Hoje em dia, a expressão
«ritmo de jogo» é amplamente utilizada no futebol. Ainda que frequentemente não
seja empregue com critério, surge associada à velocidade de circulação da bola,
à velocidade de deslocamento dos jogadores, à velocidade de
progressão/recuperação posicional da equipa no terreno de jogo e, claro está, à
sobejamente conhecida intensidade de jogo.
O ritmo de jogo em si,
por ser mais complexo, não é sinónimo de nenhum dos parâmetros
supramencionados. Uma equipa pode circular rápido a bola e a velocidade de
deslocamento dos seus jogadores ser baixa, por exemplo, numa situação de
superioridade numérica. Nesta mesma lógica, uma equipa pode circular rápido a
bola no meio-campo defensivo, no intuito de manter a posse de bola, e
praticamente não haver progressão do coletivo no espaço de jogo. Portanto, o
ritmo de jogo é um estado temporário de um sistema (jogo) que congrega duas
equipas e que reúne a interação de variáveis de índole tática, técnica,
fisiológica e, até mesmo, psicológica.
Imagem: Luka Modric, um jogador exemplar na gestão dos ritmos de jogo. (fonte: bleacherreport.com). |
Para efeitos práticos, o
treinador deve preparar a sua equipa para gerir da melhor maneira os ritmos de
jogo: «Quando, como e por quê acelerar? Diminuir o ritmo com que objetivo?».
Para que isto suceda, os jogadores devem exercitar relações de cooperação e
oposição no treino, através de jogos reduzidos/condicionados e formas jogadas,
com a particularidade de serem estimulados a agir/decidir com inteligência. Na
minha perspetiva, agir/decidir inteligentemente pressupõe: (i) nunca esquecer os objetivos
primordiais do jogo (marcar golo na baliza adversária e evitar que o adversário
introduza a bola na nossa baliza); (ii)
perceber com celeridade o que o envolvimento oferece/possibilita (ler o
jogo); (iii) dar qualidade às
relações estruturais e funcionais pretendidas pelo treinador; (iv) compreender a natureza e as
circunstâncias inerentes à competição em curso (campeonato, taça, eliminatória
a duas mãos, etc.); e, (v) respeitar
sempre a equipa adversária e o público presente no campo/estádio.
Finalizo com a
demonstração prática daquilo que, para mim, é uma gestão inteligente dos ritmos
de jogo:
Aos 71 minutos (a 9 do
final do tempo regulamentar), a equipa branca vencia por uma diferença de golos
confortável, num jogo de campeonato distrital de juvenis. Após a recuperação da
posse no meio-campo defensivo, a bola é colocada no guarda-redes no sentido de
abrandar o ritmo de jogo. O guarda-redes opta por variar o centro de jogo e coloca
a bola no lateral esquerdo; este último é forçado a atuar de imediato, perante
a pressão defensiva do adversário e fá-lo com um passe correto ao primeiro
toque. Gera-se uma potencial situação de combinação tática direta e dá-se uma aceleração
considerável do ritmo de jogo pelo corredor esquerdo. O processo ofensivo termina
em golo.
O controlo do jogo passa
por isto: saber alterar os ritmos de jogo, em função dos constrangimentos impostos
pela equipa adversária, mas tendo sempre como referência o objetivo da
modalidade: o golo.
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