividade para poder ser útil depois de recuperar a posse de bola.

16) Raúl Meireles: Confesso que não sou um apreciador nato deste jogador. Na minha perspectiva, falta-lhe criatividade e capacidade técnica para ser um jogador fantástico. Apesar disso, admiro a sua verticalidade, a simplicidade com a aborda as diversas situações de jogo e o modo como cumpre as suas missões tácticas. A sua prestação foi bastante positiva.

17) Rúben Amorim: Jogou pouco mais de cinco minutos com a Costa do Marfim. Nesse período foi dos poucos que tentou realizar combinações tácticas ofensivas, no intuito de desequilibrar a organização defensiva adversária. É um jogador polivalente e que pode ser muito útil para a selecção nacional no futuro.

18) Hugo Almeida: Gostei do seu trabalho. É um avançado batalhador, que aparece muito bem na grande área e quando tem que defender, fá-lo sem problemas. Embora não seja um atacante de excelência, é dos melhores que temos por Portugal. Creio que o motivo da sua saída contra a Espanha se prende com a inoperância do Cristiano Ronaldo em fechar o corredor que ocupava, daí passar a vedeta do Real Madrid para o meio e entrar o Danny para a esquerda.

19) Tiago: O melhor do meio-campo no Mundial. É um jogador talentoso, que aparece facilmente em zonas de finalização e o que melhor soube procurar a bola e dar continuidade ao processo de construção do jogo da equipa. A selecção não pode abdicar da qualidade e da inteligência deste jogador.

20) Deco: O "flop" da equipa. A época e as declarações que fez não justificaram em nada a sua chamada para o Mundial. Já não é metade do que era. Adeus, obrigado e até sempre.

21) Ricardo Costa: O jogador não tem culpa de o colocarem a jogar a lateral direito. Não tem rotinas na posição, sentiu imensas dificuldades perante o David Villa e, simplesmente, não dá profundida à equipa pelo seu corredor. A antítese do que deve ser um lateral moderno. Permitam-me uma ironia; a sua expulsão coroou os belíssimos desempenhos que efectuou na equipa nacional.

22) Daniel Fernandes: Não jogou no Campeonato do Mundo de 2010.

23) Fábio Coentrão: A revelação! A par de Eduardo e Ricardo Carvalho foi dos melhores portugueses na África do Sul. Extremamente eficaz nas missões defensivas e muito competente nas suas acções ofensivas. Ao invés do Ricardo Costa é o exemplo do que deve ser um lateral moderno.

Estas apreciações são puramente subjectivas e resultam das minhas observações enquanto espectador de futebol. Não estou à espera que sejam consensuais com outras perspectivas, nem tão pouco imagino que alguma vez venham a ser lidas por alguém responsável pela equipa. Ainda assim, devo ressalvar que, de acordo com a oposição que Portugal teve, chegar aos "oitavos-de-final" não deve ser encarado como um escândalo. No seu trajecto de quatro jogos, a "nossa" formação encontrou apenas as duas selecções melhores cotadas pela FIFA: Brasil e Espanha.

Meus caros, contigências do sorteio.

26/06/2010

As bolas paradas do Cristiano no Mundial 2010

Entre outras opções estratégicas que me fizeram confusão no recente duelo Portugal 0 - 0 Brasil, o modo como a selecção nacional executou as bolas paradas no meio-campo ofensivo ficou no topo da minha incompreensão. As situações de bola parada são frequentemente decisivas em jogos desta natureza (i.e., equilibrados), por isso, é missão da equipa técnica explorar soluções para tirar o máximo proveito dessas circunstâncias.

Foto: Cristiano volta a marcar posição para ser ele a bater o pontapé livre.

Será que colocar o Cristiano Ronaldo, jogador que na minha opinião trabalha mais para a sua imagem do que para a equipa, a bater pontapés livres directos a 40 metros da baliza é a melhor solução? Qual a probabilidade de fazer um golo ao Júlio César desta distância? Decerto que é muito reduzida. Provavelmente, se a "equipa-de-todos-nós" tivesse procurado efectuar cruzamentos para o interior da grande área brasileira, onde poderiam aparecer jogadores como o Bruno Alves, Pepe, Ricardo Carvalho, Ricardo Costa ou o próprio Cristiano Ronaldo, talvez se tivesse criado melhores situações de finalização, ao invés de vermos a bola, invariavelmente, na sua trajectória para a bancada.

Os interesses individuais não se podem sobrepor ao colectivo e essa é, na minha perspectiva, um factor que a selecção nacional vai ter de contornar se quiser ultrapassar a Espanha. Não podemos ver o Cristiano Ronaldo somente a atacar e deixar as tarefas defensivas para os demais colegas de equipa, como também não podemos ver o "capitão" amuado pelo facto de a equipa técnica não o deixar bater todos os pontapés livres, a partir do meio-campo para a frente, directamente para fora.

Que fique bem claro que não tenho nada contra o Ronaldo. É um jogador espectacular e muito importante na equipa. Contudo, não concordo que seja o capitão (a braçadeira ficaria melhor entregue ao Ricardo Carvalho), que não cumpra tarefas defensivas e que marque todo e qualquer pontapé livre no sector ofensivo só porque já foi eleito o FIFA World Player of the Year.

13/06/2010

Futebol 11: Um regresso ao passado

Na entrada do século XXI, a maioria das associações regionais de futebol adoptou o Futebol 7 como o contexto competitivo primordial para os escalões de formação de base. Tarde se percebeu que o Futebol 11 era uma situação competitiva que apresenta inúmeras desvantagens para a formação de crianças/jovens na modalidade: o número de vezes que os aprendizes intervêm sobre a bola é reduzido, o número de remates executados é irrisório, a construção de jogo fica extremamente dependente das capacidades físicas dos miúdos mais desenvolvidos, entre outras. Até na marcação de pontapés de canto é vulgar observar um jogador a levantar a bola para outro chutar para o interior da grande área.

A perspicácia e a sensatez de alguns ilustres e a força das conclusões de investigações no âmbito na análise do jogo nos jogos reduzidos, permitiu compreender que o Futebol 7 seria a condição de jogo mais favorável para a aquisição e o aperfeiçoamento de competências táctico-técnicas específicas na base da pirâmide evolutiva da formação. Esta forma competitiva possibilita que as crianças/jovens se relacionem mais com a bola em contexto de jogo, efectuem um maior número de acções de finalização e se envolvam com maior frequência em missões defensivas.

Foto da autoria de Pedro Inácio.

É, portanto, uma variante de jogo adaptada às características dos jovens praticantes e que augura um maior potencial formativo. A própria dinâmica do jogo é muito mais aproximada à observada no jogo de Futebol 11 dos adultos. Apesar disso, e negligenciando todas as evidências teóricas e empíricas existentes sobre a matéria, alguns técnicos e dirigentes pertencentes à Associação de Futebol do Algarve acharam "interessante" e "benéfico" voltar a propor o Futebol 11 aos clubes inscritos no escalão de Infantis (Sub-13). Segundo apurei, o pretexto na base da proposta relacionou-se com a "maior facilidade de adaptação dos jovens ao Futebol 11".

Na minha perspectiva, não é mais do que queimar etapas no processo de formação, fomentando a especialização precoce. É importante que se entenda que a formação não se faz no curto prazo; é preciso tempo para adquirir, desenvolver e consolidar competências. Do escalão de Infantis (Sub-13) até aos Juniores (Sub-19) é tempo mais do que suficiente para que os jovens se adaptem às exigências do Futebol 11. Felizmente, parece que a proposta preconiza a opção de continuar a competir no Futebol 7 para os clubes que assim o entendam. Haja alguma ponta de bom senso no meio deste retrocesso.

Do mal, o menos!

09/05/2010

RESERVADO para... 9 de Maio?

Não foi apenas no Marquês de Pombal (Lisboa) e na Avenida dos Aliados (Porto) que apareceram faixas "Reservado" colocadas pelos adeptos do Sport Lisboa e Benfica. Também em Monchique, no Largo dos Chorões, se fez valer a fé dos sócios e simpatizantes do clube na conquista da Liga Sagres - Época 2009/2010.

Figura: Local reservado pelos adeptos do SLB em Monchique (Largo dos Chorões).

É importante que esta ansiedade seja convenientemente gerida pelos jogadores e pela equipa técnica, porque se é bem verdade que o SLB tem todas as hipóteses para festejar, também são reais as possibilidades de desilusão. Apesar disso, eu creio que, no fundo, o que os adeptos do glorioso queriam mesmo era comemorar em força no dia 9 de Maio. Para a grande maioria é um dia como qualquer outro; para mim, tenho-o como um dia muito especial.

Será um enorme orgulho comemorar a conquista da Liga Sagres 2009/2010 no dia do meu 27º aniversário.

Força BENFICA!

08/05/2010

A chave para o sucesso do Barcelona

O futebol consiste numa dinâmica relacional assente na confluência de uma dimensão mais previsível (leis e princípios de jogo), com outra menos previsível (autonomia decisional dos jogadores) e que deve ser equacionada mediante a adversidade e a peculiaridade dos acontecimentos (Garganta, 2005).

A coesão do grupo de jogadores que constitui um plantel é um factor essencial para alcançar o sucesso desportivo. Nesse sentido, o modo como os jogadores cooperaram para atingir objectivos comuns é uma determinante do rendimento muito explorada pelos treinadores. Ora, actualmente, parece ser mais ou menos consensual que o Barcelona é a melhor equipa do mundo ou, pelo menos, pratica o melhor futebol do planeta. Porém, será que um bom conjunto de "craques" é suficiente para formar uma equipa extraordinária? Como se treina em Camp Nou? O que se incute?

Figura: Ibrahimovic e Piqué apanhados numa animada troca de carinhos.

As evidências sugerem que a essência dos desempenhos dos catalães reside na forma como os jogadores lidam uns com os outros e isso, de facto, transcende os limites do vulgar, do ortodoxo e da normalidade.

Acima de tudo, haja respeito!

Referência Bibliográfica: Garganta, J. (2005). Dos constrangimentos da acção à liberdade de (inter)acção, para um futebol com pés... e cabeça. In D. Araújo (Ed.), O contexto da decisão - A acção táctica no desporto (pp. 179-190). Lisboa: Visão e Contextos.

03/05/2010

3º Seminário de Futebol Infanto-Juvenil, 10-Jun-2010 (Porto)

Para quem se interessa pela formação de jovens desportivas, nomeadamente no futebol, eis uma boa oportunidade para aprender e discutir ideias com alguns profissionais conceituados nesta área.

Caso pretenda mais informações, clique aqui.

23/04/2010

Confusão conceptual: Estratégia vs. Táctica

Qualquer adepto e telespectador de futebol encontra-se familiarizado com expressões do género: "o treinador deu a táctica", "é um jogo muito táctico" ou "as equipas estão encaixadas uma na outra". Na realidade, isto acaba por ser música para os nossos ouvidos e é, por isso mesmo, que comentadores como o Rui Santos são pagos para, supostamente, analisar o jogo.

É até demasiado frequente assistirmos à confusão conceptual que é o uso do termo "Táctica", quando, no fundo, se pretende aludir ao conceito de "Estratégia".

Passo a explicar, a táctica diz respeito, em última instância, às acções executadas pelos jogadores no intuito de solucionar problemas contextuais do jogo (por exemplo, a realização de uma cobertura defensiva a um colega de equipa a cumprir o princípio da contenção ou a execução de um passe de ruptura, aproveitando a desorganização do processo defensivo adversário). Antes da acção propriamente dita, pressupõe o funcionamento de mecanismos afectos à leitura do jogo e, eventualmente, à tomada de decisões.

Por sua vez, a estratégia está relacionada com a organização dos procedimentos subjacentes à preparação do jogo e que visa a obtenção de sucesso em competição. A estratégia é implementada pelo treinador, por forma a rentabilizar a performance dos jogadores e da equipa, neutralizando os pontos fortes do adversário e explorando as suas fraquezas. Numa dimensão temporal, a estratégia processa-se previamente ao jogo, enquanto a táctica emerge no decurso do mesmo.

Portanto, são conceitos distintos e facilmente identificáveis no fenómeno desportivo. O sistema de jogo de uma equipa (por exemplo, 1x4x4x2) não é mais do que parte da estratégia adoptada pelo treinador e partilhada com os jogadores; as opções tomadas em competição pelos jogadores são, por seu turno, aspectos tácticos do jogo e são fruto do contexto em que surgem.

Knights of Cydonia

Aquele concerto que falta... MUSE.

E com uma mensagem para a Humanidade:

"How can we win, When fools can be kings?"

03/04/2010

"One-Touch Playing": um meio para potenciar o sucesso da posse de bola

Segundo Lemoine, Jullien, & Ahmaidi (2005), o futebol moderno tem especial consideração pelas estratégias defensivas, pelo que os atacantes têm menos espaço livre e, consequentemente, marcar golo torna-se, progressivamente, mais complicado. Nesta linha de raciocínio, os autores sustentam, após a análise e observação de jogos reduzidos, que recorrer ao "jogo a um toque" ("one-touch playing") permite que os atacantes joguem mais depressa e, por inerência, possam ultrapassar os defensores antes de rematar para golo.

Mais concretamente, o propósito do estudo de Lemoine et al. (2005) foi investigar um estilo de jogo frequente no futebol, que consiste na execução de passes sem tempo para controlar a bola. Na perspectiva de Herbin & Rethacker (1976; citados por Lemoine et al.), jogar a um toque "implica modificar, instantaneamente, a trajectória da bola em direcção a um companheiro de equipa, através da realização de um passe com a bola em movimento" (2005: 83). Embora tenham sido identificados três tipos de informação: espacial, de acção e temporal, apenas nos iremos debruçar sobre a informação espacial, que se refere à direcção na qual a bola é passada. O estudo envolveu jogos reduzidos 5 contra 5, num espaço de 50x25m, durante 4 minutos e com a obrigatoriedade, somente para uma equipa, de jogar a um toque. Esta opção estratégica apresenta uma complexidade superior a combinações "um-dois" ou "um-dois-três" toques, sendo um passe contabilizado quando é realizado com êxito, isto é, quando permite à equipa continuar a jogar a um toque.

Posto isto, Lemoine et al. (2005) analisaram 40 ataques e os resultados, estatisticamente significativos, demonstraram que os atacantes constroem um "espaço efectivo de jogo" que garante a simplicação da comunicação entre eles. Na organização do processo ofensivo, os atacantes dão várias possibilidades, quer atrás ou à frente, ao portador da bola, movendo-se em simultâneo. O facto de em 67,5% dos casos não existir modificação do tipo de ataque entre dois momentos, evidencia que os atacantes mantêm estruturas espaciais seguras para circular a bola até ao remate. Então, produzem uma redundância evolutiva no ataque, podendo o jogo a um toque desenrolar-se em frente aos defensores, devido à estabilidade informacional e espacial. Os atacantes criam uma circulação rápida e constante a um toque que permite ultrapassar a organização defensiva adversária. Portanto, este tipo de jogo é caracterizado por uma rápida transmissão espacial da bola, a qual é antecipada, optimizada e estabilizada. O jogador que não está em posse da bola antecipa o seu posicionamento para fomentar a evolução da sequência ofensiva a um toque, passando a bola de forma instantânea.

Para além disso, Lemoine et al. (2005) verificaram que, para chegar à baliza, a combinação de jogo a um toque implica uma circulação de bola a duas etapas: 1) a primeira é regular entre T3 (primeiro passe a um toque) e T1 (terceiro passe a um toque), que corresponde à construção de jogo, mantendo a estabilidade do espaço efectivo de jogo e 2) a segunda que é muito curta (T1) e expõe uma modificação radical de ritmo, uma aceleração que permite ao ataque ultrapassar a defesa de uma vez por todas e que, por ocorrer com um passe instantâneo, suprime as possibilidades de reorganização defensiva adversária (figura 1). Ao medir a informação espacial, os autores apuraram que, durante a acção de finalização, a defesa está frequentemente em perseguição, pois não consegue preencher o espaço e o défice de tempo imposto pelo ataque contrário.

Figura 1. Modelo de jogo a um toque ("one-touch playing"). A1: atacantes próximos a privilegiar a largura; D1: defensores próximos cobrindo a largura; D3: defensores dispersos em profundidade (Lemoine et al., 2005).


Num jogo com toques ilimitados na bola, a segunda etapa do ataque é fortemente influenciada pela improvisão dos jogadores não afectos a soluções pré-estabelecidas. Como meio de treino, o jogo a um toque é uma escolha muito interessante, pois não modifica as leis operativas do jogo aquando da criação de situações de finalização. Os atacantes utilizam os mesmos princípios tácticos para se libertarem das marcações adversárias e se dirigirem à bola, no intuito de antecipar as acções dos defensores.

Por outro lado, a análise da circulação da bola mostra que a distribuição dos espaços explorados é praticamente estável. Os atacantes passam a bola quase sempre na mesma direcção com rotinas idênticas, ou seja, do ponto de vista técnico, o movimento da bola depende de acções sistemáticas de passe na direcção oposta do passe precedente, privilegiando um "jogo oblíquo" a um "jogo directo" (Lemoine et al., 2005). Estes resultados confirmam um dos sentimentos dos treinadores, quando afirmam que os jogadores devem "construir passes que não são apenas uma transmissão da bola, mas que, face à confusão que geram no sistema adversário, modificam o cariz do jogo " (Laurier, 1993; citado por Lemoine et al., 2005: 100). Os dados corroboram ainda a perspectiva do "conhecimento do terreno de jogo" descrito por Mombaerts (1991), citado por Lemoine et al., ao referir que quando "a bola circula rapidamente, sistematicamente e com movimentos multi-passe de um jogador para um parceiro de equipa, os defensores aparentam serem incapazes de tomar uma decisão e de ler as acções ofensivas que se associam demasiado depressa" (2005:100).

Sumariamente, Lemoine et al. (2005) concluíram que jogar a um toque é eficiente, fiável e seguro. Os atacantes organizam-se a si próprios para alterar as estruturas espaciais ao mínimo, sendo que os seus movimentos modificam ligeiramente o espaço efectivo de jogo e são, essencialmente, orientados na direcção da baliza. Tudo é feito para que, dentro de um contexto estável, criado e mantido pelos atacantes, a bola circule sistematicamente para um companheiro de equipa, na direcção oposta ao movimento do adversário, o que a torna difícil de reconquistar pelos defensores. O recurso ao passe a um toque permite a simplicação da troca de informação entre companheiros de equipa. O ganho de tempo é também amplificado pelo imediatismo do passe, o qual incrementa o potencial de penetração dos atacantes na organização defensiva adversária. Quando os atacantes seleccionam o jogo a um toque numa configuração momentânea de jogo, aderem a "um autêntico projecto colectivo de jogo", que requer a antecipação da tomada de posse dos espaços livres para que se estabeleça uma circulação constante, sistemática e contra o movimento da defesa, recorrendo a informações muito claras e elementares derivadas de um jogo simplificado.

Referência Biliográfica: Lemoine, A., Jullien, H., & Ahmaidi, S. (2005). Technical and tactical analysis of one-touch playing in soccer: Study of the production of information. International Journal of Performance Analysis in Sport, 5(1), 83-103.

09/03/2010

Da Ginástica à Culinária em meio-tempo

A ginástica é uma matéria não muito apreciada pela maioria dos alunos de Educação Física, especialmente quando não apresentam determinadas competências básicas adquiridas. Nas turmas do 1º Ciclo que lecciono esse facto não se verifica. Os miúdos gostam mesmo de ginástica.

Numa aula recente de Actividade Física e Desportiva do 3º ano constavam as matérias de basquetebol e ginástica. Na instrução do circuito questionei os alunos sobre os elementos gímnicos que o compunham. Os alunos rapidamente identificaram os rolamentos à frente e à retaguarda, a roda, a ponte e o salto ao eixo, contudo instalou-se a dúvida sobre qual seria o último elemento abordado na aula anterior. Após um brevíssimo período de silêncio, uma aluna ergueu subitamente a voz:

- "Ahh, já me lembro!"

- "Ok, então qual é o elemento?"

Com o dedo indicador em riste, a aluna disparou triunfalmente: - "É a cambalhota salteada!"

Da ginástica havíamos passado para um restício de memória de um qualquer "salteado" perdido nos confins dos lobos temporais do seu cerébro. As crianças são mesmo assim: evocam aquilo que está "à mão de semear". Aos colegas passou-lhes completamente ao lado; nem uma ténue reacção. Provavelmente ainda não experienciaram nem ouviram falar de legumes salteados.

E assim continuámos num rol de cambalhotas para a frente, para a retaguarda e saltadas, "salteadas" num mundo ingénuo, onde só as crianças conseguem ser genuinamente engraçadas.

26/02/2010

O Cuidar de Ser ou Não Ser

Há tempos, um professor afirmou que todos os seres humanos têm um (ou mais) núcleo(s) de excelência (por exemplo, pintar, jogar andebol, tocar bateria, resolver problemas matemáticos, etc.), porém é frequente não serem desenvolvidos ou estimulados por este ou aquele constrangimento.

Já eu acredito que por muito bons que possamos e/ou pensamos ser numa determinada actividade (nem que seja a jogar berlinde no quintal do Tio Alfredo), há sempre por aí alguém melhor do que nós.

Andar com os pés bem assentes no chão, não deixa de ser uma medida bem prudente para evitar quedas desnecessárias.

12/02/2010

A paixão pelo jogo

Muitos são aqueles que gostam de futebol, mas poucos são os que verdadeiramente se apaixonam pelo jogo. A paixão pelo jogo traduz-se não apenas na forma de estar na modalidade, como também fora dela.

Exemplo disso, foi o que um aluno da Escola EB 2,3 de Monchique, também ele jogador da equipa Sub-13 do Juventude Desportiva Monchiquense, escreveu numa aula de Língua Portuguesa. Passo a citar:


VIVER O FUTEBOL
Nasci para a bola jogar,
O Futebol é a minha vida!
Um lindo sonho sonhado
É um golo bem marcado.

Ouço o "mister" com atenção
Para na baliza acertar,
Bate forte o coração,
Tento um bom golo marcar.

Gooolo! Gooolo!
Que bela palavra mágica!
De feliz, fico tão tolo,
Que faço figura trágica!

E se o golo festejar,
Devo sempre recordar,
Que para bem saber jogar,
Tenho de me empenhar.

Para ser bom jogador,
Devo ter habilidade,
Mas para ser de valor,
Tenho de ter humildade.


Nota: Publicado com o consentimento do autor José Mário Nunes Conceição.

03/02/2010

"Carolice" ou "chulagem"?

O clube cá da terra - JD Monchiquense - vai, arrisco-me a dizer, de "vento em pompa" no que ao futebol diz respeito. Contrariando o despovoamento que o concelho de Monchique tem vindo a sofrer, a direcção do clube e os seus colaboradores (delegados, adjuntos e treinadores) conseguiram formar, na presente época 2009/2010, seis equipas competitivas (Escolas B/Sub-10, Escolas A/Sub-11, Infantis/Sub-13, Iniciados/Sub-15, Juvenis/Sub-17 (futsal) e Séniores) e uma equipas de veteranos.



Nunca na história do clube, fundado em 14-11-1963, houve tantas crianças, jovens e adultos envolvidos no fenómeno desportivo local. Porém, como em qualquer pequena terra que se preze, surgem sempre inúmeras más línguas. De entre os rumores e os boatos que se ouvem em surdina, tal não foi o meu espanto quando me contaram que se diz que os colaboradores só estão no clube porque recebem balúrdios (entenda-se por balúrdios mensalidades a rondar os 200 Euros).

Ora, qualquer pessoa mais atenta em Monchique sabe que, infelizmente, o JDM atravessa graves dificuldades financeiras. A política da actual direcção tem sido pautada por duas linhas orientadoras: (a) reduzir o passivo e (b) apostar nos escalões de formação. É natural que o pouco dinheiro que há seja canalizado para cumprir estes intentos, embora fiquem sempre outras despesas básicas por saldar. Face a esta conjectura, não só os colaboradores não recebem há algum tempo, como as respectivas remunerações nada têm a ver com os "balúrdios" acima mencionados.

A ilação que se pode tirar destas "bocas" infundadas é que a "carolice" e a boa vontade das pessoas têm um preço a pagar e esse, indubitavelmente, é nefasto para quem não quer mais senão contribuir para a formação cívica e o desenvolvimento desportivo de todos aqueles que aprendem, evoluem e jogam no "nosso" Monchiquense.